Na tarde deste sábado (8), o Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP) foi palco da palestra-debate A atualidade da Revolução Russa. A atividade, que ocorreu um dia após o aniversário de 108 anos da mais importante revolução da história do movimento operário, foi conduzida pelo presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta.
Pimenta começou sua exposição esclarecendo a data que marca a revolução bolchevique. “A revolução se deu no dia 7 de novembro”, no calendário gregoriano, e não em outubro (o mês no antigo calendário russo). Para o PCO, “a única comemoração que tem sentido é a discussão e o esclarecimento político e teórico daquilo que nós estamos comemorando”, destacou o dirigente, em contraste com a maioria das datas cívicas nacionais, que se limitam a “frases patrióticas banais e colocações puramente formais e vazias de conteúdo”.
A primeira ideia central que Pimenta destacou é o significado histórico da Revolução Russa. Enquanto o debate político tradicional adota um tom subjetivo (focado em pessoas de talento ou qualidades individuais), o marxismo deve analisar a evolução histórica.
“A Revolução Russa foi um divisor de águas de duas épocas históricas dentro do capitalismo”, afirmou Pimenta. O primeiro período foi de desenvolvimento e amadurecimento do capitalismo. O ponto final desse ciclo é marcado pela Comuna de Paris, que, embora “precária e efêmera”, sinaliza o fim das revoluções burguesas.
Pimenta explicou que, no final do século XIX, a acumulação capitalista levou à formação dos monopólios, que passaram a dominar o Estado:
“O Estado capitalista imperialista já não é assim. Ele é dominado pelos monopólios, por um determinado setor da burguesia em detrimento de todos os outros setores,” disse Rui Pimenta.
Essa época é caracterizada pelo “envelhecimento e degeneração do capitalismo” (imperialismo). A Revolução Russa, ocorrida em meio à Primeira Guerra Mundial, é, portanto, a “prova cabal do esgotamento do sistema capitalista.”
Pimenta rebateu a crítica de que a transição para o socialismo estaria demorando, lembrando que o ciclo revolucionário burguês durou cerca de 500 anos, desde o século XIV até o século XIX.
Ele classificou o século XX como uma “verdadeira tempestade revolucionária”, com crises e guerras cada vez maiores. Segundo a definição marxista, a época do imperialismo é a época de guerras e revoluções.
A Revolução Russa foi a “prova dos nove” do marxismo.
“Os marxistas antes da Revolução Russa já tinham dito que o capitalismo iria se esgotar”. e a Revolução “mostrou que essas teses (…) foram comprovadas pela história”, disse.
Pimenta abordou a polêmica sobre se a Revolução Russa foi um sucesso ou um fracasso. Para o marxismo, “a pergunta não faz sentido”, pois “as revoluções são a locomotiva da história”, uma força de progresso social.
Ele comparou a Revolução Francesa (o arremate final de um ciclo histórico) com a Revolução Russa (a primeiríssima etapa de um novo ciclo):
“Lênin dizia o seguinte: ‘a Revolução Russa é apenas’ — veja só quem está dizendo isso, é o líder inconteste da revolução, o grande arquiteto da Revolução Russa — o ensaio geral da revolução mundial’.”
Lênin sabia que o capítulo final deveria ser realizado nos países imperialistas (Estados Unidos, Europa, Japão).
“As revoluções que aconteceram até agora, elas tiveram mais ou menos o mesmo caráter da Revolução Russa de 1917. Elas são etapas preparatórias da revolução mundial,” argumentou Pimenta.
A importância da Revolução de 1917 é que ela foi a iniciadora de um ciclo de revoluções e provou que é “possível tomar o poder da burguesia e manter o poder, (…) liquidar a burguesia como classe social”.
“Hoje em dia não tem discussão sobre se é possível ou não é possível a classe operária derrotar a burguesia. Não está em discussão porque já aconteceu”, declarou Pimenta.
Pimenta refutou o argumento de que a revolução seria ruim ou que teria sido “mal aplicada”, uma crítica comum na direita. Ele comparou a revolução a um fenômeno natural:
“A revolução não é uma prova de do Enem. (…) A revolução é um grande movimento histórico, de amplas massas (…). É como se fosse assim, a erupção de um vulcão, como se fosse um tsunami. No tsunami, você pode tomar medidas (…), mas o tsunami em si ninguém consegue controlar. (…) A revolução social é como o tsunami”, explicou Pimenta.
A capacidade de guiar a revolução é “mínima”. O Partido Bolchevique, com apenas 30 mil militantes em um país de 110 milhões de pessoas, dirigiu a revolução “mais ou menos assim como um surfista dirige aquele trajeto que ele faz em cima da onda”, disse.
Ele citou o exemplo da Revolução Cubana, onde os líderes buscavam apenas um regime democrático, mas foram obrigados a “fazer uma coisa que eles não tinham pensado em momento nenhum, que foi o quê? acabar com a burguesia cubana, enfrentar o imperialismo”.
Pimenta abordou a ascensão do stalinismo, que, para muitos, é interpretado como um “andar para trás” da revolução. Ele destacou que este evento, na verdade, é a “comprovação da tese” de que a revolução não tinha as condições para se desenvolver naquele momento.
“A guerra civil exauriu as forças do país. (…) A guerra destruiu uma boa parte da economia do país e a guerra destruiu também — e esse foi o maior de todos os problemas — aquele contingente fundamental da classe operária que tinha feito a revolução,” disse Pimenta.
Rui Pimenta rebateu a tese de que Leon Trótski poderia ter evitado o stalinismo através de um golpe militar:
“Ele explica o seguinte: ‘só que isso não resolveria o problema. Pelo contrário, se nós fizéssemos isso, nós agravaríamos o problema, porque o contingente maior da burocracia estatal era naquele momento e sempre foi o pessoal das forças armadas.’ (…) O Trótski falou: ‘Não adianta, se eu desse um golpe militar, eu ia acelerar a ascensão da burocracia ao poder’,” citou Rui Pimenta.
Pimenta destacou que o stalinismo não deve ser confundido com a figura de José Stálin, que era uma “nulidade política”, uma “mediocridade”.
“Stálin era uma peça meio que supérflua nesse esquema do stalinismo. O stalinismo é uma camada social enorme,” analisou Pimenta.
A burocracia — composta em grande parte por elementos do passado (ex-funcionários do czarismo) — tornou-se forte pela fraqueza da classe operária após a guerra civil. Trótski e Lênin planejavam usar esses elementos para fazer o Estado funcionar, mas para isso era necessário “ter força social” para controlá-los.
Rui Pimenta concluiu que a grande questão da Revolução Russa é que ela é o “laboratório de teste de todas as teorias revolucionárias”.
“Para um revolucionário, o importante da Revolução Russa é ver como se comportaram os revolucionários durante a revolução. É uma enciclopédia, digamos assim, da revolução”, afirmou Pimenta.
Pimenta alertou contra a ideia de seguir um “modelo” pronto, mas defendeu que o estudo da revolução é vital. “A tarefa principal de todo revolucionário seria conhecer bem a Revolução Russa”, disse.
“A revolução no Brasil vai ser igual à russa? Não, porque não há dois acontecimentos históricos iguais. Mas vocês podem ter certeza que nas suas linhas gerais, nas suas tendências fundamentais, tudo está colocado ali na Revolução Russa”, concluiu Rui Pimenta.





