O colapso do Sudão não é um fenômeno natural, mas sim uma desmontagem planejada orquestrada pelo imperialismo ao longo de mais de duas décadas. Por trás das manchetes que falam em “guerra civil”, escondem-se os interesses políticos dos EUA e de seus lacaios europeus. Embora os Emirados Árabes Unidos (EAU) sejam frequentemente apontados como os principais responsáveis pela catástrofe humanitária, a verdade é que essa crise profunda é parte de uma política oficial de Washington para transformar o Sudão em um Estado fracassado, enquanto as ditaduras árabes, como Catar, EAU e afins são apenas utilizados como armas. O objetivo é se expandir e punir qualquer país que apoie a libertação da Palestina.
O Sudão, que já foi um eixo central do chamado Eixo da Resistência, conectando Irã, Palestina e Líbano e funcionando como um corredor logístico para armas destinadas a Gaza e ao Sul do Líbano, pagou caro por sua postura independente e sua solidariedade com a Palestina. Assim como ocorreu com a Líbia e o Iraque, seu destino foi destruído por rejeitar a hegemonia ocidental. No comando dessa ofensiva repulsiva estão “Israel” e os Emirados Árabes Unidos, países artificiais que atendem confiáveis dos EUA, que realizam o que o império não faz explicitamente: guerras por procuração, captura de recursos naturais e destruição interna da resistência. “Israel” aporta inteligência e a parte estratégica, enquanto os EAU financiam e armam milícias, criando uma máquina de guerra competente.
Essa guerra não é apenas regional: o Sudão ocupa uma posição crucial na ligação entre o Mar Vermelho, o Sahel e o Chifre da África, regiões estas que são estratégicas para a iniciativa do Cinturão e Rota da China e a rede comercial russa. Seus portos são portas para a riqueza mineral africana, que poderia integrar uma economia multipolar livre do controle do dólar. Se isto acontecesse, seria uma derrota existencial para Washington, que há décadas usa o FMI, o Banco Mundial e o sistema petrodólar para submeter as nações de capitalismo atrasado ao endividamento e à dependência.
O plano dos EUA, ao destruir o Sudão, é enfraquecer o Eixo da Resistência e a iniciativa do Cinturão e Rota, bloqueando a presença de Pequim, Moscou e Teerã na África por um lado enquanto, pelo outro, minam uma rota da heróica resistência palestina. Essa é a mesma lógica de destruição imperial que devastou a Líbia, a Síria e o Iêmen: quem rejeitar o capital ocidental e buscar independência deve ser desestabilizado, dividido e submetido pela fome e ao genocídio.
A campanha contra o Sudão começou muito antes do conflito atual. Em 2019, após anos de sanções e interferência da CIA, Washington e seus aliados do Golfo forçaram a queda de Omar al-Bashir alegando “reforma democrática”. Bashir tentou se aproximar do Ocidente, cortando laços com o Irã sob pressão do Golfo, mas foi derrubado mesmo assim. Assim como aconteceu com Gaddafi, seu erro fatal foi tentar negociar para manter a soberania.
Durante os anos 2000, o Sudão foi rotulado por Washington como “Estado patrocinador do terrorismo”, mas não pelo que fez e sim por quem apoiava. O conflito em Darfur serviu de palco para o teatro humanitário usado para justificar a intervenção imperialista, orquestrada por “think tanks”, ONGs e agências de inteligência ocidentais e israelenses. Celebridades como George Clooney e Angelina Jolie foram instrumentos de uma campanha para mascarar a pilhagem dos recursos do país enquanto o povo sofria.
Hoje, os Emirados Árabes Unidos emergiram como o coração da intervenção imperialista no Sudão, financiando golpes, armando milícias (como as Forças de Apoio Rápido [RSF]) e lavando ouro obtido em condições brutais. Empresas ligadas aos EAU dominam minas de ouro, enviando o metal para Dubai e apagando sua origem, enquanto a Schlumberger, empresa petrolífera ocidental, retorna como parte de um plano de “reconstrução” que ocorre enquanto mais pessoas morrem de fome e cidades viram ruínas. Tal conflito é alimentado por forças treinadas e financiadas para guerras externas, como no Iêmen, que hoje massacram civis e controlam economias locais. Mulheres são estupradas, vilarejos destruídos e hospitais bombardeados: é isso o que o império chama de “intervenção” ou “estabilidade”: genocídio e saque planejado.
“Israel” e os EAU garantem controle sobre rotas comerciais estratégicas no Mar Vermelho, fundamentais para o comércio global, especialmente para Israel em meio ao bloqueio de Gaza. Eles usam a narrativa da luta contra o terror para justificar a ocupação e o saque. O ouro e o petróleo do Sudão alimentam as economias imperialistas, financiando empresas de defesa, bancos e cadeias de tecnologia em Telavive, Londres e Nova Iorque.
Essa destruição é um aviso para todos os países que buscam romper com o dólar e construir uma ordem multipolar justa. Não é por acaso que a repressão ocorre principalmente contra países que se alinham com China, Rússia, Irã e defendem a Palestina e a soberania dos povos oprimidos. No fim, a tragédia do Sudão não é acidente nem “conflito tribal”, mas o resultado da “democracia” imperialista: uma “democracia” que é, na verdade, escravidão marcada pela fome, guerra e colonização. A linha de frente deste conflito é o Sudão, onde se cruzam a luta pela liberdade da Palestina, a guerra pelo controle da África e a disputa global contra quem desafie o imperialismo.
Esta é a cruel realidade do colonialismo do século XXI, o rosto sombrio de uma luta mundial entre um mundo que defende a soberania e outro que se recusa a abrir mão de sua hegemonia.




