No escatológico artigo intitulado Amputação sangrenta: a “paz” de Trump para a Ucrânia, David Finkel, editor do Against the Current, publicado pela organização socialista norte-americana Solidarity, critica o presidente norte-americano Donald Trump por supostamente “trair” a Ucrânia. O texto foi traduzido para o português e publicado plea revista Movimento, do grupo Movimento Esquerda Socialista (MES), do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
A ideia de “trair” a Ucrânia implicaria, em primeiro lugar, que o articulista considera o Estado norte-americano um aliado da Ucrânia. E se assim o é, não teria motivo algum para alguém que se diga socialista estar ao lado da Ucrânia.
Em segundo lugar, é também uma ideia mentirosa. Donald Trump nunca foi favorável à guerra da Ucrânia. Ele está apenas sendo coerente com o que defendeu durante sua campanha eleitoral. Trump é contrário à guerra da Ucrânia por um motivo muito simples: a guerra empobrece a burguesia interna norte-americana, ao mesmo tempo em que fortalece os serviços de inteligência, que são inimigos de Trump.
A afirmação de Finkel é, portanto, uma espécie de chantagem emocional sem muito pé nem cabeça.
O objetivo da afirmação ficaria mais claro no decorrer do texto. O autor procura explorar a impopularidade de Trump em determinados setores para, com isso, ganhar apoio para a cada vez mais impopular guerra da Ucrânia.
“Sempre foi a opinião de Trump, juntamente com o setor cristão-nacionalista de extrema direita do culto MAGA, que a guerra era culpa da Ucrânia desde o início e que sua única opção era se render aos termos que o poder superior da Rússia impusesse.”
Independentemente do que Donald Trump pense ou faça, a guerra é, obviamente, culpa da Ucrânia. Ou, dito de maneira mais precisa: a culpa é do imperialismo, que tem um governo fantoche seu no comando da Ucrânia. Esta guerra começou há mais de dez anos, quando as forças nazistas ucranianas começaram a exterminar a população do Donbas. E essa mesma guerra vem se estendendo desde então, com o assédio permanente dos governos do Leste Europeu para que hostilizassem a Rússia.
A ideia do “poder superior da Rússia” também é uma piada. De fato, o exército russo é muito superior ao exército da ucrânia. No entanto, a Rússia não luta sozinha: ela luta contra as armas e até soldados de todos os países imperialistas.
É difícil saber se o autor é realmente tão ignorante ou se usa deliberadamente de má-fé ao falar que “todos os dias em Gaza dezenas de pessoas morrem de fome — em breve serão centenas, pelo menos — enquanto armas americanas irrestritas, não disponíveis para a Ucrânia, fluem para o massacre genocida de Israel”. Em menos de quatro anos, o apoio norte-americano ao regime ucraniano foi tão grande que o equivalente a R$2 trilhões foram destinados ao seu esforço de guerra. Além de todo o armamento fornecido, os países imperialistas ainda ameaçaram publicamente lançar ogivas nucleares na Rússia para defender os interesses ucranianos.
O que o autor não deixa dúvida, no entanto, é que sua política é, assim como a do imperialismo, conforme denunciado pelo próprio presidente russo Vladimir Putin, “lutar até o último ucraniano”. A guerra da Ucrânia é uma guerra entre o imperialismo, lutando para disciplinar os povos, e a Rússia, lutando contra a ditadura imperialista. Cada vida ucraniana perdida é tão-somente mais uma vida perdida em nome dos interesses criminosos do grande capital.




