O caso dos manifestantes de 8 de janeiro de 2023 serviu, pelo menos, para revelar a tendência altamente repressiva da esquerda pequeno- burguesa, que, no afã de resolver o seu problema com seus opositores políticos, e por pura preguiça e covardia, se encostaram em Alexandre de Moraes e no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em texto recente publicado no Brasil 247, o articulista Jefferson Miola afirma que o “palanque da Paulista mostra que disputa de 2026 será entre democracia e golpe” e que “a anistia não é um mero ato político ou ideológico, porque é um posicionamento contra a democracia; é um movimento que afronta a Constituição”.
O texto começa afirmando que o ato em defesa da anistia, em São Paulo, do último final de semana foi um “palanque fundamentalista-religioso da avenida Paulista por onde desfilaram governadores e políticos de direita e extrema-direita” e que isto “evidencia que na eleição de 2026 a disputa real será entre a democracia e o golpe”.
Chamar de fundamentalistas os manifestantes (todos) do ato da avenida Paulista é uma acusação que serve para animar o leitor para, em seguida, defender qualquer sorte de repressão contra eles. Os árabes estão bem acostumados com isso.
Por outro lado, não, o ato não prova que a disputa será entre democracia e golpe, posto que boa parte das eleições de 2026 serão controlada pelos mesmos golpistas que realizaram o golpe de 2016 e controlaram as eleições de 2018, com Lula na cadeia. Ou seja, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Polícia Federal e toda sorte de polícias que existe no Brasil, e, por fim e não menos autoritário, o STF, que chancelou todos os golpes que o Brasil sofreu até hoje.
“Os oradores foram monocórdios. Nos discursos, mostraram coesão total nos ataques ao STF e à democracia. Almejam uma ruptura institucional.”
Discurso não é crime. Por este raciocínio, quando a esquerda fala em revolução também pode-se inferir que se pretende uma ruptura institucional, o que é verdade, e defendê-lo não é crime, mas liberdade de expressão e pensamento.
“Os criminosos que tentaram perpetrar o golpe de Estado receberam defesa incondicional das lideranças radicalizadas”.
Se houve depredação de patrimônio, as pessoas devem ser julgadas por sua conduta, ou seja, pelo que cada uma fez. Não um julgamento político, generalizado, de um crime que sequer deveria existir que é “tentativa de golpe de estado”.
“Todos naquele palanque que reuniu o chorume fascista na verdade não defendem a anistia para os criminosos já condenados e presos, mas defendem a impunidade para Bolsonaro e os altos oficiais das Forças Armadas”.
Uma coisa não impede a outra. Se os manifestantes do 8 de janeiro devem ser anistiados, os demais, supostos mandantes, também. Ou a anistia só valeria para alguns e outros não? E qual seria esse critério? Sentimental?
Repetindo a ladainha furada da Procuradoria-Geral da República, que armou uma denúncia flagrantemente ilegal, o redator afirma que a PGR “destacou que os ultradireitistas civis e militares ‘integraram, de maneira livre, consciente e voluntária, uma organização criminosa constituída desde pelo menos o dia 29 de junho de 2021 e operando até o dia 8 de janeiro de 2023, com o emprego de armas’”.
Ora vejam só: a esquerda defendendo um documento criminal totalmente irregular onde todas as pessoas, desde 29 de junho de 2021 (pasmem, quando Bolsonaro ainda era presidente) até 8 de janeiro de 2023 articularam um golpe de estado com emprego de armas! Todas fizeram tudo. Essa é a descrição óbvia de uma perseguição política.
Sem opinião própria, baseando-se nas instituições repressivas do regime, o autor afirma ainda que:
“A denúncia da PGR descreve que essa ‘organização criminosa armada utilizou violência e grave ameaça com o objetivo de impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor um governo legitimamente eleito’”.
Sendo um domingo o dia daquelas manifestações, em Brasília (DF), é até jocoso falar em impedir o funcionamento do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF e o restante do Judiciário local. Esses poderes mal funcionam em dia útil, que dirá em um tremendo domingão, com transcorridos apenas sete dias após a festa de virada do ano. Fora que até hoje não mostraram um revólver calibre 22, que fosse.
“Não existem argumentos sérios e aceitáveis que consigam apagar as imagens gravadas do 8 de janeiro. As cenas horrorosas da horda fascista destruindo as sedes dos três poderes da República ficarão eternizadas na história do Brasil”.
Existem muitos argumentos, aliás, centenas, para anular o processo inteiro. Um deles é que a vítima é o juiz (Sr. Xandão), e investigador também. Além de ele próprio apresentar as provas. Este vídeo, exibido durante a sessão que recebeu a denúncia contra Bolsonaro e outros, foi exibido pelo próprio ministro Alexandre de Moraes. Fora toda a nulidade processual, de acusações coletivas, genéricas, falta de provas da conduta de cada um, supressão de instâncias, que vai impedir qualquer recurso, enfim, o processo é uma farsa total.
“As imagens são eloquentes e definitivas”. O redator esquece que esse discurso é o mesmo fornecido pela imprensa e pelo judiciário quando a esquerda realizou manifestações em Brasília, e, em muitas delas, o resultado foi invasão e quebra-quebra. Afinal, quem haverá de conter o ódio do povo contra as ditas instituições democráticas?
“O inquérito da PF e a denúncia oferecida ao STF pela PGR são peças primorosas de altíssimo valor técnico-jurídico. Não deixam dúvidas acerca da gravidade do processo engendrado por Bolsonaro e militares para esmagar nossa democracia e perpetrar o golpe de Estado”.
Fora o fato de que o inquérito parece ter sido produzido pelo Santo Ofício, todo o resto deixa a mais completa dúvida sobre o potencial golpista daqueles manifestantes. O caso do batom entrega que esse potencial era nulo, e extrair dali uma tentativa de golpe é uma malandragem política descarada e covarde.
Isso sem mencionar que os que DERAM o golpe de 2016 estão todos aí, livres, leves e soltos. A começar pela rainha do golpe de Estado, a Rede Globo de televisão, passando pelos lavajatistas que estão, até hoje, dentro do STF,do TSE e quase todo Poder Judiciário e das forças policiais.
Defender, portanto, a suposta anistia aos criminosos do 8 de janeiro significa, na verdade, deixar impunes os líderes da organização criminosa armada.
“A anistia não é um mero ato político ou ideológico, porque é um posicionamento contra a democracia; é um movimento que afronta a Constituição”. Conceder anistia não é ato contra a democracia, especialmente quando aquela gente nem deveria ter sido presa em razão de danos patrimoniais. Manter pessoas presas sem justificativa, sem o contraditório e ampla defesa, isso sim, ofende os direitos democráticos.
A “democracia” como a esquerda pequeno burguesa fala; como a imprensa capitalista fala, como Moraes e o STF falam, significa o Estado, pura e simplesmente. Ocorre que o Estado e suas instituições não são a democracia. E lutar contra um estado opressor é um direito de qualquer pessoa ou organização.
A política imperialista impôs, e no Brasil está a todo vapor, a política da dita democracia contra o fascismo. A pressão é para que os ditos fascistas (Bolsonaro, Trump e outros) sejam substituídos por políticos tradicionais do imperialismo, como Fernando Henrique Cardoso e outros dessa natureza.
E conclui: “em 2026 o Brasil não estará diante de nenhuma ‘escolha muito difícil’: a disputa será entre democracia ou golpe; entre democracia ou quebra institucional”.
Por fim, chamar de fundamentalista-religioso aquele que esteve nas manifestações do último domingo significa resumir o movimento bolsonarista a uma horda de ‘gados’, de fanáticos, de malucos.
Não é assim. O bolsonarismo atingiu, estatisticamente, metade da população. Foi o que nos comprovou o resultado das eleições de 2022. Com esta política, a esquerda só irá se indispor ainda mais com um setor popular que está legitimamente revoltado.