Em um artigo verdadeiramente alucinante, o jornalista Alex Solnik, do Brasil 247, defendeu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fosse deportado e seu sobrenome, proibido no Brasil.
O texto começa com um cinismo impressionante:
“Não vejo motivo para comemorar a condenação de Jair Messias Bolsonaro.”
Ora, mas Solnik, junto com os demais articulistas governistas, passaram anos a fio defendendo que a prisão de Bolsonaro seria a reivindicação política mais importante do povo brasileiro. Solnik e sua turma, inclusive, chegaram a celebrar a nomeação de um lavajatista, Paulo Gonet, para a Procuradoria-Geral da República (PGR) porque este estaria comprometido com a condenação do ex-presidente.
Solnik não vê motivo hoje para comemorar a prisão de Bolsonaro simplesmente porque tal política se mostrou um erro. Usar a repressão do Estado para conter movimentos políticos com uma base social real nunca funcionou. O próprio caso do presidente Lula, encarcerado durante 580 dias, expôs isso claramente.
Trata-se de uma colocação arrogante, que cumpre apenas o papel de manter Solnik do lado errado da luta política: o lado da burguesia, que é a favor da repressão contra o ex-presidente.
Solnik, então, segue dizendo:
“Não que ele não mereça ser condenado e preso. É que isso ainda é pouco.”
Como assim “pouco”? É o que é estabelecido constitucionalmente para quem comete um delito — multa e cadeia. Ainda que, no caso de Bolsonaro, tanto a condenação quanto a dosimetria são absurdas, visto que a PGR não conseguiu provar que o ex-presidente tenha cometido qualquer crime.
Solnik, então explica:
“Enquanto estiver preso, sabe-se lá por quanto tempo, continuará a ser cultuado por seus fanáticos seguidores, que vão insistir em mantê-lo relevante. Será transformado em símbolo de perseguição política. Seu nome continuará em evidência. Ele seguirá influente. Seus aliados irão visitá-lo na prisão. Vai indicar nomes para disputar eleições. Periga ganhar mais apoiadores estando preso.”
Sim, o jornalista está certo. Mas era justamente isso o que os articulistas governistas se recusavam a ver: que a prisão seria inócua e ainda radicalizaria ainda mais a base bolsonarista. O problema é que, agora feita a constatação, Solnik ainda é incapaz de aprender qual é o método para combater o bolsonarismo.
Bolsonaro continua popular porque os seus apoiadores não veem uma alternativa à sua liderança. Essa alternativa deveria ser a esquerda, que deveria travar uma luta política para expor as contradições e limites do bolsonarismo. Se o governo se esforçasse para apresentar o bolsonarismo como um inimigo da geração de emprego, do combate à fome, do desenvolvimento nacional e dos direitos democráticos, a extrema direita não estaria crescendo. O problema é que o Partido dos Trabalhadores (PT), levando toda a esquerda pequeno-burguesa a reboque, optou por uma aliança com a burguesia, o que impede um combate classista ao bolsonarismo.
Expressando o grau máximo da histeria da esquerda pequeno-burguesa que percebe que sua política levou a um beco sem saída, Solnik conclui:
“Sei que não há leis de ostracismo nem de desterro entre nós, mas o ideal seria cassar sua cidadania, expulsá-lo do país e impedi-lo de retornar, ele e todo o clã (…). O ideal seria banir o sobrenome Bolsonaro. Apagá-lo para sempre da história do Brasil.”
Não apenas é ridículo — como se apaga algo da história? —, como também mostra o potencial fascista que há na histeria da esquerda pequeno-burguesa. É este o destino daqueles que se aliam à frente ampla: levada até as últimas consequências, a esquerda acaba apoiando os aspectos mais reacionários da classe mais reacionária de todas.




