O texto de Moisés Mendes A doença infantil do fascismo, publicado pelo Brasil 247, se dedica a expor os padrões comportamentais grotescos vistos em figuras da extrema direita, como o ex-general Augusto Heleno e Jair Bolsonaro (PL). Ao diagnosticar o fascismo (e o bolsonarismo) primariamente como uma manifestação de “atitudes de adultos que acreditam em coisas que só as crianças deveriam acreditar”, o autor comete um erro analítico fundamental, que é a substituição da crítica material e política pela psicologia de botequim.
Mendes argumenta que “líderes autoritários, déspotas e seus cúmplices são adultos que se comportam como crianças más… porque são mentalmente crianças”, concluindo que “sem elas e suas bases infantis, não haveria fascismo”, Este foco na “infantilidade” — as caretas, a alegação de Alzheimer do “velhinho com atitudes de criança” — desvia o olhar da essência material e econômica do fascismo. É natural que um movimento reacionário, cujo fim é criminoso, costuma atrair pessoas degradantes. No entanto, o caráter bizarro dessas pessoas é absolutamente secundário. A tese da “doença infantil” é perigosa porque esvazia a violência fascista de seu objetivo, transformando-a em uma mera “birra” de adultos mimados e subestimando sua ameaça à humanidade.
A verdadeira característica essencial do fascismo é ser um movimento de violenta reação e contrarrevolução burguesa, impulsionado pela necessidade do grande capital de superar crises que não podem ser resolvidas por uma via de aparência democrática. O fascismo visa, sobretudo, esmagar os trabalhadores e sua capacidade de organização, ou seja, derrotar violentamente o movimento operário — sindicatos, partidos de esquerda, comunistas — para eliminar qualquer obstáculo à política neoliberal. É a forma mais extremada de ditadura do grande capital.
A análise psicológica não resiste à comparação histórica. Muitos dos ditadores fascistas não se encaixam no clichê da “criança má”: nem António de Oliveira Salazar em Portugal, nem os generais da Ditadura Militar brasileira eram especialmente extravagantes. Eram burocratas que executaram a política do grande capital e do imperialismo com uma fachada de seriedade, não de palhaçadas infantis.
A análise do autor também acaba excluindo figuras que hoje expressam de maneira mais precisa o que é o fascismo, mas não sob o critério comportamental de “infantilidade”. Seria o primeiro-ministro Benjamin Netaniahu, que comanda um genocídio em Gaza em nome de interesses coloniais e imperialistas, classificado como “infantil” por Mendes? Certamente não. Contudo, seu projeto é, na essência, uma expressão violenta e bárbara da pilhagem imperialista.
Se o fascismo fosse apenas infantilidade, o problema se resolveria com pedagogia ou terapia. Mas o fascismo é um problema de classe, cuja essência é a luta do imperialismo para disciplinar os povos de todo o mundo.
Por isso, não há como derrotar o fascismo sem uma luta contra o imperialismo.





