Neste sábado, dia 19 de julho, o portal progressista Brasil 247 publicou a coluna “No embalo da onda vermelha”, assinada pelo jornalista Bepe Damasco. O texto é uma peça de verdadeira fantasia, segundo a qual a situação do governo Lula seria extremamente favorável, e não de um completo fracasso e isolamento político que precisa ser invertido o quanto antes, para evitar um desastre nas eleições do ano que vem. Bepe se utiliza de duas listas para estruturar o texto, a primeira, apontaria para um derretimento político do bolsonarismo:
“1) Depois da tornozeleira, da proibição de usar redes sociais, de manter contato com seu filho Eduardo e das restrições à sua movimentação, entre outras medidas cautelares determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, Bolsonaro será condenado e preso em dois ou três meses. Disso ninguém duvida.
2) O projeto de anistia beneficiando os golpistas de 8 de janeiro de 2023 não será votado pelo Congresso Nacional.
3) É difícil imaginar que a direita e a extrema-direita terão juízo suficiente para marchar com a mesma candidatura em 2026.
4) As manifestações de rua dos fascistas, que outrora atraíam muita gente, estão cada vez mais esvaziadas.”
O colunista adere à ideia da frente ampla contra o bolsonarismo, assim, o STF, figura central no golpe de 2016, que levou o atual protagonista da corte Alexandre de Moraes ao cargo, e na retirada de Lula para a farsa na eleição de 2018. Tanto o colunista, como a esquerda que segue essa política, se esquece que antes de prender Lula, o Judiciário, a soldo do imperialismo desatou uma ampla “campanha contra a corrupção”, pela qual reduziu e anulou garantias jurídicas básicas da população, e direcionou essa campanha durante longo período contra setores da própria direita, sem grande efeito no cenário político nacional. Na sequência, porém, toda essa política se abateu contra Lula, e assim, Jair Bolsonaro ganhou as eleições de 2018, sem oponente real, uma vitória amparada pelo imperialismo e pelo STF que hoje diz “defender a democracia contra o bolsonarismo”, uma farsa.
Assim, contra o “golpe” sem golpe do 8 de janeiro, os golpistas reais se abatem sobre todos os setores no regime político que possuem alguma popularidade. Bolsonaro é retirado de 2026 por uma chanchada política e jurídica, e Lula é emparedado pela máquina imperialista, liderando um governo fracassado, que chegando a três anos de mandato, não possui uma medida popular de impacto sequer para mostrar a seu eleitorado. Porém, a existência do setor golpista real, do núcleo no Brasil de atuação do imperialismo, está sendo ignorado.
Prossegue o colunista, em franco devaneio:
“Vento a favor do governo Lula e do campo democrático-popular:
1) Campanha pela taxação dos super-ricos e por uma tributação socialmente mais justa vira o jogo nas redes sociais e acua o Congresso conservador e reacionário.
2) Governo recorre ao Supremo, e vence, contra a derrubada pelo Congresso do decreto do IOF.”
A exaltação de Bepe Damasco, ironicamente, demonstra a situação desfavorável do governo. Para pintar um quadro positivo, o colunista é obrigado a citar o “jogo nas redes sociais”, algo sem qualquer impacto significativo no cenário nacional. Ora, se no caso do bolsonarismo foi citada a mobilização nas ruas, por que no caso do governo, que está numa posição de força institucional, ou seja, favorável a mobilizar, não se fala no assunto?
Pior, Bepe cita a fraqueza de Lula ao precisar ir ao STF para anular uma decisão do Congresso Nacional, o que não apenas demonstra o desamparo de Lula, mas a ilegalidade a que o governo recorre, pois o STF não poderia, no cumprimento de suas funções legais, derrubar uma medida do Congresso como foi feito, e isso sem sequer entrar no mérito da medida. Supostamente tendo por alvo apenas os “ricos”, a população no entanto se viu notificada por seus bancos ao ser colocada em vigor a medida do IOF.
“3) Lula assume a liderança da resistência da nação aos ataques à nossa soberania feitos por Donald Trump.”
Aqui temos outra farsa. A medida de Trump, apesar de se dirigir na prática contra o País, e portanto, precisar ser respondida, não é de fato direcionada contra o Brasil, mas faz parte da disputa travada entre Donald Trump e o setor fundamental do imperialismo, que comanda o STF brasileiro e prepara um golpe no País. Lula, no caso, não simplesmente se colocou contra a medida, mas na defesa do STF. De fato, Lula não está defendendo o Brasil, mas defendendo uma submissão cada vez maior do País ao setor fundamental do imperialismo, que prepara um novo golpe contra o próprio Lula. Apesar disso, as medidas antipopulares do governo não param aqui:
“4) Em sintonia com o sentimento amplamente majoritário entre os brasileiros, o presidente Lula veta o projeto que aumentou o número de deputados federais.”
O aumento no número de deputados no Congresso Nacional seria um fator para a democratização daquela casa. Ou seja, quanto mais deputados, mais a população estaria sendo representada. Além disso, é mais difícil controlar a casa quanto mais parlamentares a compuserem. Em outras palavras, o aumento no número de deputados é uma medida democrática e soberanista, dificultando a tutela do imperialismo sobre o regime político brasileiro. Contudo, aqui, o veto da medida democrática é apresentado como uma medida popular, apesar de contar com a campanha imperialista contra o Legislativo, que seria em tese o poder mais democrático entre os três.
“5) Em cadeia nacional de rádio e TV, Lula faz um discurso de estadista. Fugindo do formalismo solene comum a esse tipo de pronunciamento e usando palavras fortes e certeiras, Lula denunciou o tarifaço de 50% como uma “chantagem” de Trump e acusou os políticos que o apoiam de “traidores da pátria”.”
Aqui temos nova demagogia. Os bolsonaristas sabem que os interesses do STF são estranhos aos interesses nacionais, assim como o sabem os que compõem a base do governo, apesar de desconsiderando o fato pelo mais puro oportunismo. Assim, a pecha de “traidores da pátria”, vinda de um governo que apoia a corte golpista, fica esvaziada de conteúdo.
“6) Colhendo os frutos da mudança da conjuntura, o projeto do governo de maior impacto popular — o que isenta de pagamento de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil — avança na Câmara dos Deputados, sendo aprovado na Comissão Especial. Também foi aprovada, na Comissão de Constituição e Justiça, a admissibilidade da PEC da Segurança Pública, de autoria do Ministério da Justiça e Segurança Pública.”
Essa medida, de fato popular, seria aprovada junto ao pacote antipopular de Fernando Haddad, mas não foi. Falar nela, sem que seja aprovada até agora, é mais uma demonstração de fraqueza do governo. Não interessa ao povo, numa situação econômica desfavorável, que o projeto tenha passado por uma ou por outra burocracia, mas se será implementado ou não. E a resposta que se tem até o momento é um não ensurdecedor. Conclui Bepe Damasco:
“O importante é manter a pegada, seguindo firme em defesa da nação e da taxação BBB (Bancos, Bets e Bilionários).
Surgiu, enfim, a oportunidade de impor uma dura derrota aos inimigos da democracia e do povo brasileiro.”
Tal colocação final, frente a um Banco Central cuja presidência foi indicação do governo, e que serve apenas como sabotador oficial da economia, com sucessivas altas na taxa de juros, é uma piada, uma fanfarronice. A soberania, a “firmeza”, é apenas para inglês ver. Caso continue assim, o governo apenas se aprofundará no fracasso, abrindo espaço para a volta da terceira via nas eleições de 2026.




