Nessa quarta-feira (2), completam-se 61 anos desde que, em 2 de abril de 1964, o jornal O Globo publicou um editorial saudando o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart. Sob o comando do imperialismo norte-americano, a ação foi celebrada pelo órgão como uma medida necessária para proteger a democracia no Brasil, iniciando um regime ditatorial que duraria 21 anos e deixaria um legado de repressão e terror sem paralelos na história do País.
O editorial, estampado na edição de 2 de abril de 1964, exaltava a intervenção militar como um triunfo democrático. Nele, o jornal trazia manchetes como “a democracia está sendo restabelecida” e no editorial, “ressurge a democracia, no instante preciso em que o poder discricionário do Executivo caminhava para suprimir as liberdades públicas”. Ainda segundo o texto, “o povo brasileiro, com as Forças Armadas, salvou-se a tempo da aventura extremista que ameaçava conduzir o País ao caos”. Essas palavras refletiam a propaganda construída para justificar a deposição de Goulart, acusado de promover uma “república sindicalista” que supostamente abriria caminho ao comunismo, uma ameaça que, para O Globo, exigia a ação dos militares para “preservar as instituições democráticas”.
Por trás do golpe, estava a influência direta dos Estados Unidos, que via no governo de Goulart um risco aos seus interesses na América Latina durante a Guerra Fria. Documentos históricos revelam que o embaixador norte-americano Lincoln Gordon e o adido militar Vernon Walters articularam apoio logístico e financeiro às forças golpistas, sob orientação do governo de Lyndon Johnson. Alinhado aos monopólios internacionais, O Globo serviu como porta-voz dessa política, legitimando a tomada do poder como um ato em defesa da ordem e da liberdade.
O golpe foi deflagrado na noite de 31 de março de 1964, quando tropas do general Olympio Mourão Filho marcharam de Juiz de Fora (MG) rumo ao Rio de Janeiro. Na manhã de 1º de abril, o presidente do Senado Auro de Moura Andrade, declarou a vacância do cargo presidencial, apesar de Goulart ainda estar em território nacional.
A ditadura que se seguiu trouxe censura, prisões arbitrárias, torturas e exílio forçado a milhares de brasileiros. A Rede Globo, que nasceria como emissora de TV em 1965, consolidou-se como um dos pilares de sustentação do regime, beneficiando-se de sua proximidade com os militares para se constituir em um monopólio ainda hoje dominante nas comunicações brasileiras.
O apoio da Globo ao golpe reflete o papel da grande imprensa como instrumento do imperialismo e da burguesia nacional associada ao capital imperialista. Os EUA, além de oferecer suporte direto, como navios da Marinha posicionados na costa brasileira, pressionaram por reformas econômicas que favorecessem seus investimentos, como a Lei de Remessa de Lucros, aprovada em 1964. O jornal, ao louvar a intervenção, alinhou-se a essa estratégia, apresentando-a como salvação nacional: “o Brasil voltou a respirar os ares da democracia, livrando-se da tirania que se desenhava”.
Passados 61 anos, a “defesa da democracia” reaparece em nova conjuntura, usado para justificar ataques aos direitos democráticos da população e intervenções no regime político brasileiro. Assim como em 1964, a “democracia” serve aos interesses do imperialismo, que busca moldar o País às suas conveniências, enquanto a memória do golpe permanece como alerta sobre os perigos da defesa da democracia.