A ascensão meteórica de Sohei Kamiya e seu partido, o Sanseito, no Japão, é mais um sinal da tendência mundial ao avanço da extrema direita. A vitória inesperada de 14 assentos na Câmara Alta do Parlamento, bem acima dos 6 projetados pela própria legenda, é semelhante ao mesmo fenômeno visto em países como França, Alemanha e Estados Unidos — no entanto, aqui aparece já de maneira mais acelerada.
O líder do Sanseito é um ex-gerente de supermercado e professor de inglês que ganhou notoriedade no YouTube. Em seus vídeos, ele criticava a propaganda oficial acerca da COVID-19 e expressava ceticismo em relação às vacinas. O lema de seu partido, “Japanese first” é claramente inspirado no “America first” de Donald Trump, e sua plataforma é focada na anti-imigração.
Durante a última edição do programa Análise Política da Semana, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), apontou o fenômeno japonês como parte de uma “ascensão fulminante da extrema direita” em nível mundial. Ele argumenta que essa onda não se restringe aos Estados Unidos, Brasil ou Europa, mas agora alcança o Japão, um país com uma história particular, inclusive com setores que defendem a revisão dos crimes de guerra da Segunda Guerra Mundial. Para ele, essa aceleração no crescimento da extrema direita é um “salto de qualidade”, não mais um desenvolvimento gradual.
A ascensão do Sanseito contribuiu para a perda da maioria do influente Partido Liberal Democrático (PLD) na Câmara Alta, um baque que se soma ao pior desempenho da legenda em 15 anos na eleição para a Câmara Baixa. O partido de Kamiya prega que o Estado deve gastar apenas com os cidadãos e empresas locais, alegando uma “invasão silenciosa” de estrangeiros.
Pimenta afirma ainda que o crescimento da extrema direita não é uma ameaça direta aos movimentos operários, como foi o nazismo na Alemanha, mas sim um “reflexo invertido” da crise do regime “democrático liberal”. A extrema direita prospera porque aparece como a única oposição a um sistema político em decadência.
A plataforma do Sanseito ocorre dentro da realidade demográfica e econômica do Japão. A população estrangeira no país bateu recorde em 2024, mas representa apenas 3% do total. Ao mesmo tempo, o país enfrenta um envelhecimento populacional e uma crescente necessidade de mão de obra estrangeira. A economia também é um fator, com a inflação em alta e o preço do arroz dobrando em um ano.
O Sanseito, que se traduz como “participação na política”, se apresenta como um partido do “faça você mesmo”, composto por “cidadãos comuns”, contra o “nepotismo dos partidos atuais”. O manifesto da sigla defende a agricultura e a pesca sem o uso de produtos químicos, além de propostas anti-imigração. Kamiya também vocalizou posições contrárias ao casamento gay e à preservação dos nomes de solteiras por mulheres, e já disse que seria melhor se as japonesas voltassem a se concentrar nas tarefas domésticas e na criação dos filhos.




