O imperialismo está se armando de forma acelerada, buscando o confronto direto com a Rússia e, em última instância, com a China. No Brasil, contudo, a esquerda pequeno-burguesa enxerga a conjuntura de maneira completamente distorcida. Para esse setor, o principal problema nacional seria a extrema direita.
Tornou-se comum a difusão de uma verdadeira histeria em torno do presidente norte-americano Donald Trump. Segundo essa concepção, Trump representaria a maior ameaça à humanidade dos últimos cem anos, sendo comparado inclusive a Adolf Hitler. Essa esquerda procura sustentar que o mundo encontrava-se em uma situação de relativa normalidade e estabilidade até o surgimento de Trump, apresentado como um fator absolutamente excepcional.
De acordo com tal opinião, a extrema direita internacional se tornaria uma “máquina de guerra” sob a liderança de Trump, sendo responsabilidade do Brasil, com seu “destemido sistema de Justiça”, oferecer resistência a essa “escalada autoritária global”. Essa visão, na prática, opõe Donald Trump às lideranças do Partido Democrata, como Joe Biden e Kamala Harris, que seriam uma espécie de direita “civilizada”.
Segundo essa opinião, o imperialismo não constitui uma ameaça real. Os responsáveis pela invasão do Iraque e do Afeganistão, pelo financiamento do golpe de Estado na Ucrânia e pelo apoio ao massacre perpetrado em Gaza seriam, segundo tal concepção, neutros ou até benéficos. A única ameaça identificada seria Donald Trump.
Os fatos, no entanto, apontam em outra direção. Trump tentou encerrar a guerra na Ucrânia e foi impedido. Diante da pressão de “Israel” para que os Estados Unidos interviessem militarmente contra o Irã, fez um jogo de cena para acabar com a guerra. Embora mantivesse apoio a “Israel”, não foi além do que os governos anteriores já haviam realizado em relação à Faixa de Gaza. Tentou viabilizar um cessar-fogo e fracassou. Sob pressão de setores do Estado norte-americano, bombardeou o Iêmen, mas posteriormente interrompeu a ofensiva. A alegação de que se trata da “maior ameaça em um século” não encontra respaldo na realidade.
A exaltação de Trump como ameaça absoluta está baseada em outro mito: o de que Adolf Hitler teria sido o principal perigo da Segunda Guerra Mundial. Como já foi amplamente demonstrado, França e Inglaterra eram potências imperialistas com interesses e práticas tão nocivos quanto os da Alemanha nazista. A guerra de 1939 a 1945 não opôs democracia ao fascismo, mas sim distintos blocos imperialistas em disputa pela hegemonia global. A forma de governo — democrática ou fascista — não altera o conteúdo de classe nem os objetivos econômicos de um regime.
A esquerda pequeno-burguesa, ao se apoiar nesse mito, tenta afirmar que o perigo central seria o fascismo, e não o imperialismo. Contudo, a experiência histórica demonstra que o fascismo só representa uma ameaça concreta quando conta com o apoio da burguesia imperialista. Foi assim na Alemanha, na Itália, em Portugal e na Espanha, onde regimes fascistas contaram com o apoio explícito do imperialismo dito “democrático”.
Atualmente, esses setores da esquerda denunciam o fascismo em toda parte, exceto onde ele de fato se concentra: nos bancos, nas corporações armamentistas, nas agências de inteligência, nas bases militares dos Estados Unidos, nos aparatos repressivos da União Europeia. Enquanto dizem combater o fascismo, colaboram, na prática, com a política do imperialismo.





