O ato do 8 de março promovido pelo Partido da Causa Operária (PCO) e pelo Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo terá uma atração cultural de grande impacto: a encenação da peça Casa de Bonecas, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen.
Escrita em 1879, a obra é considerada uma das peças mais importantes do teatro moderno. Ibsen, frequentemente lembrado como um precursor do teatro realista, rompeu com convenções sociais ao apresentar uma protagonista feminina que desafia as normas de sua época. A obra causou escândalo na sociedade europeia do final do século XIX, pois expunha a posição subalterna das mulheres dentro do casamento e da estrutura familiar burguesa.
A história gira em torno de Nora Helmer, uma dona de casa aparentemente feliz e dedicada ao marido, Torvald Helmer, um bancário conservador que a trata com condescendência. Ele a chama por apelidos como “minha cotovia” e “minha bonequinha”, reforçando sua visão de Nora como um ser frágil e decorativo, sem autonomia. O casamento dos dois é sustentado por essa aparente harmonia, mas, nos bastidores, Nora esconde um segredo que abala a estrutura dessa relação.
No passado, para salvar a vida de Torvald, Nora falsificou a assinatura de seu pai para conseguir um empréstimo. Na época, a lei não permitia que mulheres realizassem transações financeiras sem a autorização de um homem. Assim, sua ação, apesar de ter sido motivada pelo amor e pelo desejo de proteger o marido, torna-se uma ameaça quando Krogstad, um funcionário do banco de Torvald, descobre a falsificação e passa a chantageá-la.
Nora inicialmente acredita que, se a verdade vier à tona, Torvald a defenderá e reconhecerá seu sacrifício. No entanto, quando o escândalo se confirma, Torvald reage com frieza e egoísmo, preocupado apenas com sua reputação e status social. Ele repreende Nora com dureza, chamando-a de irresponsável e proibindo-a de educar os filhos, pois a considera moralmente corrompida. A decepção de Nora é imediata: o homem que ela julgava amar é incapaz de enxergá-la como um indivíduo, valorizando apenas sua aparência de esposa obediente e submissa.
O clímax da peça ocorre quando Nora toma consciência de sua posição de oprimida. Num ato inédito e chocante para a época, ela abandona Torvald e seus filhos, afirmando que precisa se encontrar como pessoa.
A peça vai ao encontro com a proposta do ato: resgatar a luta das mulheres trabalhadoras, afastando-se do identitarismo pequeno-burguês, que transforma o feminismo em uma política de conciliação com a burguesia. A Nora de Ibsen não busca apenas um espaço dentro da sociedade opressora; ela rompe com ela.
A encenação ocorrerá no Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP) logo após o ato na Praça do Patriarca, em São Paulo, como parte das atividades do 8 de março. O evento contará com caravanas de diversas cidades, reunindo mulheres e trabalhadores de todo o País para reivindicar direitos concretos, como licença-maternidade, creches públicas, salário igual para funções iguais e liberdade de organização.