No dia 08 de janeiro, foi publicada no portal Brasil 247 uma coluna de autoria de Marcelo Uchôa, intitulada “Dois anos da tentativa de golpe”, na qual o autor faz um balanço do que aconteceu no fatídico dia 08 de janeiro de 2023, em que um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro invadiram prédios na Praça dos Três Poderes em Brasília e vandalizaram obras de arte e parte dos prédios.
Segundo a matéria, o que ocorreu naquele dia foi uma tentativa de golpe de Estado, o que não pode ser verdade de forma alguma. Isso porque não houve em momento algum a tentativa de tomada do poder por parte dos manifestantes. Muitos, inclusive, realmente desejavam que com a mobilização se transformasse em um golpe de Estado por parte das Forças Armadas, que, apesar de terem permitido a invasão dos prédios, não se moveram na direção de realmente dar um golpe de Estado.
A matéria começa por tecer elogios a Flávio Dino e ao STF, como sendo os grandes heróis contra a suposta tentativa de golpe de Estado. No entanto, nada pode ser mais inverídico. De um ponto de vista simplesmente técnico do problema da segurança dos prédios invadidos naquele dia, Flávio Dino foi um completo desastre. Isso porque o então ministro da Justiça e da Segurança Pública sabia da manifestação que aconteceria naquele momento, com notícias e entrevistas de poucos dias anteriores aos atos mostrando que Dino não só sabia da organização dos atos, mas se dizia preparado para o que viria a acontecer.
Já por parte do STF, a única coisa que os juízes fizeram foi colocar uma parte das pessoas que invadiram os prédios na cadeia, o que não impede golpe de estado algum. O STF, aliás, até agora somente foi atrás das pessoas que levadas até a manifestação invadiram os prédios, mas não conseguiram colocar todas as pessoas que organizaram as manifestações na cadeia, como a própria matéria de Marcelo Uchôa diz.
As prisões, inclusive, são completamente contrárias ao direito e ao que prega a Constituição Brasileira, além de ser uma propaganda para a criminalização de atos públicos no Brasil. Isso porque, segundo a Constituição, não existe limite para a liberdade de expressão. Algumas das prisões são absolutamente desumanas, com alguns casos de pessoas que pegaram 17 anos.
O que aconteceu naquele dia foi simplesmente uma manifestação pública, ainda que o conteúdo das manifestações pedisse o fim do governo eleito, coisa que, aliás, a esquerda fez inúmeras vezes na história contra governos direitistas. Se houve algum caso de vandalismo, o indivíduo que cometeu o ato deve ser punido por isso, não pelo conteúdo de suas ideias, sejam elas quais forem.
O que Uchôa pede em sua coluna, acaba por ser uma defesa do fim do direito à manifestação no Brasil, pois, pelo que já vimos da justiça no Brasil, seu alvo preferido é a esquerda, como vimos durante os processos do Mensalão e da Lava Jato. Uchôa também argumenta, como vemos abaixo, que a justiça teve o papel de punir os manifestantes de forma que se sinalize que manifestações do tipo tenham “consequências severas”, papel que não cabe à justiça, já que não é dever da justiça em um Estado de direito dar punições exemplares ou severas para a população.
“À frente de decisões cruciais, coordenou inquéritos viabilizando ações que resultaram em avanços concretos, como a condenação de 371 pessoas diretamente envolvidas nos ataques, com penas chegando a 17 anos de prisão, sinalizando que os atos antidemocráticos teriam consequências severas.”
Por fim, a matéria acaba por demonstrar como nada foi realmente feito com quem organizou as manifestações, demonstrando como o STF não teve coragem em mexer com o pessoal mais poderoso. No entanto, Uchôa pede mais punições:
“Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios sobremaneira significativos. Passados dois anos, os principais financiadores, autores intelectuais e altas autoridades que apoiaram a trama golpista seguem fora do alcance da Justiça. A impunidade lança dúvidas sobre as conquistas obtidas e alimenta questionamentos sobre o comprometimento das autoridades competentes no enfrentamento do problema em sua totalidade.”
Ao abraçar a tese de que o que ocorreu no dia 08 de janeiro de 2023 foi um golpe de Estado e tentar a todo custo punir seus responsáveis, a esquerda no geral acaba caindo no esquecimento de que o Brasil passou por um golpe de Estado real, com a derrubada de Dilma em 2016. Esse processo acaba por perdoar pessoas que foram muito atuantes no golpe real, como todo o STF, além de personalidades que hoje estão no governo de Lula, como Alckmin e Marina Silva.