Polêmica

A Amazônia não é só índio e mato

Apesar da boa vontade de muitos em preservar a natureza, é preciso esclarecer que a política imperialista de preservação da Amazônia é, no final das contas, improdutiva

Amazônia

O artigo O que a Amazônia é e não é, de Leonardo Boff, publicado neste domingo (7) no Brasil247, apesar de tentar negar, acaba mistificando a Amazônia. No início, Boff diz que “Na COP 30 de Belém a Amazônia ganhou centralidade pela importância que possui para equilibrar os climas e desacelerar o aumento do aquecimento global”. No entanto, todos sabemos que o grande interesse na região é, além de sua magnitude, a quantidade incalculável de riquezas que possui.

Leonado Boff escreve que antes de qualquer consideração, cabe dizer que a Amazônia abriga o maior patrimônio hídrico e genético do planeta. De um de nossos melhores estudiosos, Enéas Salati, sabemos: ‘Em poucos hectares da floresta amazônica existe um número de espécies de plantas e de insetos maior que em toda a flora e fauna da Europa’”.

Ainda assim, o grande interesse da Europa, ou do imperialismo europeu, são o ouro, o gás natural, as terras raras, urânio, petróleo etc. Claro que um ou outro estudioso se interessa pelos insetos.

No mesmo parágrafo, Boff sustenta que “esta floresta luxuriante é extremamente frágil, pois se ergue sobre um dos solos mais pobres e lixiviados da Terra. Se não controlarmos o desmatamento, em poucos anos, a Amazônia pode se transformar numa imensa savana. É o que o grande especialista no tema, Carlos Nobre, continuamente nos adverte”.

Não faltam no mundo os grande especialista. No passado, disseram que a Terra iria resfriar, depois, que aqueceria. Agora, se diz que, na verdade, existem as “mudanças climáticas”, grande novidade. A promessa de que a Amazônia vai virar um deserto, uma savana, que serve para assustar e afastar da região o desenvolvimento também é antiga.

Ecologistas?

Seguindo em seu texto, Boff diz que a Amazônia “não é terra virgem e intocável. Dezenas de povos indígenas que ali viveram e vivem, atuaram como verdadeiros ecologistas. Grande parte de toda floresta amazônica, especialmente de várzea, foi manejada pelos indígenas, promovendo “ilhas de recursos”, criando condições favoráveis para o desenvolvimento de espécies vegetais úteis como o babaçu, a palmeira, o bambu, os bosques de castanheiras e frutas de toda espécie, plantadas ou cuidadas para si e para aqueles que, porventura, por lá passassem. As famosas “terras pretas de índios” remetem para esse manejo”.

É difícil dizer que os índios agiram como “ecologistas”, as mudanças que produziram na região são proporcionais ao seu avanço tecnológico. Se tivessem mais recursos, seguramente o impacto seria maior.

A impressão de que os índios eram ecologistas, ou que viviam em “harmonia” com a natureza, é resultado de seu atraso econômico. De fato, “a ideia de que o índio é genuinamente natural, representa uma ecologização errônea dele, fruto do imaginário urbano, fatigado pela artificialização da vida. Ele é um ser cultural”.

Também é verdade que “‘resta pouca natureza intocada e não alterada pelos humanos na Amazônia’”. Por 1.100 anos os tupi-guarani dominaram vastíssimo território que ia dos contrafortes andinos do rio Amazonas até as bacias do Paraguai e do Paraná”.

Mistificação

Leonardo Boff tenta desmistificar o índio, mas logo escreve que precisamos de uma relação sinfônica com a comunidade de vida, pois, como foi comprovado, Gaia já ultrapassou seu limite de suportabilidade. Precisamos de mais de uma Terra e meia para atender o consumo humano e o consumismo doentio das classes opulentas”.

Não tem nada comprovado, nem que haja uma Gaia, uma Mãe Terra, personificada, ou que já se tenha atingido algum limite.

Outra mistificação do autor é tratar a Amazônia como uma região de florestas e índios. Segundo o IBGE, vivem ali 30 milhões de pessoas. E estas precisam de alimento, de transporte, energia, equipamentos sociais como hospitais e escolas. Precisam de empregos para não ficarem restritas à economia de subsistência etc.

Contradição aparente

Há uma questão que não entra na cabeça dos “ecologistas” e defensores da natureza: não existe essa natureza. Tudo já foi amplamente modificado pelos seres humanos. E o ser humano, não se pode esquecer, também é parte do mundo, não uma praga que Deus lançou sobre a Terra.

Para que se deixe de utilizar combustíveis fósseis será necessário, antes, queimar muito combustível. É o desenvolvimento industrial e tecnológico que fará com que cada vez menos utilizemos terras, pois desenvolveremos meios de produzir mais em espaços cada vez mais reduzidos.

Muita gente reclama dos computadores, das inteligências artificiais, por consumirem eletricidade e água. No entanto, graças a essas tecnologias, cada vez menos se utiliza papel. Ou seja, muito mais árvores poderão ser preservadas, pois já não existe tanta necessidade de livros físicos, impressões etc.

Apesar da boa vontade de muitos em preservar a natureza, é preciso esclarecer que a política imperialista de preservação da Amazônia é, no final das contas, improdutiva e acaba servindo a interesses escusos.

Encerramos com a situação de um trecho de Trótski em seu livro Literatura e Revolução:

O homem será incomensuravelmente mais forte, mais sábio e mais subtil; seu corpo se tornará mais harmonioso, seus movimentos mais rítmicos, sua voz mais musical. As formas da vida tornar-se-ão dinamicamente dramáticas. O homem médio alcançará a estatura de um Aristóteles, de um Goethe, de um Marx. E acima destes cumes surgirão novos picos. […] Mas a luta pelo domínio da natureza não cessará, e o homem, já senhor de seu próprio destino social, continuará a ser um animal de produção, um criador de beleza, um pesquisador. E então, pela primeira vez, o mundo, deformado e mutilado por nós, conhecerá a harmonia. As montanhas descerão, os rios mudarão de curso, as florestas se reorganizarão. E as feras… as feras viverão livres, como se o homem não existisse — não devido a nossa fraqueza, mas devido a nossa força.”.

Essa é visão dos comunistas para as questões ambientais, longe de qualquer mistificação, centrada na capacidade humana.

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