O artigo Não é apenas a economia, estúpidos, assinado por Denise Assis, e publicado no Brasil 247 nesta sexta-feira (11), tem um título curioso, ainda mais se somarmos a ele o olho que diz que “Lula terá apoio dos que forem atingidos no que há de mais caro para todos nós: a independência”.
No mundo em que vivemos, comandado pela burguesia, é sabido que toda a moralidade foi substituída pelo pagamento à vista. No Manifesto Comunista, Marx e Engels escreveram com propriedade que a burguesia “afogou os sagrados arrebatamentos do fervor religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês, nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as inúmeras liberdades conquistadas com tanto esforço por uma só liberdade – a do comércio”. Dito isso, é prudente não esperar apoio burguês para além de interesses econômicos.
Denise Assis, no início de seu texto, estranha a informalidade, ou o meio, as redes sociais, com a qual Trump pressionou o Brasil. Pelo menos nisso podemos ver um mérito no presidente americano, que faz às claras o que antes era feito atrás das portas; sendo assim, é útil ter sido posta de lado a “liturgia do cargo”.
Apoio ao STF
No texto, se destaca o seguinte trecho: “a forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”.
Disso se apresentam duas questões. Primeiro que a ingerência dos Estados Unidos é inadmissível; segundo, que o repúdio não pode se transformar em apoio ao STF, quem tem sido utilizado como um instrumento do imperialismo para atacar justamente a nossa soberania, como o seu papel crucial no golpe de 2016.
O processo contra Bolsonaro é claramente farsesco. É preciso dar razão a Trump quando diz que se trata de um ataque às eleições livres. E também tem sido violada a liberdade de expressão, política que ditada desde fora. Portanto, aqueles que se preocupam com a soberania brasileira, com a nossa independência, não deveriam estar apoiando o Supremo.
É falso o argumento de que “há um judiciário no meio do caminho, trabalhando com provas robustas e contundentes” contra uma “gangue que assaltou o poder”.
Ilusões
Não se deve acreditar que “um grupo seleto de empresários patriotas (ou que seja também pelos seus negócios, ou principalmente por eles), se unirão em defesa dos seus mercados”. O patriotismo passa bem longe desses interesses. A burguesia brasileira nunca levou uma luta consequente contra o imperialismo.
Simone Assis diz que “Lula buscará e terá o apoio de quantos se sentiram atingidos no que há de mais caro para todos nós, a independência e a liberdade de levar as nossas vidas sem intromissão ou ameaças”. Mas a burguesia já demonstrou, basta ver como age o Congresso, que não quer Lula no poder, no máximo aguardará o fim de seu mandato.
Apesar do título, de que os atingidos apoiarão Lula, podemos esperar da burguesia apenas que pressione Lula, como tem feito desde o início, que passe a conta para as costas da população. Como o governo insiste em não se apoiar na classe trabalhadora, se verá obrigado a cumprir essa missão com a pressão cada vez maior do Congresso.
Fechando seu texto, a autora escreve que “ser patriota nesse momento tem o sentido de ter vergonha na cara. É disso que se trata. Não é apenas a economia, estúpidos”. Mas, de que adianta apelar para um patriotismo quando a burguesia brasileira é uma sócia menor do imperialismo?
Possibilidade de mudanças
A realidade concreta aponta para uma única saída: a mobilização popular. Mas o governo Lula não dá indícios de que fará esse movimento à esquerda. Para enfrentar o imperialismo de forma contundente, sem depender de uma mera guerra de taxas, o Brasil teria que adotar uma política de crescimento econômico.
O Congresso está disposto a impedir qualquer iniciativa neste sentido, pois poderia acarretar ganhos eleitorais para Lula, caso este tenha a intenção de disputar a próxima eleição.
A asfixia do governo já foi vista no mandato de Dilma Rousseff. Se o governo tentar por outros meios, terá que apostar em medidas que acabarão por inflacionar o mercado, e para isso o Banco Central já está a postos para engolir as medidas com uma política de austeridade e juros altos.
Esse episódio com o governo Trump tem todos os ingredientes para ser uma coisa passageira. Embora tenha acendido os brios da esquerda, é preciso lembrar que amplos setores apoiam o STF, ou seja, não acreditam no poder das massas.
Sem a classe trabalhadora no jogo, não se pode ter esperança de que haverá uma real defesa da nossa economia, e muito menos da soberania.
A esquerda pequeno-burguesa, assim como a burguesia nacional, não lutará de maneira consequente contra o imperialismo. Uma esquerda que tem se empenhado em defender as instituições apenas, e até as mais reacionárias, como o STF, está no caminho certo para a derrota.




