Polêmica

A esquerda e a disputa por palavras

Embora o imperialismo se prepare para uma III Guerra Mundial, articulista acredita em teoria de campos e que a China liderará um bloco que substituirá o imperialista

Imperialismo e petróleo

O texto Declínio ou decadência do imperialismo, de Emir Sader, que o Brasil 247 publicou neste domingo (3), promove a conhecida guerra por palavras ou termos, muito comum nos meios acadêmicos e em muitos setores da esquerda, especialmente o identitário. No entanto, é preciso sempre olhar com cuidado, pois atrás dessas “disputas” se escondem concepções políticas.

Sader inicia seu texto dizendo que “a primeira metade do século XXI é um período histórico especial, já pela quebra da onipotência que o imperialismo norte-americano exibia na segunda metade do século passado”. E continua dizendo que “era, inquestionavelmente, a maior potência política, econômica e militar do mundo. Um poderio que só foi quebrado em circunstâncias determinadas, como na Guerra do Vietnã e em Cuba”.

O autor diz que “neste século, iniciou-se o declínio econômico dos Estados Unidos, que já não possuem o poderio econômico do século passado”, o que é estranho, pois havia acabado de falar da derrota no Vietnã, cuja retirada se deu em 1075.

Sader deve ter se esquecido que, um pouco antes, em 1971, ocorreu o fim da conversibilidade do dólar em ouro e em 1973 passou a vigorar a taxa de câmbio flutuante. No ano seguinte, 1974, houve a primeira crise do petróleo, que quadruplicou o preço dos combustíveis provocando estagflação generalizada.

Não bastasse o quadro descrito acima, em 1979-1980, foi a vez da segunda crise do petróleo, motivada pela Revolução Iraniana, que retirou do poder o xá Reza Pahlevi, fantoche do imperialismo.

Desde o Vietnã, o imperialismo vem sofrendo derrotas cada vez mais acachapantes. Perdeu no Iraque, no Afeganistão, na Síria, na Ucrânia, em diversos países africanos. “Israel”, o braço armado do imperialismo no Oriente Médio, vem sofrendo derrotas sucessivas para o Hesbolá, do Líbano. Os sionistas acabaram de sofrer uma derrota humilhante para o Irã; mas, principalmente, entrou em uma crise sem precedentes ao sofrer inúmeras baixas no campo de batalha na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, quando o Eixo da Resistência iniciou a operação Dilúvio de Al-Aqsa.

Vale destacar que a crise não é apenas de “Israel”, mas do imperialismo como um todo, que fornece armas, apoio logístico, financeiro e mesmo soldados contra o povo palestino.

O exército sionista está se decompondo, há o relato de dezenas de suicídios entre soldados. Recentemente, enormes manifestações tomaram as ruas contra o governo Netaniahu, que também vem sofrendo pressão internacional, especialmente do imperialismo, que quer o fim dos combates antes que fique impossível de se esconder a derrota.

Neolilberalismo

Como resposta à crise monumental que rompeu a superfície na década de 1970, o imperialismo tratou de implementar o neoliberalismo, uma política econômica que visa destruir os meios de produção na tentativa de manter a lucratividade.

O capital migrou quase todo do setor produtivo para o financeiro, acentuando como nunca seu caráter parasitário.

A produção foi deslocada de grandes centros industriais, como nos EUA, para os chamados Tigres Asiáticos e depois para a China, atrás de mão de obra abundante e muito barata.

O choque neoliberal vem provocando reação em todo o mundo. Foi o que acelerou o fim da URSS, e também fez nascer revoltas como na Venezuela, dentre outros.

A solução “mágica” do imperialismo é tentar dosar a crise em crises menores, ou despejar o ônus sobre os Estados, como no crise de 2008 (que ainda não foi superada), quando no mundo foram despejados no mercado algo entre US$ 20-30 trilhões de dinheiro público em medidas diretas e indiretas.

Nos Estados Unidos, o principal país imperialista, apenas o pagamento de juros da dívida supera US$ 1 trilhão, e estima-se quem em sete anos será o dobro.

Campismo

Emir Sader repete em seu texto a tese furada dos blocos. Escreve que “a Guerra Fria permitia um equilíbrio entre o campo imperialista e o campo soviético, por razões militares. Desde que a URSS teve acesso à bomba atômica, as duas superpotências poderiam aniquilar-se mutuamente. Daí a Guerra Fria e o equilíbrio entre as duas maiores potências do mundo”.

Todo marxista sabe, está expresso na luta de classes, que o mundo nunca esteve dividido em blocos, mas entre países ricos e pobres. A divisão dos “campos” serve a diversos propósitos. Para o imperialismo: como ferramenta para perseguições contra os socialistas; justificativa de guerras, golpes de Estado etc. Do outro lado, serviu para os stalinistas perseguirem opositores e calarem todos os que ousassem criticar o regime, que eram logo acusados de traidores e pró-imperialistas.

Insistindo na divisão dos blocos, Emir Sader sustenta que, com o fim da União Soviética, os Estados Unidos viveram a ilusão de que “poderiam reinar como a única superpotência no mundo, essa ilusão se desvaneceu rapidamente, quando se deram conta da existência do BRICS – uma aliança, pela primeira vez, entre a China, a Rússia, o Brasil, entre outros tantos países”.

Em seguida, Sader completa dizendo que “o mundo voltava a ser dividido entre dois blocos. Mas, desta vez, a relação entre eles passou a ser diferente. Se, na Guerra Fria, a superioridade econômica dos Estados Unidos era evidente, agora a força econômica da China se impõe. Se, na Guerra Fria, o único equilíbrio entre os dois blocos era militar, agora, diante do BRICS, ele é também político e econômico”.

“Multipolaridade”

Emir Sader deveria se perguntar como em um mundo governado com mão de ferro pelo imperialismo é possível que haja tantas derrotas militares e ainda formação de um consórcio como o BRICS? Em vez de reconhecer a franca derrocada do imperialismo, diz que o novo equilíbrio mundial é diferente daquele existente na Guerra Fria anterior. Desta vez, o poderio norte-americano é declinante; sua tendência não é de fortalecimento, mas de enfraquecimento, tanto econômico quanto político.” – [grifo nosso].

Não existe isso de “novo equilíbrio”, o imperialismo não pode conviver com “outros polos”, é por isso que caminha rapidamente para o confronto militar. A Europa está em uma corrida armamentista e se prepara para III Guerra Mundial.

Na sua disputa por palavras, Sader alega que embora a tendência seja a de passar de declínio a decadência, se as tendências atuais se confirmarem e se consolidarem. Porque a tendência econômica é a de que a China se torne a maior potência econômica do mundo. Que o Brasil se fortaleça como potência intermediária emergente. Assim como o BRICS se expanda, com a adesão de um número cada vez maior de países”.

É uma ilusão, Sader propõe que o imperialismo vai passar o bastão, jogar a toalha, não vê que o cerco contra a China está se fechando.

A esquerda precisa combater como nunca o imperialismo que, apesar de decadente, é muito poderoso e vai cair atirando.

O papel da classe trabalhadora é se antecipar e se opor. Precisa denunciar os movimentos belicistas que podem levar o mundo a uma catástrofe. A organização dos trabalhadores é a única força capaz de parar o imperialismo, por isso precisa estar consciente e não deve se deixar enganar por teorias sem fundamento, como a multipolaridade, ou uma transição pacífica proporcionada pelo aumento de importância de determinado “bloco econômico”.

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