Durante o julgamento de Jair Bolsonaro (PL), quando faltava apenas um voto para o ex-presidente ser condenado no processo da “trama golpista”, o youtuber Jones Manoel, do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), publicou em seu canal um vídeo curto intitulado A condenação de Bolsonaro, o voto de Fux e a morte de Charlie Kirk.
O objetivo central de Manoel é demonstrar sua frustração com a burguesia brasileira, pois esta teria se negado a julgar Bolsonaro pelos crimes cometidos durante a pandemia de coronavírus. Disse ele: “o grande problema, ao meu ver, é que para a burguesia brasileira não é um problema Bolsonaro ter matado mais de 700.000 brasileiros durante a pandemia”.
A colocação é interessante porque Manoel nem esconde que quem está condenando Bolsonaro é a burguesia, e não “o povo”, “o Brasil”, “a democracia” ou “a Justiça”, como costumam dizer os ideólogos da esquerda pequeno-burguesa. O youtuber já apresenta, de imediato, que defender a condenação de Bolsonaro é formar uma frente com a burguesia.
E não se trata de uma frente qualquer. Ou a burguesia está arrastando a esquerda para apoiar a sua política, ou a esquerda teria imposto à burguesia o seu programa. Não é difícil entender o que acontece, neste caso. Não há absolutamente nenhum movimento popular pedindo a condenação de Bolsonaro. A burguesia não está sendo pressionada pelo povo. Basta observar os atos de 7 de setembro, quando os bolsonaristas levaram dez vezes mais pessoas para as ruas que a esquerda.
A condenação de Bolsonaro é dirigida pelos capitalistas e ponto. O objetivo, que Jones Manoel não explica, é simples e claro: manipular as eleições de 2026. E como se trata de uma manobra antidemocrática dirigida por uma classe reacionária, os métodos utilizados são profundamente reacionários, que servem para desferir outros ataques contra a população.
Ao condenar Bolsonaro sem provas, por exemplo, o processo serve para estabelecer novas ilegalidades no regime jurídico brasileiro. Assim como para reintroduzir a delação premiada e para tornar crime as manifestações com ocupação de prédios.
A única posição possível para a esquerda, portanto, seria a de denunciar a manobra da burguesia. Mas não é o que Jones Manoel faz:
“Bolsonaro vai ser preso. Eu vou comemorar. Vou. Vai sair a notícia provavelmente na sexta-feira. Vou estar no mato, na cervejinha, eu e minha esposa. Vai ser ótimo, vai ser maravilhoso. A gente vai comemorar sim, vai ficar feliz sim.”
Ou seja, para ele, o fato de a burguesia estar avançando com seu programa político — sem trazer um único avanço para os trabalhadores — é motivo de comemoração. Neste sentido, o que Manoel diz acerca da pandemia ganha um outro significado: ele se vê “frustrado” com a burguesia porque sua política, no final das contas, é torcer para que a burguesia aja. Jones Manoel se diz de esquerda, mas é uma espécie de puxa-saco dos agentes políticos do grande capital.
E é por isso que ele se decepciona. Não passa pela cabeça do youtuber travar uma luta política contra o bolsonarismo. Tanto é assim que, durante a pandemia, a política do youtuber não foi outra a não ser torcer para que o regime político salvasse o povo. Manoel ficou trancado em seu apartamento, enquanto agradecia ao Congresso Nacional por supostamente adotar medidas que supostamente beneficiariam privilegiados que nem ele, que não eram obrigados a pegar ônibus lotados todos os dias.
Para quem não lembra do que Manoel defendia durante a pandemia, ele mesmo ajuda a lembrar, uma vez que, no vídeo citado, diz:
“O Bolsonaro ele tinha que ser julgado pelas mortes durante a pandemia, pelo escândalo da Prevent Senior, pelos experimentos com a população trabalhadora em Manaus, pela falta de oxigênio em Manaus, por ter negado o isolamento social. Bolsonaro e o Paulo Guedes foram contra o auxílio emergencial de R$600, foram derrotados. Bolsonaro e o Paulo Guedes atrasaram a compra de vacina. Bolsonaro e o Paulo Guedes não fizeram nada para suprir o Brasil de respiradores. Bolsonaro, o Paulo Guedes e os militares fizeram trocas e mais trocas de ministro da saúde no meio de uma pandemia.”
Parte das acusações são verdadeiramente grotescas. Bolsonaro deveria ser condenado por ter sido contra o auxílio emergencial de R$600 que ele mesmo implementou? No mais, as acusações do youtuber não poderiam ser dirigidas unicamente a Bolsonaro, mas a toda a burguesia brasileira. Aos governadores de todas as 27 unidades da federação.
Bolsonaro teve uma parcela de responsabilidade importante na pandemia, mas também tiveram os empresários e todo o Poder Público. Afinal, a única política que foi adotada pelos governadores foi o criminoso “lockdown” sem nenhum tipo de contrapartida econômica.
Bolsonaro foi pintado como o grande responsável pela pandemia porque, da mesma forma como o STF e a rede Globo, que participaram da ditadura militar, hoje acusam Bolsonaro de “golpismo”, eles também, à época, procuravam na campanha contra Bolsonaro esconder os seus crimes contra o povo brasileiro e, ao mesmo tempo, aumentar o controle sobre um governo muito instável.
Ainda que Bolsonaro fosse condenado pela pandemia, seria uma fraude. O youtuber evoca a crise sanitária apenas para tentar apresentar uma posição “radical” diante de seu apoio ao STF.




