A exposição máxima do Clã Bolsonaro, artigo de Arnóbio Rocha, publicado no Brasil247 nesta quinta-feira (21), exemplifica o quanto os setores ditos de esquerda estão seguindo pelo mesmo caminho que a direita vem trilhando desde sempre. O que antes era condenado contra o PT, é justificado, e até comemorado, quando se trata de “combater” a extrema direita.
No olho do artigo se lê que “as falas e mensagens entre eles [os Bolsonaros] e com Malafaia, mostram a podridão e a ousadia contra o Brasil e os interesses mesquinhos e apenas para eles”. É importante lembrar que a grande imprensa tratou assim Marisa Letícia, Lula e Dilma. Expuseram conversas reservadas que em si não constituíam crimes, mas pioravam a imagem dessas pessoas diante da opinião pública que, por conta disso, não se importava que estava em curso uma perseguição política.
Segundo Arnóbio Rocha, “o quadro é devastador para o clã Bolsonaro, está sendo exposto como muitos pediram que fosse Lula, que corretamente traz as ações do clã Bolsonaro sem ficar Lula x Bozo”. É verdade, muitos pediram que fosse Lula, e foram atendidos pela Lava Jato, associada da grande imprensa.
Quanto à alegação de que não existe um “Lula x Bozo”, não é verdade, pois boa parte da população diz que existe um acerto entre o governo o Supremo Tribunal Federal (STF). E essa percepção é calcada no fato de o governo petista ter se aliado ao STF para enfrentar o Congresso. O presidente fez um jantar de desagravo em favor de Alexandre de Moraes etc. Tudo isso tem ajudado Bolsonaro a ser visto como mais uma vítima do sistema.
Podridão é crime?
Arnóbio Rocha diz que as falas entre os Bolsonaros e Malafaia “mostram a podridão e a ousadia contra o Brasil e os interesses mesquinhos e apenas para eles”. Como se sabe, Jair Bolsonaro está sendo acusado de planejar um golpe de Estado. O processo está torto desde a origem e para escamotear esse fato, que atenta contra direitos básicos, está sendo promovido um linchamento público do ex-presidente.
Ousadia e interesses mesquinhos nunca foram crimes, se o fossem, seria necessário colocar todo mundo na cadeia; inclusive, ou principalmente, os juízes.
Os áudios “vazados” não têm nada de relevante, mas estão sendo utilizados mais uma vez. A esquerda pequeno-burguesa, no entanto, subestima a capacidade de raciocínio da classe trabalhadora. É possível que alguns se deixem influenciar, mas muitos vão entender que estão forçando a barra para incriminar Jair Bolsonaro.
O plano da burguesia
Este Diário tem repetido que esse processo-farsa contra Bolsonaro é para tirá-lo da próxima corrida presidencial. O próprio Arnóbio Rocha atesta isso ao comentar que diz que pode acontecer “um começo de distanciamento dos governadores”, uma vez que estes não quererão ser associados a Bolsonaro, que passaria a ser “tóxico”.
Arnóbio Rocha reproduz o que diz a GloboNews, onde um comentarista teria dito, baseado em uma pesquisa da Quaest, que “está na hora dos governadores de ‘centro-direita’ se afastarem de Bolsonaro, ou não terão chances contra Lula, que mesmo desgastado, só ele se deu bem no tarifaço, todos retrocederam, eles precisam definir um nome, sem o bolsonarismo”.
Como se pode ver claramente, trata-se de uma jogada eleitoral o processo contra o “golpismo”. Por falar em golpismo, é justamente isso que está em marcha, uma nova fase do golpe iniciado em 2016, que visa agora retirar das próximas presidenciais os dois candidatos com mais votos: Lula e Bolsonaro.
Seguindo, o articulista diz que “A ordem da Faria Lima, dos rentistas, banqueiros é para uma definição imediata, a pressão é sobre o Capitão Tarcísio de Freitas, para que rompa com o clã Bolsonaro, mais uma vez, a Globo deu a letra de que o ‘governador tem que decidir logo’”.
Tarcísio de Freitas não tem votos, é um neoliberal feroz, o perfil que o “mercado”, o imperialismo, procura, pois precisa saquear com maior intensidade o Brasil e assim amortecer sua crise. Ainda é cedo para dizer quem será o candidato da burguesia. O mais provável é que pulverize, lance vários candidatos, como acabou de fazer na Bolívia.
Ilusão “antifascista”
No penúltimo parágrafo, Arnóbio Rocha diz que “para o Brasil saudável, aquele que quer democracia, distribuição de renda, melhora da economia, hoje refém dos caprichos insanos do clã Bolsonaro, o cenário melhorou muito nesses últimos dois meses, ainda falta muito, tem que enfrentar um congresso de maioria da extrema-direita e de fome por dinheiro público”.
De início, é preciso dizer que as melhoras, sejam quais forem, são imperceptíveis para a classe trabalhadora, que sofre com endividamento causado pelos baixos salários, juros altíssimos, e cesta básica inflacionada.
Saudável o Brasil também não anda, pois o SUS está sucateado. O governo tem estado refém do Banco Central e pagado uma dívida pública que já foi paga várias vezes. Os bancos levam diariamente mais de R$ 7 bilhões, enquanto os gastos públicos estão sendo deixados em segundo plano.
Existe uma ilusão na esquerda de que Bolsonaro seja o grande problema. No entanto, apesar de seu governo ter sido péssimo, o que a burguesia está preparando é ainda pior. As forças que colocaram Lula na cadeia e Bolsonaro no poder, são as mesmas que estão tramando a completa destruição de direitos trabalhistas, aposentadoria, educação e saúde pública.
Outra ilusão, que está embutida na “prisão de Bolsonaro”, é que com isso a reeleição de Lula estaria praticamente garantida; e isso está muito longe de ser realidade, pois a grande imprensa já demonstrou em suas campanhas do Mensalão, Petrolão, Lava Jato etc., que se pode desgastar muito a imagem do petista.
Arnóbio Rocha termina seu artigo com a frase “O Brasil segue em frente com soberania e democracia”. Soberania com o BC nas mãos dos banqueiros, com os EUA estacionados na Base de Alcântara? Existe democracia em um país onde pessoas são julgadas pelo STF, sem direito a recursos ou revisão de penas?
Infelizmente, boa parte da esquerda mostra que não tem princípios e está agindo como se agia na Idade Média. Se a exposição de Lula e outros petistas era, corretamente, combatida, o mesmo critério tem que ser utilizado para seus adversários políticos, sejam eles quais forem.
Há ainda outra ilusão da qual a esquerda sofre: pensa que controla o Estado. Toda essa repressão que está sendo montada com sua ajuda, pode muito bem estar amanhã nas mãos de seus inimigos políticos, que não pensarão duas vezes em utilizar contra a esquerda, como vem fazendo sistematicamente.




