No dia 20 de março de 2003, começava um dos eventos mais destrutivos da história recente, a invasão norte-americana do Iraque. Hoje, aniversário de 22 anos do ocorrido, vamos relembrar alguns fatos importantes para entendermos o conflito, desde as alegações do imperialismo para a guerra, passando pela crise financeira de 2008 e terminando nas derrotas na Palestina e Ucrânia.
Guerra do Golfo
No início da década de 2000, o imperialismo enfrentava em diversos lugares a crise política de sua dominação. No Oriente Médio, especificamente, a tentativa de neutralizar o governo não era nova. Em 1991, aviões norte-americanos, franceses e ingleses bombardearam a costa iraquiana e o Cuaite, parte anexada pelo governo de Saddam Hussein, por ininterruptas cinco semanas. No episódio, que ficou marcado como Guerra do Golfo – uma das maiores campanhas militares do último século -, o uso de aviões camuflados stealth e mísseis inteligentes era uma novidade e os custos da guerra foram enormes.
Inicialmente, por meio da ONU, o imperialismo buscou sancionar o Iraque e, ao mesmo tempo, em menos de um mês da invasão do Cuaite, os efetivos norte-americanos já haviam crescido muito na Arábia Saudita. Essa é uma clara demonstração de que o imperialismo não recorreria à diplomacia com o governo Hussein e estava preparando um genocídio. Com pouco mais de dois meses de conflito, a operação já acumulava quatro vezes o número de bombardeios em comparação com a ofensiva contra o Japão na Segunda Guerra. Apesar de tudo, a dita “Coalizão” só foi capaz de fazer as tropas iraquianas recuarem.
A conspiração norte-americana contra Saddam Hussein
Após o fracasso em neutralizar regimes como o de Saddam, a recuperação russa, a crescente dificuldade política na América Latina e a instabilidade da dominação imperialista sobre o Oriente Médio, o imperialismo decidiu intervir ainda mais fortemente, derrubando o regime e ocupando o Iraque. Sob alegação de “combate ao terrorismo”, após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, governos árabes passaram a ser visados como possíveis alvos de operações do Pentágono, sob o Governo do sanguinário Bush, que havia prometido ter uma “postura mais dura” com Saddam.
Após deixar o governo Bush, o então secretário do Tesouro, Paul O’Neill, disse que já havia planos de derrubar o governo de Hussein do poder desde antes de Bush tomar posse, o que corrobora a tese de que o imperialismo já via o governo iraquiano como uma afronta maior à dominação imperialista no Oriente Médio. Além das questões políticas, o Iraque sempre foi, assim como os territórios sauditas vizinhos, dotado de grandes reservas de petróleo, o que atraia as grandes petrolíferas.
O governo Bush, usando como desculpa o 11 de Setembro, iniciou a propaganda de que haveria uma relação entre grupos paramilitares ditos “terroristas” e o governo iraquiano. A invasão do Iraque foi fortemente criticada pela França e Alemanha, que argumentaram que não havia provas que as alegações feitas pelos Estados Unidos eram verdadeiras e que a operação representou uma forte violação das leis internacionais. Depois disso, foram feitas grandes manifestações contra a guerra. Posteriormente, mostrando tratar-se de um posicionamento demagógico, França e Alemanha se juntariam à ocupação.
Custos militares e a crise de 2008
Como saldo da invasão, mais de sete mil civis e até 45 mil soldados foram assassinados. Estimasse que, em anos posteriores, até 2011, mais de 315 mil soldados e civis tenham sido mortos pela “Coalizão”, segundo a Brown University. Os gastos com a manutenção das bases, alistamento e realistamento nos primeiros anos de ocupação foram gigantes, alcançando um pico em 2008 – ano da crise financeira internacional – com mais de 170 mil soldados norte-americanos na ocupação. Ao total, foram três trilhões de dólares ao longo de mais de vinte anos. Durante esse período, a guerra com o Iraque consumiu cerca de 50% de todo orçamento militar dos Estados Unidos, contribuindo diretamente para a falência do Estado norte-americano.
É preciso destacar o papel da USAID nessa agressão imperialista no Oriente Médio. A organização contribuiu com mais de 50 bilhões no Iraque. Valor que inclui não apenas o financiamento destinado explicitamente ao Pentágono para a guerra, mas também os gastos do Departamento de Estado com o Iraque, os cuidados e aposentadoria dos veteranos da Guerra do Iraque e os juros sobre dívidas contraídas para financiar 23 anos de envolvimento militar dos EUA no país.
Em 2011, as tropas foram retiradas do Iraque somente para que, três anos depois, em 2014, elas voltassem a ocupar o país sobre pretexto de “combate ao ISIS”. Já na mesma época, ocorreu o golpe na Ucrânia e o armamento do país contra a Rússia, o que resultou na guerra atual na região.