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Política

Mais autoritário que a ‘democracia’ do imperialismo, impossível

Parlamentar português equipara Xi Jinping e Putin à Mussolini e Hitler, no entanto, quem apoia o nazismo na Ucrânia é o próprio governo português

O parlamentar português e colunista do jornal golpista Folha de S. Paulo Rui Tavares (do centrista partido Livre) publicou no órgão brasileiro, no último dia 31, um artigo intitulado Ano de 2024 foi ruim para democracia e direitos humanos no mundo, defendendo uma falácia, expressa na frase “as ambições de autoritários não levarão ao resultado a que sempre levaram”. A posição parece acertada, mas se revela um engodo quando Tavares nomeia os “autoritário”: “a China, a Rússia e os Estados Unidos”, que para o autoproclamado socialista, “’são governados por autoritários nacionalistas”. Diz o parlamentar:

“Cem anos depois, 2024 foi um ano em que correu mal quase tudo o que havia para correr mal à democracia, ao Estado de Direito e aos direitos humanos no mundo. A China, a Rússia e os Estados Unidos são governados por autoritários nacionalistas; eles e seus imitadores, como Binyamin Netanyahu, continuam a infligir um desumano tratamento a milhões de pessoas, da Ucrânia à Palestina. Os mais ingênuos acreditam que as ambições de autoritários não levarão ao resultado a que sempre levaram.”

Como indicado no parágrafo, o autor compara a situação da luta política mundial hoje com “cem anos” atrás, ou seja, 1924, uma manobra que Tavares usou para equiparar os governos da China e da Rússia aos regimes fascista da Itália e nazista na Alemanha. A equiparação, porém, é totalmente descabida porque ao contrário de Hitler e Mussolini, nem o líder chinês Xi Jinping e nem o presidente russo Vladimir Putin agem segundos os interesses do imperialismo, mas contra os monopólios internacionais.

A guerra citada, em que a Rússia luta para barrar a ofensiva da OTAN rumo ao Leste Europeu é uma guerra preventiva, contra um governo posto à frente da Ucrânia para impedir que o gigante eslavo sofra o destino dos palestinos. O fato do conflito na Europa opor um país atrasado como a Rússia ao conjunto das nações mais ricas e desenvolvidas do mundo é central para a esquerda compreender o caráter social da disputa, e com isso, o sofisma de Tavares. Ele também não cita que a Rússia está lutando contra o nazismo na Ucrânia, apoiado pelos “democratas”.

Ainda que Putin e Jinping quisessem, seus países não têm condições de produzir uma destruição minimamente equiparável aos choques internos do imperialismo, no intervalo de 1914 a 1918 e de 1939 a 1945. Por outro lado, quem termina demonstrando um alinhamento com os verdadeiros genocidas é o próprio Tavares, ao defender, em essência, que os povos atrasados do mundo não reajam à opressão imperialista. Seguindo a orientação dada pelo autor, se os EUA e a Europa provocarem um inferno na Rússia e na China, matando milhões de pessoas da maneira mais bárbara possível, tudo bem.

Chorar pelas vítimas do imperialismo, como o povo palestino, aceitável. O que não se pode aceitar, levando-se a sério os argumentos do parlamentar português, é a reação dos oprimidos. Para reforçar que seu posicionamento é inteiro construído sob a base de falácias, Tavares continua:

“O que teria sido a história se Hitler tivesse pagado como devia pelo seu golpismo, e Mussolini, pelo seu patrocínio à violência e aos assassinatos políticos? Claro que é impossível prever todas as consequências. Mas ao menos alguém teria cumprido com o seu dever. E quando isso acontece, a democracia e os direitos humanos têm um pouco mais de esperança. Há gente que sonha mais e sofre menos; a humanidade vale sempre a pena.”

Ora, o próprio autor reconhece que Hitler foi preso. O que adiantou? A resposta é óbvia, como a própria colocação de Tavares entrega: não serviu para nada prendê-lo. O fato de “a democracia e os direitos humanos” terem “um pouco mais de esperança” com repressão a qualquer custo só mostra que não existe uma contradição fundamental entre “democracia” e “direitos humano”, e os regimes de extrema direita. Nem poderiam ter.

Ambos são expressões políticas de uma disputa que não é travada por indivíduos ou grupos, mas classes sociais. Como Tavares indica sem talvez ter se dado conta, o imperialismo norte-americano celebrou a soltura de Hitler. Claro que as razões argumentadas nunca serão as verdadeiras e nesse caso, é mais farsesco ainda creditar à soltura de Hitler a qualquer coisa que não seja um acordo entre os distintos setores da direita.

O fato, porém, é que existe um movimento de uma classe social dominante e reacionária, que para a manutenção de seus interesses, desloca o regime político à direita. Se há cem anos a burguesia imperialista impulsionou Mussolini e Hitler, e com isso, produziu uma crise interna, hoje, existe coesão no sentido de atacar com a máxima dureza a Rússia e a China.

Tavares, por sua vez, demonstra alinhamento político com os “pais” do verdadeiro autoritarismo que denuncia, os criadores do fascismo e do nazismo. As ambições do imperialismo, dessa forma, estão protegidas pelo parlamentar português, embalados por um disfarce esquerdista, é verdade, mas tão ou mais autoritário quanto  há cem anos.

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