A vida de Subhi al-Khadra foi marcada pela resistência ao colonialismo e pela defesa da causa nacional palestina. De sua atuação na Revolta Árabe contra o Império Otomano até sua participação na resistência contra o colonialismo britânico e a invasão sionista, sua trajetória reflete a história de um povo que nunca se rendeu.
Dos estudos militares à Revolta Árabe
Nascido em Safad, na Palestina, al-Khadra recebeu sua educação inicial na escola do Red Zahiri Mosque antes de continuar seus estudos no Salahiyya College, em Jerusalém, e no Maktab Sultani, em Beirute. Com uma formação sólida, ingressou na Academia Militar de Istambul, onde se tornou oficial do exército otomano.
Durante a Primeira Guerra Mundial, lutou nas frentes de batalhas do Sinai e do Canal de Suez contra as forças britânicas. Foi capturado e permaneceu prisioneiro por algum tempo, mas, após sua libertação, juntou-se à Revolta Árabe contra os otomanos, que havia começado no Hijaz. Servindo sob o comando do príncipe Faisal, participou de batalhas decisivas no sul da Transjordânia e esteve na vanguarda das forças árabes que entraram em Damasco em outubro de 1918.
Com a criação do governo de Faisal na Síria, al-Khadra foi nomeado vice-diretor de segurança geral e, posteriormente, diretor, tornando-se uma figura-chave na administração do novo regime. Entretanto, com a ofensiva francesa para controlar a Síria, ele participou da Batalha de Maysalun, em julho de 1920, onde as forças árabes tentaram resistir à invasão. Com a derrota, al-Khadra foi condenado à morte pelos franceses, o que o obrigou a fugir.
Entre a Jordânia, o Iraque e a Palestina
Após o colapso do governo de Faisal na Síria, al-Khadra se refugiou na Transjordânia e depois se juntou ao rei Faisal no Iraque, onde serviu no exército iraquiano, principalmente na região de Mosul. Contudo, em 1925, decidiu retornar à Palestina, onde sua experiência militar logo chamou a atenção das autoridades britânicas.
Al-Khadra foi recrutado pela polícia colonial britânica e nomeado vice-comandante da unidade de combate ao contrabando. Mas, longe de servir aos interesses britânicos, ele usou sua posição para fornecer armas aos combatentes sírios que resistiam à ocupação francesa. Além disso, estabeleceu conexões entre nacionalistas palestinos e as redes de resistência na Síria e na Transjordânia.
Em 1927, deixou a polícia e retornou a Safad, onde se tornou um dos principais organizadores do movimento nacionalista palestino. No ano seguinte, após o Sétimo Congresso Nacional Palestino em Jerusalém, foi nomeado membro do Comitê Executivo Árabe, o principal órgão representativo dos palestinos. Além disso, foi encarregado por Musa Kazim Pasha Husseini de gerenciar o escritório do comitê em Jerusalém, consolidando sua posição como uma das figuras de destaque da Resistência Palestina.
Paralelamente, al-Khadra se matriculou nas aulas de Direito de Jerusalém, graduando-se como advogado em 1932. Essa nova formação permitiu que ele ampliasse sua atuação na luta contra a expansão sionista, utilizando meios legais para impedir a venda de terras palestinas.
Revolta de 1936
A militância de al-Khadra se intensificou nos anos 1930. Em 1931, participou da Conferência Nacional Árabe, realizada na casa de Awni Abd al-Hadi, em Jerusalém, e, em 1932, foi um dos signatários do documento que restabeleceu o Partido da Independência, tornando-se um de seus principais líderes.
De 1932 a 1935, ocupou cargos importantes na administração dos bens religiosos (awqaf), sendo nomeado diretor dos awqaf de Acre por Haj Amin al-Husseini e, depois, procurador-geral dos awqaf. No entanto, com o início da Grande Revolta Palestina em abril de 1936, al-Khadra foi preso pelas autoridades britânicas e enviado para o campo de Sarafand, perto de Lydda, e depois para o campo de detenção de Awja al-Hafir, próximo à fronteira com o Egito. Só foi libertado em novembro daquele ano, quando a greve geral palestina chegou ao fim.
Mesmo após sua libertação, al-Khadra seguiu sendo perseguido pelos britânicos. Foi preso novamente em 1937 e encarcerado na fortaleza de Acre. Após ser solto, foi detido uma terceira vez e enviado para prisões em Jerusalém, Atlit e Acre. Finalmente, em 1940, foi colocado em prisão domiciliar em Jerusalém e proibido de retornar a Safad.
Mesmo sob vigilância, continuou atuando pela resistência palestina. Dedicou-se à luta contra a venda de terras árabes para os sionistas, trabalhando ao lado de Awni Abd al-Hadi e Rashid al-Haj Ibrahim na elaboração do Memorando Sobre a Questão da Terra na Palestina, endereçado aos líderes árabes. O documento defendia a criação de um fundo árabe para impedir que as terras palestinas fossem tomadas pelos sionistas.
Da luta armada ao exílio
Com a escalada da colonização sionista e a divisão imposta pela ONU em 1947, al-Khadra foi nomeado representante palestino no Comitê Militar da Liga Árabe, encarregado de supervisionar a resistência armada. Foi responsável pela compra e envio de armas do Egito e da Líbia para os combatentes palestinos até junho de 1948.
No entanto, com a Nakba e a criação da entidade sionista, al-Khadra, como tantos outros palestinos, foi forçado ao exílio. Refugiou-se em Damasco, onde, em outubro de 1949, foi nomeado diretor do Instituto de Refugiados Árabes Palestinos, órgão criado pelo governo sírio para administrar os assuntos dos palestinos exilados no país.
Pouco tempo depois, deixou o cargo e voltou a atuar como advogado, sempre envolvido na luta nacional palestina. Mantinha um discurso firme e intransigente contra o colonialismo, sendo conhecido por frases como: “Estamos aqui para fazer muito e falar pouco” e “A Grã-Bretanha é a fonte de todo o mal e a raiz de nossas desgraças”.
Subhi al-Khadra faleceu em Damasco em 4 de julho de 1954, sendo enterrado na cidade. Sua trajetória representa a luta incansável do povo palestino contra o colonialismo e a opressão sionista. Como tantos outros combatentes, dedicou sua vida à libertação da Palestina, tornando-se um símbolo da resistência nacional. Seu legado segue vivo na luta contínua contra a ocupação e pela libertação completa da Palestina.