Muitas pessoas acham que uma revolução de trabalhadores não é mais possível porque as máquinas teriam substituído a mão-de-obra humana. O raciocínio é factualmente errado, uma vez que, só na indústria, há mais de 700 milhões de trabalhadores empregados. No Brasil, esse número ultrapassa os 8 milhões, mostrando que a extinção desse posto de trabalho está longe de acontecer.
Todavia, há um motivo mais profundo que revela o porquê de a substituição total de humanos por máquinas ser impossível no capitalismo. Tal qual explicou Marx no livro 1 do Capital, as máquinas não conseguem gerar valor como os humanos conseguem. Enquanto os capitalistas conseguem explorar os trabalhadores através de longas jornadas de trabalho, designação de tarefas pesadas, acúmulo de obrigações, e congelamento de salários, não é possível fazer o mesmo com as máquinas. Se alguém tentar explorar uma máquina como se explora um ser humano, a máquina simplesmente irá quebrar. Esse é o motivo pelo qual as máquinas não podem gerar lucro como os seres humanos.
Alguém pode então se perguntar: por que se continua investindo em máquinas, se isso reduz o lucro? A resposta está na competição empresarial pela sobrevivência. No capitalismo, nenhuma empresa pode simplesmente manter seus métodos de produção intactos se quiser continuar existindo. A concorrência obriga cada empresa a aumentar constantemente a produtividade, reduzindo custos, acelerando o ritmo de produção e diminuindo o preço da mercadoria. Quem não acompanha esse movimento é rapidamente eliminado do mercado.
Por exemplo, uma indústria têxtil que insista em manter processos manuais diante de concorrentes que automatizaram a costura e o corte com robôs industriais estará com preços muito altos em relação ao mercado, tornando sua sobrevivência inviável. Da mesma forma, no setor agrícola, empresas que não adotem colheitadeiras automatizadas produzirão menos, fabricando mercadorias a preços altos e sendo então engolidas pelas concorrentes mais produtivas. Assim, embora a automação seja inevitável, ela sempre reduz os preços e a taxa de lucro média do sistema. Quem não acompanha essa tendência, desaparece.
Isso nos leva a outro ponto crucial: o inevitável aprofundamento da superexploração da força de trabalho. Para conter a queda da taxa de lucro provocada pela automação e pelos altos investimentos em tecnologia, as empresas recorrem à precarização das condições de trabalho. Trata-se de uma estratégia sistêmica de compensação: como o lucro já não pode ser extraído com a mesma intensidade da produção, ele é arrancado diretamente das costas daqueles que ainda trabalham. Isso significa jornadas mais longas, salários achatados, contratos instáveis e menos direitos. Em outras palavras, os trabalhadores são forçados a produzir cada vez mais, em menos tempo, recebendo cada vez menos em troca.
A consequência lógica de todo esse processo é que haverá cada vez menos empregos e cada vez mais exploração no capitalismo. Entretanto, os empregos nunca acabarão totalmente, pois a automação completa das cadeias produtivas, ou seja, a substituição total de humanos por máquinas, é impossível no sistema capitalista. Sem humanos não há lucro, e sem lucro não há capitalismo. Essa não é uma conclusão ideológica ou especulativa, é uma consequência inevitável da maneira como a produção está organizada. Por isso, teremos de escolher: vamos continuar submetendo a maior parte da humanidade a condições de trabalho cada vez piores ou vamos mudar o modo de produção? Se mantivermos o capitalismo, a intensificação da barbárie será inevitável.




