Um dos mais tradicionais articulistas da Folha de S.Paulo, o jornalista Hélio Schwartsman, decidiu escrever um texto curto explorando um dos preconceitos mais toscos existentes na política contemporânea: o de que a extrema direita e a extrema esquerda deveriam ser proscritas em um Estado pretensamente democrático.
O artigo, que não traz muitos argumentos, tem início com a tentativa do autor de responder a uma pergunta feita por uma leitor seu:
“Prezado Helio, Bom dia! Queria um esclarecimento. O que significa ultradireita, além de alguém com quem vc não concorda? Pergunto isso pois, raramente, vejo Boulos sendo descrito como extrema esquerda… ou Jean Willys…”.
Schwartsman, então, dá uma explicação que, como ele mesmo admite, só serve para ele mesmo: “costumo reservar o prefixo ‘ultra’ e o adjetivo ‘extremo’ para grupos ou indivíduos com atuação contra o sistema”. É uma definição de um verdadeiro idiota ou de um cretino. O primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, atua contra que sistema, exatamente? Por acaso ele não é de extrema direita? E os generais da ditadura militar, contra qual sistema lutavam? Eles também não eram nem “ultra” nem de extrema direita?
Fica claro que Schwartsman não quer definir nada. Não quer compreender nada. Ele tenta enquadrar a realidade ao sistema de ideias adequado aos seus interesses. Para ele, “extrema direita” é sinônimo de malucos como Donald Trump e Jair Bolsonaro, mas não serviria para rotular os regimes que ele defende.
O articulista nos fornece, em seguida, uma segunda definição:
“E o que significa ser antissistema? Essa é uma categoria que comporta uma ampla gama de ações, que vão desde não aceitar derrotas eleitorais até tentar implementar medidas que violam ou debilitam cláusulas pétreas do Estado liberal democrático e de Direito.”
Schwartsman poderia ser muito mais simples. Antissistema é quem é contra o “sistema”. Mas então, surge a questão: o que é o “sistema”?
Não existem dois sistemas políticos iguais no mundo. Nos Estados Unidos, existe pena de morte; no Brasil, não. Nos Estados Unidos, ainda existe liberdade de expressão; no Brasil, não. No Brasil de hoje, é crime traficar drogas; no Brasil do passado, não.
O sistema que há de comum em todo o mundo é a dominação imperialista. É a luta de classes, é a oposição entre uma classe de oprimidos e uma classe de opressores. Ser antissistema é, portanto, ser anti-imperialista. Simples assim. Quem está do lado dos poderosos, é pró-sistema; quem está contra, é antissistema. Logicamente, como a sociedade é desigual, há quem manifeste as duas tendências.
A esquerda revolucionária é a única força política verdadeiramente antissistema. A extrema direita, no final das contas, é expressão de um movimento da burguesia — e é, portanto, pró-sistema. No entanto, devido à polarização política, acaba incorporando elementos antissistema.
Essa discussão, no entanto, precisa ser vista de um ponto de vista prático. Para a esquerda, esta discussão importa para orientar corretamente a militância revolucionária, para que os trabalhadores tenham consciência de quem são seus inimigos. Para Schwartsman, por sua vez, o objetivo é definir quem pode ou não existir no regime que ele considera “democrático”.
“O Estado liberal, afinal, é compatível tanto com ideologias mais à esquerda (social-democracias, por exemplo) quanto com conservadoras (democracias cristãs). O que define o liberalismo é o respeito às regras básicas do jogo.”
É uma mentira descarada. O dito “Estado liberal” não respeita as suas próprias regras porque, como dissemos, quem o comanda é o imperialismo. Basta que a classe operária entre em movimento que ele esquece sua feição “liberal”. É o que acontece, por exemplo, na França, onde o governo de Emmanuel Macron evolui rapidamente rumo à ditadura, não por causa da “extrema direita” ou da “extrema esquerda”, mas por causa do próprio “Estado liberal”.
No fim das contas, a conversa mole inteira de Schwartsman serve a um único propósito: defender a ditadura do grande capital sobre o povo, não importa a forma que essas ditadura assuma.





