Neste 15 de abril, completam-se exatos 99 anos de um dos maiores levantes populares da história do mundo árabe: a Revolução Palestina de 1936 a 1939. A data marca o início de uma greve geral convocada espontaneamente pelos trabalhadores palestinos, transformando-se em um verdadeiro movimento revolucionário de massas contra o imperialismo britânico e o sionismo.
Ao longo de mais de três anos, o povo palestino enfrentou, com armas nas mãos e organização popular, uma das maiores potências militares do planeta. Foi a primeira revolução exclusivamente nacional do povo palestino e o ponto de partida da luta moderna pela libertação da Palestina.
O estopim da Revolução
A revolução foi precedida por uma década de intensa colonização sionista, promovida e financiada pelo imperialismo britânico, que permitiu a migração irrestrita de judeus europeus e a aquisição de terras às custas da expulsão dos camponeses árabes. Em 1935, a situação tornou-se insustentável com a maior onda migratória até então e a intensificação do conflito entre árabes e sionistas.
O assassinato de Izz ad-Din al-Qassam, clérigo sírio e líder do grupo armado Mão Negra, por forças britânicas, foi o catalisador da revolução. Sua morte, como a de tantos mártires da luta popular, acendeu o rastilho da revolta generalizada. Em 15 de abril de 1936, um ataque armado contra colonos sionistas por seguidores de al-Qassam marcou o início da revolução.
Uma revolução nacional
Com apoio das massas camponesas e da classe operária emergente, a revolução se espalhou rapidamente. Os comitês populares se multiplicaram, uma greve geral paralisou o país e uma insurreição armada se consolidou no campo. Em 25 de abril, Haj Amin al-Husseini e outras lideranças formaram o Comitê Supremo Árabe, que, pressionado pelos acontecimentos, endossou oficialmente a greve em 15 de maio.
A revolução se estruturou a partir da aliança entre camponeses e operários, com epicentros em cidades como Haifa e Jafa. As organizações revolucionárias se expandiram inicialmente entre os trabalhadores e se enraizaram no campo, fora do controle da elite feudal e burguesa palestina, que logo se colocou em choque com o movimento.
A repressão britânica e a traição das lideranças
O levante palestino forçou o Império Britânico a deslocar cerca de 100 mil soldados para reprimir a revolução. Foi uma operação de guerra contra uma população que, à época, somava apenas 800 mil habitantes. A repressão incluiu a destruição de aldeias inteiras, assassinatos em massa, prisões e exílios. Além disso, o imperialismo rearmou e treinou milícias sionistas como a Haganá e o Irgun, preparando o caminho para a futura criação do Estado de “Israel”.
A segunda fase da revolução, iniciada após a dissolução do Comitê Supremo Árabe em 1937, foi ainda mais intensa e protagonizada principalmente pelos camponeses e trabalhadores. Mas, sem uma direção revolucionária firme, foi sufocada pela coalizão entre o imperialismo britânico, o sionismo armado e a capitulação da burguesia árabe local.
Apesar da derrota militar, a Revolução de 1936–1939 foi um divisor de águas. Criou as bases da identidade nacional palestina moderna e mostrou a necessidade de uma direção revolucionária independente da burguesia e do imperialismo.
A experiência acumulada na revolução serviria de base para os movimentos da década de 1960, como a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e, mais tarde, para a emergência do Hamas. Até hoje, as Brigadas de al-Qassam, braço armado do Hamas, levam o nome do mártir da Revolução de 1936.