O artigo de Juca Batista Lopes, publicado sob o título pomposo Contra a PEC da Bandidagem e da Anistia: a luta de massas e a organização popular, é um manual de como transformar uma operação golpista do imperialismo em aparente mobilização popular. O autor chega a citar genericamente Rosa Luxemburgo e Leon Trótski — “Rosa Luxemburgo lembrava que a democracia se consolida na ação popular; Trotsky alertava que nos momentos de crise se define se a classe trabalhadora assume a direção ou se a reação avança” —, mas se esquece do principal: Trótski, Rosa Luxemburgo ou qualquer marxista propõe que os trabalhadores fiquem a reboque da burguesia e de sua política contrarrevolucionária?
O ponto central de Juca é afirmar que o arquivamento da PEC das Prerrogativas teria sido resultado da “pressão contínua da sociedade”. Segundo ele, “as vitórias parciais da mobilização popular demonstram que a luta organizada faz diferença”.
O problema é que não houve luta popular: houve mobilização controlada pela imprensa monopolista e por ONGs internacionais, exatamente como já ocorreu em várias “revoluções coloridas” pelo mundo. A mesma Globo que apoiou a ditadura militar, a Lava Jato e o golpe de 2016 foi a que convocou, por meio de seus porta-vozes, atos contra a PEC. Isso não é vitória da classe trabalhadora, mas vitória do imperialismo.
O ridículo atinge o auge quando Juca escreve que “o papel dos artistas e influenciadores digitais foi decisivo” para as manifestações. Em outras palavras: a luta popular, para o autor, é representada por Paula Lavigne, Caetano Veloso e meia dúzia de youtubers. A classe trabalhadora, os sindicatos, a juventude organizada — todos aparecem como secundários, enquanto o protagonismo é entregue aos representantes mais diretos do imperialismo. Chamar isso de “dinâmica contemporânea da mobilização” é apenas a forma sofisticada de dizer que a Globo substituiu o povo.
Não se trada de nada disso. Na verdade, a esquerda pequeno-burguesa, na medida em que a polarização política se intensifica, é que tem substituído a si própria por um apêndice do imperialismo. O povo continua sendo o que é — uma massa explorada, cada vez mais revoltada, que, em um dado momento, se levantará para acertar as contas com seus opressores. A esquerda pequeno-burguesa, por sua vez, é que “mudou”. Em momentos de luta política mais aberta, ela está sendo obrigada a assumir uma posição cada vez mais definida em defesa da classe dominante.
Como se não bastasse, o autor ainda conclui exaltando a necessidade de dar “centralidade à luta das minorias”, falar em “ecossocialismo” e em “performances culturais” — ou seja, seguir a cartilha das ONGs estrangeiras. Nada de lutar em defesa da Resistência Palestina — pois o Hamas seria “misógino” —, nada de defender a China — pois ela não seria “ecológica”. Em resumo, defender apenas aquilo que o imperialismo mandar.
No caso em tela, a ditadura do Supremo Tribunal Federal (STF), que vai se consolidando como um poder acima dos demais para garantir que os interesses do grande capital sejam saciados.





