O final de 2023 marcou uma vitória gigantesca para o povo palestino, a Operação Dilúvio de al-Aqsa lançada pelo Hamas no dia 7 de outubro. A humilhação de “Israel” foi tão gigantesca que o Estado sionista lançou uma guerra na Faixa de Gaza que até hoje não tem nenhuma perspectiva de ser vencida pelos israelenses. Ao mesmo tempo iniciou sua campanha monstruosa de genocídio, que do ponto de vista político apenas levou a mais derrotas de “Israel”.
O ano de 2024 portanto foi um ano de muitos massacres em Gaza e também na Cisjordânia. Um ano em que dezenas de milhares de palestinos foram assassinados das formas mais brutais possíveis. Mas, ao mesmo tempo, foi um ano de permanente desintegração do Estado de “Israel”. Do ponto de vista da luta do povo palestino, as vitórias se acumularam de janeiro até dezembro. O Hamas politicamente nunca esteve tão forte, “Israel” nunca esteve tão próximo de seu fim.
O martírio de Salé al-Arouri
Um padrão no ano foi o assassinato das lideranças palestinas, e também de outras forças da resistência, pelo Estado de “Israel”. A primeira delas foi Salé al-Arouri, o segundo mais alto dirigente do Hamas, que vivia em Beirute no Líbano. Foi o primeiro grande mártir da resistência a ser assassinado e deu o tom de todos os demais assassinatos dos sionistas. “Israel” ao matar a liderança cria um mártir, uma lenda, enfraquece um pouco as organizações que são seu alvo mas, ao mesmo tempo, abre uma brecha para ser ainda mais atacado pelo Eixo da Resistência, o que é uma vitória da Palestina.
No caso de al-Arouri, assassinado em Beirute, isso permitiu que o Hesbolá ampliasse ainda mais os ataques a “Israel”. Em janeiro, foi uma enorme afronta ao Líbano realizar um bombardeio em sua capital. Do ponto de vista político já ficou claro que os sionistas estavam desesperados. Não conseguiam vencer a guerra na Faixa de Gaza e por isso começaram uma campanha baixa de assassinatos.
Processo Corte de Justiça delibera que “Israel” é genocida
Muitas vitórias dos palestinos vieram no campo do apoio internacional. O primeiro grande momento se deu ainda em janeiro quando a África do Sul entrou com um processo na Corte Internacional da ONU acusando “Israel” de genocídio. Foi necessário uma enorme pressão do imperialismo para impedir que o processo da ONU julgasse “Israel” como um Estado de apartheid genocida. Mas ainda assim o processo teve um impacto político enorme, foi agradecido pelo próprio Hamas.
Ess foi um marco da desmoralização internacional de “Israel”. No primeiro mês do ano já ficou claro que o Estado era totalmente sustentado pelos governos imperialistas. Uma propaganda que teve um investimento de dezenas de bilhões por décadas caiu por terra, “Israel” era considerado genocida até mesmo pela própria ONU, a ferramenta do imperialismo que criou “Israel”. Além de desmoralizar os sionistas, foi uma desmoralização da própria ONU.
Um Ramadã histórico de luta
Em março, se inciou o mês do Ramadã, um mês sagrado para os muçulmanos. Isso não diminui a luta dos palestinos, pelo contrário, o Ramadã é considerado um mês de grandes mudanças políticas historicamente. Por isso toda a resistência convocou um mês de grande luta e foi isso que aconteceu. Em Gaza e principalmente na Cisjordânia as operações se ampliaram muito. A grande vitória se deu em Jerusalém ocupada.
Os sionistas estavam proibindo a entrada de palestinos na Mesquita de al-Aqsa, a mais importante da Palestina, desde outubro de 2023. Todas as sextas-feiras do Ramadã dezenas de milhares ignoraram a ditadura de “Israel” e marcharam sobre Al-Aqsa. No ápice mais de 150 mil pessoas estiveram presentes nessas grandes marchas, que foram convocadas pelo Hamas. Foi uma grande demonstração de força do povo palestina, que em meio ao genocídio, não se dobrou a ditadura de “Israel”. A repressão dos sionistas, como sempre, desmoralizou “Israel” que aparece como uma ditadura teocrática contra a maioria da população.
Hamas impõe acordo de cessar-fogo, “Israel” desesperado invade Rafá
No início de maio o Estado sionista estava já em desespero. No norte o Hesbolá havia criado uma verdadeira zone de guerra e centenas de milhares de colonos fugiram. Em Gaza a derrota era total. O exército estava se desmoralizando completamente e nenhum objetivo político estava sendo cumprido, os militares estavam já pressionando pelo cessar-fogo em Gaza.
O Hamas aproveitou a crise e em uma jogada muito astuta aceitou uma proposta feita pela CIA e por membros do governo de “Israel” nas negociações realizadas no Catar. Ou seja, EUA e Hamas havia costurado um acordo que terminaria a guerra em Gaza. O governo Netaniahu entrou em desespero, o cessar-fogo é equivalente a derrota militar, ou seja, ele estava prestes assumir a maior derrota da história de “Israel”.
Desesperado o governo sionista lançou uma das operações mais genocidas do ano, a invasão de Rafá, onde mais de um milhão de palestinos estavam refugiados fugindo do norte da Faixa de Gaza. A invasão foi uma forma de impedir que o acordo de cessar-fogo fosse aprovado e de ampliar o genocídio em Gaza. Militarmente os sionistas não ganharam nada. Ao mesmo tempo isso abriu uma nova etapa em que os acordos de cessar-fogo foram totalmente desacreditados.
O fim do processo de cessar-fogo, que durou ainda dois meses, foi a derrota do governo Biden. Ficou claro para todos os norte-americanos que não havia nenhuma honestidade no que dizia o governo de “defender os dois lados”. Biden era o principal responsável pelo genocídio. O Hamas derrubou Biden e agora tem um inimigo mais fraco para derrotar, Donald Trump.
Hamas conquista acordo histórico com o Fatá na China
Em julho, aconteceu um evento de grande importância para a resistência, 14 organizações palestinas se reuniram em Pequim para assassinar um acordo de unidade nacional. O mais importante foi que o Fatá, partido que comanda a Autoridade Palestina, esteve presente e assinou o acordo com o Hamas, principal partido da resistência. O acordo foi costurado pelos russos em uma reunião prévia em Moscou.
Foi uma grande demonstração de força do Hamas que conseguiu fazer o Fatá aceitar um acordo. A Autoridade Palestina, dominada pelo Estado de “Israel” , exerce uma pressão gigantesca sobre o Fatá para que não feche acordos com o Hamas. A ala direita do partido, que é dominante, é totalmente contra qualquer tipo de aliança, mas ainda assim eles tiveram de aceitar ir para a China diante da força da resistência.
Esse acordo é crucial para o cessar-fogo, mas a Autoridade Palestina ainda está sob o controle dos sionistas e se choca com a resistência, principalmente na Cisjordânia.
Assassinato de Hanié, a contra-ofensiva do sionismo
Após a vitória do Hamas na Faixa de Gaza, e do Eixo da Resistência em outras frentes, principalmente o Hesbolá e o Iêmen, o imperialismo organizou uma contra-ofensiva. Um dos aspectos chave foi o assassinato de diversos líderes da resistência, o principal deles foi o líder do birô político do Hamas, Ismail Hanié. Em 31 de julho, ele foi assassinado em uma visita oficial para Teerã pelos israelense, como apoio total dos serviços de inteligência dos EUA.
Hanié se tornou um dos grandes mártires da resistência, o homem que deu a sua vida pela libertação de seu povo. Foi assassinado de forma covarde em um quarto de hotel em uma visita solene. A sua morte, além de elevar ainda mais a visão positiva pelo Hamas no mundo, foi também mais uma justificativa para o Irã realizar sua operação de bombardeios contra “Israel”. Esses foram um enorme impacto contra o regime sionista.
Operação heroica em Jafa
No dia 1 de outubro finalmente o Irã cumpriu sua promessa e atacou o Estado de “Israel” com quase 200 mísseis balísticos. Esse evento ofuscou as demais operações da resistência no mesmo dia, mas o Hamas realizou um dos ataques de maior impacto contra o Estado de “Israel”, uma operação em Jafa, na cidade de Telavive ocupada. Foram 7 colonos mortos e 16 feridos na operação no coração de “Israel”.
O Hamas se pronunciou: “a operação heroica realizada pelos heróis do nosso povo nesta noite, no coração da cidade ocupada de Jafa, é uma resposta natural à guerra de genocídio e à contínua agressão sionista cometida pelo inimigo sionista contra o nosso povo na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, em Al Quds e no Líbano.
Enquanto celebramos esta operação heroica, afirmamos que todos os atos heroicos realizados pelo nosso povo contra a ocupação sionista são uma resposta à sua agressão e aos seus crimes, e uma defesa do nosso povo, da nossa terra e das nossas santidades. Reiteramos que a ocupação e seu governo fascista pagarão o preço por seus crimes e agressões”.
Assassinato de Sinuar
Talvez o assassinato mais marcante do ano tenha sido o de Iahia al-Sinuar, o líder do birô político do Hamas eleito após a morte de Hanié. Sinuar morreu como um heroi lendário lutando na linha de frente na Faixa de Gaza. Os sionistas tentaram humilhá-lo publicando as últimas imagens de sua vida. Um homem idoso, ferido, sendo atacado por um drone e um tanque sionista com suas últimas forças levanta um pedaço de pau e arremessa no drone. Sinuar lutou até seu último suspiro pela vitória da Palestina, o arquiteto do glorioso 7 de outubro se tornou uma lenda mundial.
O assassinato de SInuar quebrou uma das barreiras impostas pelo sionismo na defesa do Hamas. Organizações e pessoas do mundo inteiro defenderam o herói do povo palestino. O assassinato que tinha como objetivo mostrar “Israel” como um poderoso Estado apenas alçou o Hamas novamente ao partido de revolução mundial. O Hamas se tornou o que eram os revolucionários cubanos na década de 1970, um símbolo para todos os oprimidos. Sinuar, até em sua morte, foi um revolucionário, um dos maiores revolucionários do último século.
Netaniahu é condenado na Corte Internacional
Em novembro o Estado de “Israel” sofreu mais uma derrota. Se em janeiro a condenação na Corte Internacional de Justiça era algo mais simbólico, em novembro o Tribunal Penal Internacional condenou Netaniahu e o ministro da Defesa recém-derrubado Galante. Ao contrário da CIJ o TPI tem um poder de prender indivíduos por seus crimes. Netaniahu agora temia por sua liberdade caso visitasse diversos países que assinam o acordo. Em dezembro ele anunciou que não iria para a Polônia para um evento em Auschwitz com medo da condenação.
Foi mais uma derrota para o Estado de “Israel”. Agora o governo era novamente reconhecido por cometer crimes de guerra e genocídio. Se Netaniahu foi condenado então todos os soldados que cometeram esses crimes também podem ser. O Exército sionista passou a ter atenção dobrada para esconder seus crimes.
Começa a guerra civil na Cisjordânia
O ano na Palestina termina com o início de uma brutal repressão na Cisjordânia. Esta, no entanto, não foi realizada pelas tropas do exército de ocupação sionista mas sim das forças de repressão da própria Autoridade Palestina. Para o Hamas e os palestinos esse é um processo contraditório. Conforme a AP vai mais para a direita, se torna um total cachorro dos sionsitas, pior é a situação da Cisjordânia. No entanto, politcamente o Hamas se torna cada vez mais a única organização que de fato pode liderar os palestinos em sua libertação. O Fatá abandonou a luta há décadas, mas ela ainda dirige a AP o que o sustenta. Ao tomar uma medida absurda como essa, de atacar a resistência com extrema brutalidade em Jenin, ela se desmoraliza e aumenta a força política do Hamas.
O ano de 2025, portanto, começara com uma conjuntura muito conturbada. Em Gaza a guerra continua, na Cisjordânia ocupada a situação é quase de guerra civil. No Líbano o cessar-fogo acaba no fim de janeiro, a guerra pode retornar imediatamente. Na Síria, onde a resistência foi derrotada, ninguém sabe como a situação se resolverá. Iêmen, Iraque e Irã continua mantendo sua política de pressão a distância, sendo os mais ativos os iemenitas. Os EUA tentam abrir uma nova frente de guerra para impedir o Iêmen te atacar “Israel”. Mas apesar de todas as variáveis uma coisa é certa: “Israel” está mais fraco que nunca. Mesmo com a queda de Assad na Síria, a fragilidade de “Israel” continua crescendo. Não há solução para a crise e eventualmente os sionistas terão de se render e dar a vitória para o Hamas, ou seja, para a o povo palestino. Será uma enorme vitória da luta pela libertação da Palestina.