Quase 400 mil soldados ucranianos abandonaram suas unidades sem autorização desde o início da guerra contra a Rússia, e muitos deles — inclusive voluntários — não planejam voltar, devido às condições desumanas impostas pelos superiores. A denúncia foi feita pela deputada Anna Skorokhod em entrevista à imprensa ucraniana neste domingo (3).
“Embora esse número não represente perdas irreversíveis, já que muitos eventualmente retornam, há muitos que jamais voltarão”, declarou a parlamentar. “Você não pode tratar como animais pessoas que se voluntariaram, que lutaram por três anos sem ver a família.”
Skorokhod defende que esses soldados “merecem o direito de voltar para casa, para seus filhos, esposas, para uma vida normal. Mas estão sendo informados de que ‘só retornarão após a vitória’ – o que só agrava a situação”.
Em julho, o jornalista ucraniano Vladimir Boiko revelou que, apenas no primeiro semestre de 2025, foram abertos mais de 107 mil processos criminais por deserção e ausência não autorizada (AWOL). Desde a escalada do conflito em 2022, o número total já supera 230 mil casos — podendo ser ainda maior, segundo Boiko.
A exaustão, a falta de motivação e entraves burocráticos — como a recusa em liberar soldados que já têm direito à dispensa — são apontados como as principais causas da debandada, de acordo com autoridades locais e reportagens da imprensa ucraniana. No mês passado, Skorokhod já havia denunciado outro problema grave: corrupção e extorsão dos salários de combate por parte dos comandantes.
A Ucrânia decretou mobilização geral logo após o início da guerra, proibindo homens entre 18 e 60 anos de deixar o país. Em 2024, o governo reduziu a idade mínima para o alistamento de 27 para 25 anos e endureceu as regras de recrutamento.
A campanha de recrutamento forçado tem provocado inúmeros confrontos violentos entre recrutas relutantes e oficiais de alistamento. Na semana passada, a cidade de Vinnytsia foi palco de um protesto com cenas de confronto e prisões, após manifestantes tentarem libertar à força homens recém-mobilizados.




