Oriente Próximo

A esquerda que torce pelo sionismo

Organização dita "revolucionária" consegue uma proeza ao noticiar os ataques do imperialismo ao Irã e "ignorar" qualquer defesa do Irã, fazendo uma defesa velada do sionismo

O portal Esquerda Diário, do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), publicou, no último dia 22, um artigo intitulado Trump ataca Irã apoiando o Estado colonialista de Israel: abaixo à agressão militar imperialista!, reagindo aos últimos acontecimentos da conflagração que se expande no Oriente Próximo, com os Estados Unidos bombardeando o Irã e entrando ativamente no conflito, iniciado no 7 de Outubro, mas que vem escalando desde então. Escamoteando essa última parte, fundamental para a caracterização precisa do atual estágio do conflito e do fenômeno social que nele se expressa, eis a consideração do grupo:

“Após o ataque israelense a Teerã e às instalações militares e nucleares iranianas, há 9 dias os dois Estados vêm escalando os bombardeios entre si (grifo nosso). Com a entrada dos EUA na guerra contra o Irã para proteger Israel e o regime de Netanyahu, aumentam de forma inédita as tensões no conflito no Oriente Médio, entre potências com arsenal nuclear.”

Não é que existe um genocídio escancarado em andamento há 625 dias, cometido por “Israel” contra o povo palestino, tampouco uma escalada dessa política de genocídio estendida ao Irã por ação unilateral do enclave imperialista. É como se o conflito entre a ditadura sionista e a República Islâmica tivesse irrompido de maneira totalmente aleatória, como um raio em céu azul.

Ocorre que desde a consolidação da revolução proletária de 1979, o Irã é o principal apoiador dos movimentos de luta contra o imperialismo no Oriente Próximo. O MRT desconversa, mas foi justamente essa característica que tornou a República Islâmica alvo da ditadura sionista.

Ao contrário do MRT, os partidos que compõem o Eixo da Resistência e estão em luta armada contra “Israel” reconhecem o apoio iraniano como decisivo para os enfrentamentos travados na região há décadas, com exemplos marcantes na expulsão dos israelenses do Líbano em 2000 liderada pelo Hesbolá, as duas Intifadas na Palestina (1987 e 2000), onde o Hamas surgirá e se consolidará como a principal força política do povo palestino, a luta revolucionária do Ansar Alá pelo fim da ditadura imperialista no Iêmen, processo ainda inconcluso, mas que garantiu ao partido liderado por Hussein Badreddine al-Houthi o controle da maior parte do país. Não à toa, todas as organizações supracitadas emitem notas de apoio ao Irã, tanto na ocasião da agressão israelense, quanto também no ataque norte-americano.

Com essa caracterização clara, não é que “há 9 dias os dois Estados vêm” se bombardeando mutuamente. A República Islâmica foi atacada pelos israelenses há nove dias e, não por acaso, mas para que os povos árabes pudessem sofrer atrocidades ainda maiores com capacidade de reação menor. Como os iranianos têm amor próprio (felizmente), houveram retaliações contra as agressões sofridas, porém, a parte agressora continua sendo a mesma que, desde o 7 de Outubro, vem assassinando mulheres e crianças em escala industrial: “Israel”.

As manifestações das organizações árabes, fundamentalmente, refletem o que o MRT nega de maneira velada: que o Irã presta um apoio fundamental para quem está lutando contra o genocídio. Dada essa posição da organização esquerdista brasileira, podemos concluir que tudo bem chorar pelo horror que “Israel” despeja contra o povo palestino, mas lutar contra, jamais.

Trata-se, naturalmente, de uma posição que não apenas depõe contra a tentativa do MRT em se apresentar como organização revolucionária. O artigo do Esquerda Diário, no entanto, não se contenta com as demonstrações direitistas exibidas até aqui e conclui com:

“Diante disso, é urgente denunciar o caráter colonial, racista e imperial deste ataque, junto aos ataques de Israel ao Irã, e o genocídio em Gaza contra o povo palestino, exigindo fim imediato da ocupação e por uma Palestina livre, pela harmonia entre os povos.”

O parágrafo vale pelo que não diz e que pode ser traduzido com o seguinte questionamento: e os iranianos? Tudo bem serem atacados de maneira covarde como foram e continuam sendo? Os palestinos devem ser poupados dos ataques do imperialismo (afinal, é disso que se trata toda a campanha sionista), mas o Irã tudo bem?

Trata-se de uma posição que mostra como o MRT não é uma organização de luta, justamente por que em um conflito fundamental entre o imperialismo e uma nação atrasada, a organização simplesmente não consegue sequer defender um país oprimido lutando para não ser esmagado. Tudo isso enquanto dá um apoio velado também ao sionismo em sua campanha contra a República Islâmica. Não é que a posição traia qualquer pretensão do MRT em se apresentar como uma organização revolucionária, sequer é de esquerda.

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