Nessa quarta-feira (9), completaram-se 84 anos da fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criada em 1941 por decreto do então presidente Getúlio Vargas, durante o Estado Novo. A empresa nasceu de um acordo diplomático com o governo dos Estados Unidos, conhecido como Acordos de Washington, que viabilizou a construção de uma siderúrgica de grande porte no Brasil. Instalada em Volta Redonda, no interior do Rio de Janeiro, a usina foi um marco para a industrialização nacional, mas sua história é também um reflexo das tensões entre interesses imperialistas e as lutas dos trabalhadores brasileiros.
A negociação para a criação da CSN começou em 1940, em um momento em que a produção brasileira de laminados não atendia à demanda por produtos pesados, como trilhos e chapas de aço. O governo Vargas buscava romper a dependência econômica do País, e a Segunda Guerra Mundial abriu uma janela de oportunidade.
Precisando de aliados e de aço para o esforço bélico, os Estados Unidos aceitaram financiar a obra por meio do Export-Import Bank, já que a iniciativa privada norte-americana não se interessou. Em troca, o Brasil enviou milhares de soldados à guerra, muitos dos quais nunca voltaram, para garantir a construção da siderúrgica.
Engenheiro militar e futuro governador fluminense, o coronel Macedo Soares defendeu a instalação no Vale do Paraíba, região decadente após o declínio do café, ideia apoiada por Amaral Peixoto, interventor do estado e genro de Vargas. Em 7 de maio de 1943, Vargas celebrou a usina como “símbolo da emancipação econômica do Brasil”. A operação começou em 1946, já sob o governo Eurico Dutra, que excluiu Vargas da inauguração, uma vez que um ano antes, um golpe de Estado organizado pelo governo norte-americano derrubara o líder nacionalista.
A CSN cresceu nas décadas seguintes. Em 1965, inaugurou seu Edifício do Escritório Central, com 37 mil metros quadrados em Volta Redonda e, em 1973, passou a integrar a holding Siderbrás, que controlava sete siderúrgicas no País.
Anos depois, em 1988, a usina viveu um dos momentos mais sombrios de sua história e do movimento operário brasileiro. Em novembro daquele ano, uma greve por aumento salarial, redução de jornada e reintegração de demitidos políticos terminou em massacre: três operários – Valmir Freitas Monteiro, William Fernandes Leite e um terceiro não identificado – foram mortos por tropas do Exército Brasileiro, que invadiram a usina com bombas de gás e tiros.
Dezenas ficaram feridos, e o patrimônio da empresa sofreu danos. O confronto começou às 19h do dia 9, quando 600 soldados desceram a avenida Independência, em Volta Redonda, enfrentando os grevistas, que resistiam com paus e pedras. “O Exército agiu como devia ter agido, no sentido de restabelecer a ordem”, justificou o general José Luís Lopes da Silva, comandante das tropas.
A CSN foi privatizada em 1993, no governo Itamar Franco, após ser incluída no Plano Nacional de Desestatização de Fernando Collor. O grupo Vicunha, junto ao Bamerindus e Bradesco, arrematou a companhia, que então tinha 17 mil empregados, contra 25 mil na década de 1980. Essa venda foi uma verdadeira pirataria dos bens públicos, entregando um patrimônio construído com sacrifício nacional a interesses privados. A esquerda deve lutar pela reestatização da CSN, devolvendo-a ao povo brasileiro.


