Polêmica

A defesa picareta de um novo PSOL

Uma frente que não tem um programa classista em comum é inevitavelmente cooptada pelo imperialismo e se transforma em um agente seu no Brasil

No dia 22 de outubro, o portal Contrapoder publicou o artigo Os comunistas e sua organização política, na qual expressam a necessidade de uma nova “organização política” para a classe trabalhadora brasileira. O texto tem inicio com uma caracterização bastante oportunista do governo Lula, afirmando que estamos diante de uma conjuntura bastante específica, em que os trabalhadores usaram a candidatura de Lula como ferramenta para derrotar eleitoralmente Jair Bolsonaro, desde a campanha eleitoral estava evidente que o novo governo teria um caráter de união nacional voltado à defesa dos interesses das classes dominantes”.

Se o governo Lula tivesse este caráter, não teria porque haver tanta sabotagem no Congresso Nacional e no Banco Central, por exemplo. O governo Lula é um governo nacionalista marcado por sua extrema fraqueza, que o faz capitular diante do grande capital. Esta distinção é fundamental porque o contrário seria ignorar qual é o verdadeiro plano da burguesia para o Brasil. O grande capital não necessita de um governo Lula, que, apesar de toda a sua fraqueza, não declara apoio direto à Venezuela, nem põe fim a programas sociais como o Bolsa Família. O que o imperialismo necessita é de um governo ultra neoliberal, como o governo de Javier Milei.

Essa questão fundamental já aponta que o autor é incapaz de fazer uma análise do País em que vive sob a ótica da luta de classes. E é por isso que ele produz aberrações como a seguinte:

“Um projeto político que se apresentou como alternativa ao PT foi o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), mas, de um ponto de vista organizativo, limitou-se a ser um guarda-chuva eleitoral, formado por uma miscelânea de grupos que defendem versões diversas de socialismo. O PSOL, que nasceu como oposição de esquerda aos governos do PT, perdeu a maior parte de seus setores revolucionários, que romperam com o partido desde sua adesão ao projeto de união nacional em torno de Lula. O PSOL se limitou a disputar espaço dentro da institucionalidade, defendendo sua versão da estratégia democrático-popular, tendo derrotado as posições internas que apontavam no sentido da luta pela revolução.”

O maior problema do PSOL é que ele nunca se apresentou como uma organização da classe operária. Desde seu início, era uma agremiação de deputados, cuja maior característica era a ausência de qualquer programa. Era um “projeto” fadado ao fracasso, uma vez que não visava organizar a população em torno da luta contra o imperialismo, mas sim agrupar qualquer charlatão que se dissesse “socialista”. Como resultado, o PSOL acabou sendo dominado por um setor pró-imperialista, cujo programa é a sabotagem ao desenvolvimento nacional (“defesa do meio ambiente”) e o fim dos direitos democráticos (“luta contra a corrupção”).

Seguindo sua análise acadêmica, que foge de qualquer ideia que se possa ter de marxismo, o autor apresenta a seguinte crítica às organizações de esquerda:

“No âmbito da esquerda, além do PT e do PSOL, a outra principal organização é o PCdoB, que abandonou até mesmo seu passado reformista e fez uma aberta e completa adesão à ordem burguesa. Os demais partidos de esquerda – PSTU, PCB, UP, PCO – são pequenas agremiações com inserção social limitada. No geral, essas organizações oscilam entre o sectarismo e o oportunismo, sem conseguir se construir como alternativa de massas para os trabalhadores. Outros grupos menores, mesmo sem legenda eleitoral, também procuram intervir na luta de classes, fazendo debates organizativos e estratégicos, ainda que tenham menor espaço de diálogo entre os trabalhadores.”

Dizer que “oscilam entre o sectarismo e o oportunismo” não quer dizer nada. Tampouco dizer que possuem “inserção social limitada”. Seria preciso analisar que forças sociais estes partidos representam.

O PSTU, o PCB e a UP são partidos da esquerda pequeno-burguesa brasileira. Suas especificidades são desprezíveis diante da classe que representam. E isto fica claro por seu programa: são partidos que defendem a polícia, o Estado e o imperialismo, sempre a partir de justificativas moralistas.

O PCO, por seu turno, é um partido da classe operária. Um partido que, em todas as questões centrais colocadas, defende a luta dos trabalhadores contra o grande capital e seus representantes no País. O partido que foi contra o golpe de 2016, que foi contra a prisão de Lula, que defende a Resistência Palestina, que defende a Venezuela.

Após sua análise acadêmica, o autor formula a seguinte proposta absurda:

“De um ponto de vista organizativo, não existe qualquer movimento ou frente que aglutine setores diversos da esquerda; cada partido busca construir seu próprio aparato como forma de autoconstrução. Com isso, o pequeno setor de vanguarda que participa das lutas é disputado por uma dezena de grupos, que se estapeiam em busca de militantes e se mostram incapazes de dialogar com setores mais amplos de trabalhadores e, com isso, construir alternativas que possam se enfrentar com a ordem burguesa. Para construir uma nova direção política, seria preciso romper tanto com a perspectiva reformista, superando a estratégia democrático-popular, como com o sectarismo, em que cada pequeno grupo se considera superior politicamente aos demais. O debate aqui não perpassa necessariamente pela construção de uma legenda eleitoral para a classe trabalhadora, mas pela perspectiva de construir.
(…)
Esse processo passa pela construção de um partido operário independente, que expresse política e organizativamente as lutas dos trabalhadores. Sua principal tarefa seria articular os diversos setores socialistas e ampliar a inserção desses setores no interior do movimento operário.”.

O que o autor propõe, no final das contas, é o abandono da luta por um programa. O que ele chama de “sectarismo” é, na verdade, a luta pelo programa. Todo revolucionário, para construir um partido, teve de travar uma luta contra as tendências reacionárias no interior da esquerda. Neste sentido “se considerar superior” é algo natural. O que importa é se a política deste partido permite o desenvolvimento político da classe operária ou não.

A caracterização apresentada no início sobre o governo Lula é tipicamente sectária. Ele serve apenas para confundir os trabalhadores sobre quem é o seu verdadeiro inimigo. Por outro lado, negar-se a compor uma frente única com a burguesia pelo fim da imunidade parlamentar, por seu turno, não é sectário. É lutar pela independência de classe da classe operária.

O verdadeiro objetivo do autor é formar uma federação de partidos e intelectuais pequeno-burgueses que tenham em comum apenas o autorrótulo de “socialistas”. O termo “operário” surge apenas como disfarce — em nenhum momento, aparece a preocupação da independência de classe. No fim das contas, o autor quer retomar o “projeto” do PSOL.

É um projeto fadado ao fracasso, e o próprio PSOL é um exemplo disso. Uma frente que não tem um programa classista em comum é inevitavelmente cooptada pelo imperialismo e se transforma em um agente seu no Brasil.

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