Guerra na Palestina

A eleição do general Aoun no Líbano foi uma derrota do Hesbolá?

O candidato eleito era apoiado pelos EUA e pela Arábia Saudita, mas ele só pode vencer assumir aceitando as exigências do Hesbolá

O resultado das eleições presidenciais no Líbano, realizadas de forma indireta no parlamento, chocou muitas pessoas que não compreendem a política do país. No fim, o candidato apoiado pelos EUA e pela Arábia Saudita, o comandante das forças armadas, general Joseph Aoun, venceu as eleições. Mas há uma questão crucial, ele não venceu as eleições contra o Hesbolá, ele só pode vencer com o apoio direto dos votos do Hesbolá. Ou seja, um acordo foi feito, um compromisso, e ao que tudo indica, a resistência teve vitórias nessa eleição.

Após as eleições, Mohammed Raad, chefe do Bloco de Lealdade à Resistência (Hesbolá no parlamento), saudou “os mártires da resistência que protegeram o país para que a sessão pudesse ser realizada e para alcançar o acordo nacional neste período difícil. Ao adiar nosso voto para Sua Excelência o Presidente, queríamos transmitir a mensagem de que somos os garantidores do acordo nacional”.

O consenso foi alcançado antes da segunda rodada de eleições, durante uma reunião que Mohammad Raad e Ali Hassan Khalil, do Amal, partido aliado do Hesbolá, realizaram com Joseph Aoun, que acalmou as preocupações militares, de segurança e políticas da aliança xiita. O entendimento focou nas questões políticas atuais, especialmente na reconstrução, formação de um governo nacional e preservação das conquistas do movimento de resistência.

Joseph Aoun comprometeu-se a reconstruir o que o inimigo israelense destruiu, assegurando: “nossos mártires são o espírito de nossa determinação e nossos prisioneiros são uma confiança em nossos pescoços”.

A embaixada iraniana em Beirute expressou suas congratulações à “Irmandade Líbano pela eleição do General Joseph Aoun como Presidente da República em um clima de consenso abrangente”.

Ao mesmo tempo, Amos Hochstein, enviado presidencial dos EUA para o Líbano, afirmou que a eleição de Aoun é “um passo em direção à paz e estabilidade no Líbano”. Ursula Gertrude von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, também a considerou um “raio de esperança” para o Líbano. Jeanine Hennis-Plasschaert, coordenadora especial da ONU para o Líbano, também destacou a necessidade de acelerar a formação de um novo gabinete “pois as tarefas que estão sobre os ombros do Estado libanês são extremamente grandes e não podem mais tolerar desperdício de tempo”.

Ou seja, os principais representantes do imperialismo saudaram a eleição de Joseph Aoun, ao mesmo tempo que a resistência e os iranianos também felicitaram o resultado. Parece algo impossível, mas é algo que já aconteceu mais de uma vez com os movimentos nacionalistas. Aqui vale citar o caso Vargas no Brasil.

O governo de Vargas, foi um governo do nacionalismo burguês que surgiu da Revolução de 1930. Ele de fato desenvolveu o Brasil economicamente, mas ao mesmo tempo fechou acordos com o imperialismo. A situação da guerra mundial permitiu inclusive bons acordos. O caso famoso foi o da construção da CSN, a primeira indústria siderúrgica do País. Em troca da tecnologia para construí-la o Brasil permitiu que os EUA montassem uma base militar no Rio Grande do Norte.

Isso é um acordo real, o imperialismo ganha uma base militar no Brasil, algo terrível para a nação. Mas o Brasil ganhou muito com uma das principais bases da indústria nacional sendo construídas. Além da CSN também surgiu a Vale do Rio Doce, duas das mais importantes empresas estatais em toda a história nacional. Isso só foi possível porque na época o Brasil era forte, havia passado por uma revolução, e os EUA estavam mais vulneráveis devido a guerra.

No caso do Líbano algo semelhante aconteceu. O Hesbolá é forte, ganhou a guerra contra “Israel” que foi totalmente incapaz de invadir o sul do Líbano. Teve um ganho político gigantesco ao defender a Palestina por meio das armas por 14 meses. Ou seja, pode se impor para o candidato apoiado pelo imperialismo. Na primeira votação eles votaram em branco, impedindo o de vencer. Depois da reunião, quando o acordo foi feito, votaram a favor dele. Os EUA ganharam um presidente, a resistência teve ganhos que ainda não são públicos.

Um presidente sem muito poder

Por fim, é preciso destacar um aspecto crucial, o presidente no Líbano não deve ser considerado uma figura de grande poder como o presidente do Brasil. O país recentemente ficou mais de 2 anos sem presidente, isso seria impossível no Brasil. Isso porque o poder é muito dividido. Os xiitas têm a presidência do parlamento, os sunitas o primeiro-ministro, os cristãos maronitas tem a presidência.

O imperialismo tem a sua principal base entre os cristãos, a resistência entre os xiitas. Ou seja, a presidência em si é o cargo mais difícil de ser conquistado pelo Hesbolá. Eles possuíam um candidato do partido Marada, mas a correlação de forças não permitia que ele vencesse.

E nesse sistema que é a pessoa que tem mais poder? Isso fica claro no momento de uma grande crise política. Quando “Israel” iniciou sua ofensiva pesada em setembro de 2024, assassinado a liderança do Hesbolá e invadindo o Líbano, quem se tornou o homem forte do governo foi Nabhi Beri, o xiita presidente do parlamento e aliado do Hesbolá.

Na prática o Estado é muito fraco no Líbano e isso torna os aliados do Hesbolá muito fortes. Isso porque o partido é de fato o mais popular do país, o que tem mais votos e, principalmente, o que tem mais armas. O imperialismo só conseguiu eleger um candidato que fosse aceito pelo Hesbolá, o que mostra que ele é a maior força política do Líbano sem sombra de dúvida.

 

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