A Causa Operária TV (COTV) transmitiu, no sábado (6), a palestra-debate 205 anos do nascimento de Friedrich Engels, ministrada por Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO). Durante mais de uma hora, Pimenta apresentou um panorama minucioso da formação intelectual de Engels, de sua parceria com Karl Marx e do papel decisivo que ambos desempenharam na criação do movimento operário moderno.
Logo no início, Pimenta afirmou que compreender Engels exige entender “a situação que existia no começo do século XIX”, marcada pelo surgimento do chamado socialismo utópico. Segundo explicou, era predominante a ideia de que bastariam “governantes bem-intencionados” para reformar a sociedade. Esse tipo de formulação, disse ele, era “produto de uma elaboração racional sobre como seria a sociedade ideal”, e justamente por isso Marx e Engels a qualificaram como utópica: “não tinha base científica”.
A descoberta da luta de classes
O dirigente destacou que a ruptura teórica promovida por Marx e Engels consistiu em “identificar dentro da sociedade existente as leis sociais que levariam à superação dessa situação”, e não imaginar projetos de organização ideal. Entre essas leis, a principal foi a formulação da luta de classes. Pimenta enfatizou o caráter inovador dessa descoberta:
“Eles vão mostrar que a luta de classes é uma lei fundamental de toda a sociedade humana e que, a partir do capitalismo, é a luta entre capitalistas e operários. Pode parecer banal hoje, mas naquele momento era uma novidade absoluta.”
A originalidade teórica levou ao surgimento de um movimento operário socialista consciente, culminando, em 1889, na fundação da Segunda Internacional, “uma grande organização de massas dos partidos socialistas”, na qual predominava a concepção marxista.
Engels: fundador do marxismo
O presidente do PCO ressaltou que a doutrina é atribuída a Marx, mas “Engels teve um papel quase igual na elaboração dessa doutrina”. O próprio Engels reconhecia a superioridade intelectual de Marx, mas, segundo Pimenta, hoje “não se encontra no mundo nada nem parecido com Engels”, dada sua erudição e capacidade científica.
Um dos pontos centrais da palestra foi a afirmação de que Engels introduziu elementos decisivos da teoria antes mesmo de Marx. O dirigente citou o próprio Marx, que, ao iniciar O Capital, admitiu: “estou desenvolvendo as ideias que você mesmo iniciou”.
Pimenta definiu A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra como “um livro extraordinário”, combinando denúncia social, observação direta e formulação teórica. Engels, afirmou, é coautor não apenas do Manifesto Comunista, mas do próprio Capital: “o segundo volume ele pegou notas, manuscritos, e escreveu o texto. Num certo sentido, ele é coautor de O Capital”.
A formação do partido e o Manifesto
Ao tratar da Liga dos Comunistas, Pimenta destacou que o Congresso da organização havia encarregado Engels de redigir o programa, originando o esboço do que se tornaria o Manifesto Comunista. Segundo explicou:
“Marx pegou as ideias que estavam no texto do Engels e deu essa forma arrebatadora. As frases são do Marx, mas o conteúdo é do próprio Engels.”
O texto original de Engels foi posteriormente publicado como Princípios do Comunismo, que Pimenta qualificou como “extraordinário” e leitura obrigatória para iniciantes no marxismo.
Revolução de 1848
A palestra abordou ainda a atuação dos dois revolucionários durante a Revolução de 1848. Exilados até então, ambos retornaram à Alemanha e editaram a Nova Gazeta Renana. Rui observou que esse episódio demonstra o papel do jornal como instrumento político fundamental: “não foi Lenin quem primeiro mostrou isso, mas Marx e Engels”.
Como síntese da experiência, Engels escreveu Revolução e Contrarrevolução na Alemanha, obra que, por muito tempo, foi atribuída a Marx. Pimenta explicou sua importância:
“É o texto que coloca pela primeira vez a questão da revolução nos países atrasados, que vai dar origem à teoria da Revolução Permanente.”
Engels e a aplicação universal do marxismo
Durante o longo período em que trabalhou na empresa da família para sustentar Marx, Engels produziu parte essencial da literatura marxista. Pimenta mencionou desde textos sobre a Guerra Civil norte-americana até obras históricas como As Guerras Camponesas na Alemanha e A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, destacando que Engels “foi um dos maiores sábios que a humanidade já teve”.
O dirigente também sublinhou a importância do Anti-Dühring e de Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, definindo este último como “uma obra de propaganda revolucionária lida por milhões”.
Polêmica contra o revisionismo
Pimenta abordou ainda os ataques sofridos por Engels ao longo do século XX, em especial por correntes idealistas como a Escola de Frankfurt. Segundo relatou, esses autores chegaram a defender que “Engels não seria marxista”, uma posição que classificou como “uma vigarice intelectual”.
“Não tem marxismo sem materialismo. Engels foi explícito ao mostrar que a sociedade é regida por leis. Por isso precisavam afastá-lo do marxismo.”
Ele citou exemplos de autores que, ao tentar reescrever a história do marxismo, chegaram ao absurdo de afirmar que “Marx de O Capital também não era marxista”.
A atualidade da obra de Engels
Ao concluir, Rui Costa Pimenta enfatizou que ler Engels é indispensável para compreender o marxismo hoje. Ressaltou que, entre os cerca de 45 volumes das obras completas de Marx e Engels, “mais da metade é do próprio Engels”, o que por si só demonstra sua importância.
Também chamou atenção para a importância da correspondência entre os dois revolucionários, que revela “o caráter intelectual e humano de ambos”. Por fim, destacou o papel de Engels na construção da Segunda Internacional após a morte de Marx, reforçando que se trata, sem dúvida, de “uma figura de primeira grandeza do movimento revolucionário”.
A palestra, segundo o presidente do PCO, deve servir como estímulo à leitura sistemática da obra engeliana e à defesa do marxismo contra todas as tentativas contemporâneas de deturpação.
Confira a palestra na íntegra:





