Tecnologia

A IA será o ressurgimento da arte

A polêmica apocalíptica do progresso foi exumada novamente, e a conclusão é a mesma: o progresso é positivo, sempre.

Com o anúncio da nova versão do chatbot da OpenAI, o Chat-GPT, que agora é capaz de gerar imagens com muito maior precisão e qualidade, inclusive com texto, a polêmica sobre a inteligência artificial voltou a pleno vapor, e vem se colocando cada vez mais frequentemente dia após dia, sempre com tom de horror por parte de muitos setores que se dizem “progressistas” até debaixo d’água, mas não resistem à posição milenarista e profundamente reacionária sempre que têm a oportunidade de se deparar com o progresso.

Estão pipocando em toda a imprensa, nacional e internacional, burguesa e de esquerda, matérias em tom de horror falando sobre a nova revolução da tecnologia. Grandes celebridades como Paul McCartney, Hayao Miyazaki, Guillermo Del Toro, Mark Ruffalo e Scarlett Johanson já deram declarações falando abertamente contra o uso de inteligência artificial e propondo limitar o seu desenvolvimento. O repúdio se apresenta das mais variadas formas, com argumentos morais, argumentos materiais e até ambientais. Apesar de toda a choradeira que ouvimos por todos os cantos, uma coisa uma coisa tem de ficar clara: não podemos nos colocar contra o desenvolvimento.

O desenvolvimento da tecnologia nunca significou um retrocesso para a humanidade. Ele pode se apresentar com efeitos colaterais, mas sempre que houve um novo desenvolvimento técnico, a humanidade de conjunto se beneficiou disso. No caso que vemos aqui, os mais honestos falam do “futuro da arte” e da “morte da criatividade”, ressuscitando a polêmica mais velha da cultura humana: a de que uma inovação vai acabar com alguma forma de cultura. Em todas as situações onde foram inventados novos meios para consumir ou produzir arte, o discurso escatológico cultural reaparece. Quando surgiram os discos de vinil, houve protesto de pessoas que acreditavam que poder ouvir música não sendo ao vivo seria o fim da música. Depois que o vinil se consolidou como meio de massificar a reprodução musical, a polêmica se reinstalou com o advento do rádio, morrendo novamente para ser exumada em seguida com o CD, e antes que pudessem enterrar novamente, ela já empesteava a sala novamente para servir de oposição à musica digital seguida do streaming.

No campo da ilustração, que foi virado de ponta cabeça com o advento da geração de imagens com IA, não foi diferente. A pintura que reinou solitária como maneira de capturar a realidade até a invenção da fotografia, se viu diante da mesma “ameaça” quando surgem os primeiros daguerreótipos, que vão dar origem às câmeras fotográficas. Os reacionários milenaristas argumentaram já naquela época que a fotografia traria para a arte as mesmas desgraças que hoje os profetas do apocalipse digital pregam, sendo estes:

  • Falta de expressão artística: Muitos artistas argumentavam que a fotografia era apenas uma reprodução mecânica da realidade, incapaz de transmitir emoções, sentimentos e subjetividade como a pintura ou a escultura.
  • Ausência de intervenção humana: Diziam que, por ser um processo técnico e automático, a fotografia não envolvia a criatividade e a sensibilidade do artista, sendo vista como um produto da máquina, não da alma humana.
  • Superficialidade estética: Alguns críticos viam a fotografia como algo superficial, que capturava apenas a aparência externa das coisas, sem alcançar a essência, o ideal ou a beleza profunda que a arte tradicional buscava.
  • Desvalorização da técnica artística: A fotografia, por não exigir anos de aprendizado em desenho, perspectiva ou pintura, era vista como uma forma “inferior” de representação visual, que ameaçava banalizar a produção de imagens.
  • Ameaça ao ofício do pintor: Havia o medo de que a fotografia tornasse obsoletos os retratistas, pois ela era mais rápida, barata e acessível, o que gerava uma rejeição baseada em questões econômicas e profissionais.

Pegar argumentos de outra época mostra bem como estamos falando da exata mesma polêmica. Se olharmos na rede social, todos esses argumentos são apresentados por pessoas por toda a parte, sendo uma boa parte dessas genericamente de esquerda. Uma vez que estabelecemos que é uma mesma polêmica, já a muito superada e que está sendo novamente exumada pelos progressistas que não podem ver o progresso sem horror, podemos constatar com tranquilidade que a geração de imagens por IA não só não ameaça a criação de cultura humana, como ela tem o potencial de ser uma nova fronteira a ser quebrada no horizonte do acesso à expressão pessoal e da produção de arte pelo cidadão comum.

A inteligência artificial não só não vai acabar com os artistas, como ela vai instaurar o domínio da pura expressão individual. Hoje, os que falam contra a geração de imagens por IA são aqueles que tratam sua arte como um ganha pão, pervertendo o curso natural da criação artística. Em um mundo onde fazer uma ilustração é tão fácil quanto escrever algumas linhas de texto e apertar um botão, essa forma de arte passará pelo processo que passou a pintura quando surgiu a fotografia: Sua utilidade comercial será exponencialmente reduzida, e seu propósito deixará de ser de uma mera prestação inspirada de serviço, para se tornar única e exclusivamente uma ferramenta da genuína expressão pessoal do indivíduo.

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