A situação brasileira está marcada pela possibilidade de capitulação vergonhosa diante da atuação de Trump. No STF, os magistrados estão morrendo de medo das sanções norte-americanas. Alexandre de Moraes perdeu o cartão de crédito, visto americano, direito de andar de avião e diversas outras possibilidades devido à aplicação da Lei Magnitsky pelo governo dos Estados Unidos.
Isso cria uma nova situação no cenário político nacional: se houver uma capitulação vergonhosa dessa natureza, a extrema-direita terá uma vitória acachapante. Mas isso tem um lado positivo, destruiria a direita imperialista, com a desmoralização total dos seus representantes no Brasil no STF; por outro lado, quem sai ganhando é a extrema-direita. Esse acontecimento jogaria o PT em uma crise gigantesca, pela sua associação com esse setor. Esse panorama é uma oportunidade para o crescimento de uma esquerda combativa, como o que estamos vendo com o surgimento de um novo partido na Inglaterra.
Lula, para demonstrar apoio a Moraes, chamou um jantar onde apareceram apenas 6 dos 11 ministros do STF: Cristiano Zanin, Edson Fachin, Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Flávio Dino e o próprio Alexandre de Moraes. Barroso propôs uma declaração em defesa de Alexandre de Moraes; os outros, fora Zanin, negaram, um indicativo de que a crise é total e complexa. Abriu-se um capítulo imprevisível na situação nacional. Lula falou muito em soberania, mas após a pressão dos exportadores, está negociando com Trump. A crise que se abre é tão profunda que existe a possibilidade de que Moraes caia.
Moraes não pode viajar para o exterior, não pode ter conta bancária, e a sua família também será atingida. O pânico é visível dentro do STF. A corte, que falava muito grosso, está mostrando para todos que não é de nada. Basta cortar um conjunto de comodidades, coisas esperadas para líderes políticos que estão desafiando um colosso como os Estados Unidos, que os grandes defensores da democracia entregam o país para não perder as férias em Orlando.
Ao que aparenta, a grande burguesia nacional, como já aconteceu diversas vezes na política brasileira das últimas décadas, rachou. Quando Collor foi eleito, foi eleito pelo grande capital. A sua política produziu uma recessão muito profunda, que, a burguesia, em um primeiro momento, apoiou, mas, ao mesmo tempo, prejudicou o setor industrial e comercial. Collor também lançou uma proposta de paridade com o dólar, que essa burguesia industrial e comercial concluiu ser intolerável e o advertiu das consequências possíveis da implementação dessa medida. Collor, que tinha o apoio dos bancos, o setor mais importante, ignorou as advertências. A grande burguesia industrial e comercial, então, derrubou Collor. Quando aparecem essas divergências, é um sinal de que a crise é muito grande.
Isso ocorreu também no governo FHC, que fez a paridade com o dólar. A burguesia não aguentava mais, e como resposta organizou uma operação de ataque especulativo muito grande contra o real. FHC teve que se reunir com esse setor, e um acordo se fez na política de 3 para 1. Não é improvável que as tarifas de Trump tenham colocado em polvorosa os setores comerciais e industriais, que agora pressionam para acabar com a política de perseguição ao Bolsonaro e chegar a um acordo com Trump.
É importante chamar a atenção para que: se isso acontecer, o PT vai ter uma crise, pois isso representa um fracasso geral na política levada adiante até aqui. Lula se mostrou completamente impotente. Os apologistas do governo, fazem a propaganda que Lula está ganhando todas, quando o que ocorre é que o governo vai de mal a pior.
O setor do imperialismo que é ligado à burguesia brasileira e que apoiou Moraes não está batendo de frente. Apesar de não concordar com Trump, esse setor não é favorável a organizar um movimento para desafiar as sanções norte-americanas, o que significa que os ministros do STF estão completamente desprotegidos. Se Moraes cair, a crise será total. Para o PT, seria uma derrota inacreditável. Eles apostaram no STF, que agora está em vias de capitular. Para os setores do PT que encabeçaram essa política de “viva o STF”, é o fim das ilusões.
É preciso ter consciência de que a situação pode ter uma reviravolta muito grande internacionalmente, e isso reforça a ideia de que a política correta é ir à rua levar um trabalho sério de agitação política.
A manifestação dos bolsonaristas no dia 4 de agosto foi grande. Eles veem a necessidade de defender Bolsonaro de uma injustiça, e que Trump está entrando para fazer isso. A mobilização é grande, pois eles se sentem amparados e sentiram a fraqueza do STF.
A ideia de que “Bolsonaro é carta fora do baralho” está descartada. Bolsonaro e Trump querem ir para as eleições. Ventilou-se a hipótese de que Trump estava fazendo isso devido ao BRICS, mas a grande preocupação é Bolsonaro. Trump é minoritário na burguesia internacional, fazendo com que, de um lado, ele tema ser esmagado e, do outro, veja uma forma de faturar com a crise, e Bolsonaro é o seu principal aliado no Brasil.
A situação internacional é muito desfavorável para o imperialismo. A crise na Palestina é colossal. Uma carta feita em Nova Iorque foi rejeitada totalmente pela resistência. Lula e Sheinbaum foram assiná-la. Isso mostra que o imperialismo chegou no fim da linha na questão Palestina, e a proposta da carta é inviável. Para fazer o que é proposto, “Israel” teria que promover um massacre contra o Hamas, algo que já não foi possível. Não é possível continuar a operação de “Israel” e ter uma saída tranquila para a questão Palestina. Tudo indica um agravamento extraordinário da situação.
O imperialismo afirma agora que o problema é o Hamas, confirmando a tese de que o Hamas personifica a resistência palestina. É preciso que tomar cuidado com as posições da esquerda. A posição do imperialismo é o anti-trumpismo, e adotar essa política é uma capitulação diante do imperialismo. A questão da Palestina está sendo articulada por países que são anti-trumpistas, e na política interna isso leva a uma política profundamente contrarrevolucionária. Nas redes sociais, a maioria tem dificuldade de se posicionar. Há um esforço para o atrelamento à política democrática do imperialismo contra Trump e o fascismo.
Trump não é o inimigo primário de ninguém, é um espantalho usado para atrelar a todos à política do imperialismo. A política do anti-trumpismo com apoio ao imperialismo é uma política profundamente contrarrevolucionária. Do ponto de vista imediato, é correto assinalar que as ameaças de Trump não passam de tarifas comerciais. Engrandecer esse fato é tirá-lo de proporção, pois isso é, como ameaça, algo muito pouco expressivo. Todos os dirigentes políticos das instituições brasileiras deveriam dizer que: enquanto Trump estiver tentando interferir, o Brasil deveria inclusive romper relações. Apesar disso, esses dirigentes estão capitulando diante dessas tarifas. O Brasil não está sofrendo ameaças de bombardeio nem sanções, são apenas meras tarifas comerciais. Os capituladores procuram mostrar que uma tarifa de 50% é grande coisa, o que é ridículo, pois o Brasil já tinha tarifas de importação norte-americana, elas apenas aumentaram.
Moraes eventualmente capitular porque cortaram o seu cartão de crédito é algo muito vergonhoso. Algumas pessoas ingenuamente acham que isso daria margem para uma grande união do país contra o imperialismo, o que não vai acontecer. A interferência de Trump é um ataque à soberania. As tarifas, não. Essa manobra de propaganda é uma tática eleitoral: criar condições para aparecer como defensores do país contra o bolsonarismo.
É preciso esclarecer a todos que o anti-trumpismo é uma farsa, uma política de se aliar com o imperialismo. A carta de Nova Iorque é um absurdo, e a suposta defesa da soberania é outra farsa. Se houvesse mesmo uma política de desestabilização do Brasil pelo governo americano. Como um golpe de estado ou tentativa de invasão como vemos em países como a Venezuela, os “heróis da democracia” teriam capitulado há muito tempo. Não se deve ter ilusões por conta do impressionismo da esquerda.





