O sítio Em Defesa do Comunismo, do PCBR, publicou no último dia 19 o artigo DeepSeek e a disputa imperialista por liderança na disputa tecnológica, propondo-se a discutir “a disputa imperialista entre EUA e China”, tratando o lançamento da ferramenta de inteligência artificial (IA) chinesa DeepSeek como um reflexo de uma “batalha imperialista entre os EUA e a China pelo controle da liderança científica e tecnológica mundial”, uma concepção profundamente equivocada, porque parte do princípio falacioso de que a China estaria em condições de entrar em uma disputa contra os EUA pela “liderança” em qualquer campo da ciência ou da tecnologia. Curiosamente, o próprio artigo reconhece que:
“A China, por sua vez, ao desenvolver inovações como o DeepSeek, está buscando uma autossuficiência tecnológica, desconstruindo a dependência das patentes e inovações ocidentais.”
Apesar da contradição com o ponto de partida, o artigo está certo aqui, uma vez que independente das considerações que os chineses possam ter, a China ainda é um país atrasado, cercado pelo imperialismo e lutando, como reconhece o parágrafo, por “autossuficiência tecnológica”. Diferente dos EUA, que como informa o artigo, tentam “isolar a China nas áreas tecnológicas”, ao que acrescenta:
“Em resposta ao avanço da China, os Estados Unidos reagiram com uma série de medidas protecionistas, incluindo a imposição de sanções contra empresas chinesas como a Huawei e a recusa de tecnologia avançada para evitar o avanço do país nas áreas mais estratégicas.”
Os EUA adotam toda sorte de medidas para brecar a China, que por sua vez, luta por “autossuficiência tecnológica”. Nessa conjuntura, as ambições reais dos chineses teriam de ser bem mais modestas do que “disputar o mercado mundial”. Isso, no entanto, é reflexo da luta entre um país imperialista contra um país atrasado, embora o artigo não registre o fenômeno e trate o embate entre as IAs de EUA e China como frente de batalha “pelo controle da liderança científica e tecnológica mundial”.
Essa disputa simplesmente não existe porque a China não dispõe de meios para sequer almejá-la. É curioso, no entanto, a contradição do artigo de Em Defesa do Comunismo. Ao mesmo tempo em que registram o fato de a China ser a parte fraca na relação, no que acertam, repercutem a fantasia de defensores da tese da multipolaridade, como se o imperialismo estivesse na iminência de ser atualizado por um novo sistema, no qual o mercado mundial sofrerá uma nova partilha, com países como Rússia e China participando da festa, hoje restrita a EUA, União Europeia, Canadá e Japão.
É possível e até provável que membros dos governos chinês e russo tenham tais ambições, porém é preciso lembrar que na última vez em que a mera contestação da fatia do mercado mundial cabível a cada potência imperialista foi feita, inacreditáveis 50 milhões de pessoas morreram. Pelo menos.
Dado esse histórico, o imperialismo agirá muito antes que China e Rússia possam sequer cogitar serem tratados com respeito pelos países desenvolvidos. Na realidade, em um quadro mais geral, o que o artigo reflete é justamente a mobilização das potências imperialistas reais para esse fim: cercar a China, arrasá-la como fizeram com uma infinidade de países (entre eles o Brasil), retalhar seu território como fizeram com a antiga Iugoslávia e não deixar que o gigante asiático se desenvolva mais e seja realmente capaz de ameaçar o controle ditatorial sobre o mercado mundial.
Por isso, a ideia de que China, Rússia e outros países atrasados assumirão um lugar à mesa onde se refestelam os monopólios dos EUA, da UE e do Japão é simplesmente ridícula. Uma organização verdadeiramente comunista, atenta às leis históricas analisadas por Marx, Engels e Lênin, jamais se orientaria por teses tão fora da realidade quanto a teoria do mundo multipolar, de onde se originam extravagâncias como “batalha imperialista entre os EUA e a China pelo controle da liderança científica e tecnológica mundial”.
Ao contrário de produzir mais potências imperialistas, o que as contradições do imperialismo estão produzindo é a grande luta que culminará no fim dessa ditadura global e, com isso, a libertação dos povos oprimidos, nas nações atrasadas e também nas nações desenvolvidas. O fim da pré-história da sociedade. O socialismo.