Polêmica

A ‘esquerda’ Cláudio Castro

Articulista se propõe a fazer uma análise sobre a chacina no Rio, mas o que ele mais consegue pensar é em votos e candidatos. Prova que o principal não é o trabalhador

Cláudio Castro

O artigo A direita é de direita. A esquerda tem que ser de esquerda, de Emir Sader, publicado no Brasil247 neste sábado (2), deixa uma coisa clara: a esquerda tem se comportado muito como direita.

Segundo o articulista, na direita, já há um novo herói. Ele surgiu na quarta-feira, com uma operação classificada por muitos como terrorismo de Estado, marcada por uma das maiores chacinas da história recente do Brasil”. No entanto, essa afirmação não é tão simples. A chacina gerou muito revolta, e há uma verdadeira operação de guerra para tentar lavar o sangue e a figura de Cláudio Castro.

Na grande imprensa, há centenas, talvez milhares, de artigos falando sobre a violência no Rio, o crime organizado, fuzis etc. Em meio a isso, a burguesia foi obrigada a tirar da cartola uma pesquisa absurda que diz que a maioria dos moradores nas favelas apoiaram a matança.

É muito precipitado dizer que o governador do Rio é “esse herói, para o campo conservador”, pois o mesmo recebeu críticas vindas da direita. Que espécie de combate ao crime é esse, com, até agora, 134 mortos e a “dificuldade de identificação dos corpos, muitos deles mutilados”? Está claro que foi apenas uma operação de extermínio.

Não há heroísmo. O que existe, no entanto, é uma grande apatia na esquerda, que não exige a apuração desse crime monstruoso. E não exige por um único motivo, não quer se indispor com a classe média e perder votos.

A maioria da esquerda não quer ser confundida com “defensora de bandido”. Em vez de enfrentar a questão, fica repetindo que Lula é quem tem um verdadeiro plano para combater o crime. Ou seja, é o mesmo discurso da direita.

Como prova desse endireitamento, pode-se citar o próprio texto de Sader, que diz que o analista Marcelo Zero resume a tragédia e “expõe a contradição da operação: nenhum dos supostos dirigentes do Comando Vermelho está entre os identificados; entre os mortos, 39 não tinham qualquer antecedente criminal; e 72 não possuíam mandados de prisão pendentes”.

Não faz a menor diferença se tivessem assassinado dirigentes do Comando Vermelho. Não interessam antecedentes criminais ou mandados de prisão. Não existe justificativa para a polícia matar alguém que não seja em legítima defesa. É horrível alguém de esquerda afirmar que “em síntese, os chefes do tráfico continuam vivos — mas dezenas de inocentes foram mortos”. Se tivessem assassinado os chefes do tráfico seria crime do mesmo jeito. No Brasil não existe pena de morte. E a esquerda tem que exigir que o Estado cumpra a lei.

Capitulação

Para Emir Sader, o episódio teria gerado “dividendos políticos”. Segundo diz, “Cláudio Castro emergiu como novo símbolo da ‘mão dura’, recebendo apoio público de governadores aliados que correram ao Rio de Janeiro para manifestar solidariedade”.

O articulista deveria se perguntar do porquê da necessidade de governadores correrem para o Rio. Talvez a posição do governador não seja assim tão sólida. Porém, para o articulista, o que importa é que, para ele, “setores da direita enxergam em Castro um novo candidato competitivo”.

Emir Sader afirma que Castro “personifica, segundo críticos, a essência da direita brasileira contemporânea: a exaltação da violência como política pública, o ódio aos pobres, o antipetismo visceral, a oposição aos gastos sociais, o alinhamento a figuras como Donald Trump e Javier Milei e o discurso de intolerância travestido de ordem”. Mas a questão é: Por que não existe uma violenta oposição da esquerda?

Fica um jogo de comadres. Sader diz que “agora, abre-se a guerra de interpretações. Algumas pesquisas — de metodologia questionável — apontam apoio expressivo a Castro, tanto no Rio de Janeiro quanto em outras regiões”. Ou seja, em vez de denunciar essa farsa de pesquisa que, diga-se de passagem, é criminosa, porque tenta esconder um crime bárbaro, esses senhores da “esquerda” ficam debatendo que “especialistas” teriam dito isso ou aquilo.

A esquerda tem que ser de esquerda? Então, por que fica nessa conversa mole de metodologias, mandados de prisão, passagem pela polícia? Não interessa o que dizem os especialistas, qualquer criança sabe que é uma fraude a tal pesquisa, é uma operação de acobertamento.

Propostas vagas

Indo para o final do texto, Sader diz já sem energia que “o debate sobre alternativas — como a descriminalização das drogas leves, adotada com sucesso no Uruguai — segue interditado por interesses econômicos e políticos ligados ao narcotráfico e à militarização da segurança”. Nesse terreno a esquerda também é frouxa. Não quer se comprometer defendendo a legalização do uso de drogas, e não apenas as “leves”, pois tem um cálculo em mente: a quantidade de votos que isso pode custar. É o mesmo que se faz com relação ao aborto.

O voto, os cargos, essa é a grande questão. Tanto é assim que Sader reafirma que “a direita sai dessa chacina com um candidato fortalecido”.

Em seu penúltimo parágrafo, Sader diz que se a direita sai como um candidato forte da chacina, “a esquerda, com as denúncias, a indignação e a responsabilidade do governo Lula em apoiar o estado do Rio de Janeiro”.

O que significa “apoiar o estado do Rio de Janeiro”? Estará propondo aliança com setores mais “democráticos”, que matem menos?

Em vez de propor uma política independente, de oposição, de se apresentar como porta-voz da luta do povo massacrado do Rio de Janeiro, Sader lança um “apoiar o estado”, que é em si uma política reacionária e de colaboração de classes.

No final das contas, o articulista concorda que o problema é mesmo a violência. No máximo, diverge dos métodos de “combate”.

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