O artigo Greta Thunberg, exemplo de militância antisistêmica, assinado por Leandro Santos Dias, e publicado na Revista Movimento neste sábado (4), é uma mostra da despolitização e oportunismo que toma conta da esquerda pequeno-burguesa, especialmente do MES (Movimento Esquerda Socialista) lavajatista e golpista de carteirinha.
Dias inicia seu texto dizendo que “Greta não é apenas uma ativista ambiental, mas uma militante de causas globais, que entende que o destino da humanidade está atado ao enfrentamento do imperialismo, da opressão e da destruição do planeta”.
A iniciativa de Greta Thunberg em favor da Palestina foi positiva, não resta dúvida, utilizou sua condição de celebridade para fazer com que mais pessoas pelo mundo se levantassem contra o criminoso cerco de Gaza perpetrado pelos sionistas, que promovem um dos piores genocídios de que se tem notícia.
Quanto à questão do ativismo ambiental, é sabido que o imperialismo se utiliza de personalidades e ONGs, como o Greenpeace, dentre outros, para impedir que países atrasados explorem suas riquezas, especialmente o petróleo.
Segundo Dias, “conhecida mundialmente pela coragem de enfrentar os poderosos e exigir medidas concretas contra a catástrofe climática”. O termo catástrofe é utilizado para deixar as pessoas com medo. Aqueles que duvidam da tal catástrofe são logo tratados como loucos, ou “negacionistas”, como se negassem a ciência.
A ciência, no entanto, não é uma coisa neutra. A burguesia controla por meio de suas revistas de divulgação e conferências quais cientistas podem falar. Aqueles que contestam, ou que apresentam outras explicações sobre o comportamento do clima, são devidamente impedidos de falar.
O autor diz ainda que “Greta não é apenas uma ativista ambiental, mas uma militante de causas globais, que entende que o destino da humanidade está atado ao enfrentamento do imperialismo, da opressão e da destruição do planeta”. Para um marxista, no entanto, a causa ambiental deveria inexistir ou apenas ser muito lateral, uma vez que o socialismo libertará a produção da busca desenfreada pelo lucro.
Farol da juventude?
Para Dias, o exemplo de Greta Thunberg “deveria servir de farol à juventude de hoje”. Ou seja, em vez de privilegiar o trabalho coletivo, partidário, o MES propõe o voluntarismo. Claro que tudo isso não passa de oportunismo.
A juventude trabalhadora tem que ser educada com as bandeiras do socialismo, deve seguir um programa revolucionário, ajudar a construir o partido. O trabalho de um indivíduo não deveria superar as instâncias partidárias.
O próprio PSOL, do qual o MES faz parte, acabou se tornando refém de celebridades, como Guilherme Boulos. E as celebridades costumam se sentir maiores que o partido e não se submetem ao centralismo democrático.
A aposta em celebridades é um comportamento tipicamente pequeno-burguês, pois estes têm aversão à classe trabalhadora.
Não se está aqui tentando diminuir a importância e a repercussão de Greta Thunberg em seu apoio ao povo palestino, isso é bastante louvável, o que causa estranheza é que um partido, ainda mais um que se diz trotskista, aponte uma pessoa como “farol da juventude”.
Contradição
Após enaltecer a figura de Greta Thunberg, Dias escreve que “ser parte de um coletivo nacional ou regional é o mínimo que se pede a quem se diz militante. Não existe transformação social verdadeira sem organização e sem construção coletiva. O individualismo político é o caminho mais curto para a derrota”.
O articulista acaba confundindo sua própria base. Precisa se decidir se é melhor a construção coletiva ou o individualismo político, pois diz que “é urgente segurar e difundir o exemplo da militância de Greta Thunberg, talvez a figura mais antisistêmica do nosso tempo”. O que é uma definição parcial, pois a política da catástrofe climática é levada adiante pelo imperialismo. Greta Thunberg, mesmo que tenha boas intenções, acaba servindo aos interesses do grande capital que, na verdade, não se importa com o clima ou com a natureza.




