O artigo de Marcelo Coelho, publicado pelo Poder360, é um retrato fiel da operação imprensa burguesa para legitimar a perseguição política conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e apresentar a ofensiva do regime contra a população como um “avanço da democracia”.
O articulista afirma que o julgamento dos acusados de “golpismo” seria histórico por ter condenado generais de quatro estrelas e que, pela primeira vez, os quartéis teriam se calado. Isso não passa de uma mistificação. O que está em curso não é a defesa do “poder civil republicano”, mas sim o fortalecimento de um regime de exceção, comandado por Alexandre de Moraes e pelo próprio STF, que se arrogaram poderes ditatoriais de cassar mandatos, prender adversários políticos e definir, de acordo com sua conveniência, quem pode ou não participar da vida política do país. Logicamente, só é possível haver um poder ditatorial assim se ele tiver o apoio das Forças Armadas. Os generais que estão sendo julgados são um setor muito mais fraco das Forças Armadas e não representam os interesses da cúpula militar.
Coelho chega a elogiar a “aula didática” de Moraes sobre a diferença entre golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O ministro, segundo o jornalista, teria até “confundido” ao tipificar como criminosas a Proclamação da República e a Revolução de 1930. Aqui se encontra o ponto central: para a Justiça atual, qualquer levante popular, qualquer ato revolucionário contra o regime vigente pode ser classificado como “crime”. É a consagração de uma ditadura que busca neutralizar, de antemão, a ação das massas contra o regime político e a dominação imperialista.
A ideia de que vivemos agora uma era em que “a impunidade acabou” é igualmente risível. O autor finge esquecer que os principais corruptos da política nacional sempre foram salvos pelo mesmo Judiciário que hoje se coloca como guardião da “democracia”. A suposta “punição inédita” a militares não passa de cortina de fumaça: o que está em jogo é a domesticação do bolsonarismo para que este endosse os planos da burguesia para as eleições de 2026.
O texto de Coelho ainda sugere que a repressão aos apoiadores de Bolsonaro serviria de advertência para futuros “levantes populares legítimos”. Ou seja, reconhece que o que o STF está construindo é um regime pronto para esmagar qualquer mobilização, inclusive do povo trabalhador. Essa é a essência do golpe em curso: retirar do povo o direito de se rebelar contra a ordem imposta.
A verdadeira lição desse julgamento não é a “didática” de Moraes nem a “maturidade democrática” do STF. A lição é que o regime político apodrecido entrou em colapso e só se sustenta pela repressão.




