José Álvaro Cardoso

Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Economia Rural pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Ciências Humanas pela UFSC. Trabalha no DIEESE.

Coluna

A influência do capital financeiro sobre a economia brasileira

No Brasil, entre as 10 maiores empresas por capitalização de mercado em 2025, 5 são bancos: pela ordem, Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Nubank e BTG Pactual

A chamada financeirização da economia impacta o desenvolvimento de todos os países do mundo, com suas singularidades nacionais, independentemente de sua posição na ordem econômica internacional. O fenômeno não se manifesta apenas através do endividamento do Estado, mas também em decorrência de vários outros aspectos sociais e econômicos, como a reestruturação do mundo do trabalho, o aumento das desigualdades, o endividamento das famílias, a deterioração dos serviços públicos etc.

Há nessa fase um predomínio dos mercados financeiros sobre a produção. As empresas, mesmo as industriais, cada vez mais, têm como base de seus lucros as operações financeiras (ações, derivativos, títulos etc.), e não a produção ou comércio de bens e serviços. As estratégias empresariais passam a privilegiar resultados financeiros de curto prazo, como a valorização das ações, em vez de investir em longo prazo ou em inovação produtiva. Empresas de setores produtivos passam a adotar estratégias próprias do setor financeiro: recompra de ações, fusões especulativas, operações para maximizar o valor do acionista. As decisões sobre emprego, produção e investimentos acabam se subordinando à lógica financeira, fenômeno que se observa, inclusive, em empresas estatais.

Com base nos dados mais recentes, de 2024–2025, sabe-se que entre as 20 maiores economias (G-20) do mundo, apenas o Brasil e o Canadá possuem cinco entre as 10 maiores empresas do país. O critério utilizado para definir as 10 principais empresas de cada país é o de capitalização de mercado, ou seja, o valor total de mercado de todas as ações em circulação de uma empresa, calculado pelo preço atual da ação multiplicado pelo número de ações emitidas. No G-20, o setor bancário é exageradamente forte entre as 10 maiores empresas de alguns países subdesenvolvidos da lista (Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul). Em economias que formam o núcleo dos países imperialistas, os bancos têm pouco peso entre esse grupo das top 10. Nos EUA, Alemanha, França e Itália, não há nenhum banco entre as maiores empresas e, no Japão, há apenas um banco entre as maiores empresas. As exceções entre os ricos são Canadá, no qual metade das 10 maiores empresas são bancos, e Reino Unido, com 3 bancos entre as top 10. Nos países imperialistas centrais as maiores empresas geralmente são ligadas à tecnologia, saúde ou energia.

No Brasil, entre as 10 maiores empresas por capitalização de mercado em 2025, 5 são bancos: pela ordem, Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Nubank e BTG Pactual. Na lista aparece apenas um banco público, o Banco do Brasil, que é de economia mista. O controle acionário é estatal; a União Federal detém a maioria das ações ordinárias (com direito a voto), mantendo o controle efetivo do banco. Mesmo tendo objetivo de lucro para os acionistas, o banco atua em setores estratégicos, como crédito agrícola, infraestrutura etc.

O peso do sistema financeiro no Brasil está em boa parte relacionado ao sistema da dívida pública. Entre os países do G-20, nenhum gasta tanto com os serviços da dívida quanto o Brasil, nem mesmo a Argentina, cuja economia neste momento corre o risco de colapso em função do endividamento externo. Aliás, a Argentina só tem um banco entre as 10 maiores empresas do país. A presença de 5 instituições bancárias entre as maiores empresas no Brasil, um caso raro no G-20, como vimos, é apenas uma dimensão dessa influência dos bancos na economia brasileira. A verdadeira dimensão da influência dessas instituições se revela quando analisamos suas participações acionárias e presença nos conselhos de administração de empresas produtivas não financeiras. Esses gigantes do setor financeiro exercem uma influência multifacetada e profunda em diversos setores da economia produtiva brasileira.

Os bancos são investidores e, em muitos casos, coproprietários de grandes empresas nos mais variados setores. Muitas instituições financeiras operam com estruturas de holdings ou subsidiárias de investimento que adquirem participações significativas em empresas não financeiras. A profunda interconexão entre o setor financeiro e o produtivo, mediada pela influência dos grandes bancos, impacta a economia brasileira de diversas formas. Por exemplo, a presença dos bancos nos conselhos e por meio de participações acionárias permite que os interesses financeiros influenciem diretamente as decisões das empresas produtivas, em temas como fusões e aquisições, vendas de ativos, expansão de capital, e até mesmo a direção estratégica de produtos e serviços das empresas produtivas.

A força dos bancos no Brasil pode também ser aferida pela influência que possuem nos órgãos de regulação do sistema, a começar pelo Banco Central (BCB). Roberto Campos Neto, por exemplo, ex-presidente do BCB, assumiu no Nubank em julho último, como vice chairman e chefe global de políticas públicas. Quando um grande banco faz uma contratação desse tipo, está emitindo determinada sinalização ao mercado, como a necessidade de ampliar a interlocução com as estruturas de regulação, fundamental para ampliar a gama de produtos e a presença geográfica.

A contratação de ex-secretários do Tesouro, presidentes de bancos centrais, ou altos funcionários de órgãos reguladores é uma prática dos grandes conglomerados financeiros, visando aproveitar o conhecimento e as informações privilegiadas destes profissionais sobre a complexa legislação regulatória e as dinâmicas de política econômica, além da rede de contatos no interior do governo. Para uma grande corporação financeira, a capacidade de antecipar estratégias, possibilitada por essas informações privilegiadas, simplesmente não tem preço.

No caso do Brasil, essa influência grande que o sistema financeiro exerce sobre o Banco Central é ainda mais grave, porque os bancos ganham muito dinheiro com as decisões do BCB, sobretudo no campo da política monetária. Como é conhecido, cada um ponto percentual a mais na taxa básica de juros, a Selic, significa um gasto extra, anual, com juros, por parte do Tesouro Nacional, de cerca de R$ 55 bilhões, desde que essa alta seja mantida por 12 meses e considerando a estrutura atual da dívida. Ou seja, um ponto percentual de elevação da taxa Selic significa um gasto público equivalente a 34% do maior programa social que o Brasil opera e que tira da fome 54 milhões de pessoas, o Bolsa Família.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a deste Diário

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