Desde o início do seu terceiro mandato, o governo Lula possui quatro ministérios que seriam, supostamente, representantes dos interesses de setores oprimidos da sociedade brasileira: a pasta da Igualdade Racial, a pasta dos Povos Originários, a pasta das Mulheres e a pasta dos Direitos Humanos. Nenhum deles, contudo, foi capaz de se pronunciar firmemente, ao longo de quinze meses, contra o maior ataque aos oprimidos dos últimos anos: o genocídio contra o povo palestino, que pôs em evidência a luta pela terra, a luta contra a supremacia racial, a luta contra a violação dos direitos humanos e a luta contra o assassinato de mulheres e crianças.
Essa contradição só se tornou possível devido à chamada política identitária – conhecida nos Estados Unidos como “cultura woke”. Impulsionada pelo Partido Democrata, que nada mais é que uma testa de ferro dos serviços de inteligência norte-americanos, a tal “cultura woke” propõe transformar a luta dos oprimidos em uma política reacionária e contrarrevolucionária.
Os identitários propõem à esquerda o abandono da luta de classes e a sua substituição por uma luta artificial de “identidades”. A opressão da mulher não seria suprimida pela destruição do modo de produção capitalista, mas pela hostilidade das mulheres aos homens. Assim como os índios seriam libertos quando entrassem em conflito com tudo aquilo que remeta à civilização.
Considerando-se de onde vem essa política, é fácil discernir o seu objetivo. Trata-se de uma operação do imperialismo para dividir e desmoralizar a luta dos oprimidos.
Na medida em que as mulheres põem em primeiro plano a “luta” – melhor seria dizer lobby – para que haja um representante feminino no Supremo Tribunal Federal (STF), em vez de lutar contra os bancos que querem acabar com o Bolsa Família, o movimento das mulheres de conjunto se enfraquece. Passa a ser visto pela população não como um movimento geral, que diz respeito ao interesse da maioria da população, mas sim como um movimento oportunista, que busca criar uma camada de privilegiados.
A política identitária, ainda, joga água no moinho da extrema direita, na medida em que dá razão àqueles que criticam o artificialismo do movimento de mulheres.
Por todo o estrago que o identitarismo vem causando à luta dos oprimidos, é necessário uma reação enérgica do movimento de trabalhadores a esse tipo de política. É preciso dar uma resposta às tentativas de transformar manifestações tradicionais da classe operária, como o Dia Internacional da Mulher, em um circo identitário, no qual as reivindicações classistas sequer são mencionadas.
Neste sentido, no próximo 8 de março, é necessário organizar um ato independente dos identitários, da burguesia e de todos aqueles que querem desmoralizar a luta das mulheres. É preciso organizar um ato combativo, revolucionário, que ponha como questão central as reivindicações concretas da mulher trabalhadora, como o direito irrestrito ao aborto, a construção de creches, a defesa da mulher palestina e o cancelamento da dívida pública.