Na madrugada de 17 de abril de 1961, cerca de 1.400 exilados cubanos, organizados, financiados e armados pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), desembarcaram na praia de Playa Girón, ao sul da província de Matanzas, Cuba. Começava a invasão da Baía dos Porcos, com objetivo derrubar o governo de Fidel Castro, que havia chegado ao poder após a vitória da Revolução Cubana em 1959.
A operação foi conduzida pela Brigada 2506, formada por cubanos contrarrevolucionários treinados em bases na Guatemala e na Nicarágua sob supervisão direta da CIA. O plano incluía ataques aéreos prévios para destruir a força aérea cubana e criar confusão, além do desembarque principal em Playa Girón e Playa Larga, na região do Zapata, uma área pantanosa e pouco habitada.
A conjuntura era de crescente tensão entre os Estados Unidos e o governo revolucionário cubano. Desde sua vitória, Fidel Castro havia tomado medidas que desagradaram profundamente o imperialismo norte-americano, como a nacionalização de empresas estrangeiras — muitas delas dos EUA — e a realização da reforma agrária. Em janeiro de 1961, os EUA romperam relações diplomáticas com Cuba e passaram a planejar abertamente a derrubada do novo regime.
Dois dias antes da invasão, em 15 de abril, aviões pintados com símbolos da força aérea cubana atacaram aeroportos em Havana, Santiago de Cuba e San Antonio de los Baños. O ataque pretendia destruir a aviação do país, mas teve sucesso limitado: apenas três aviões foram destruídos. O governo cubano rapidamente denunciou a agressão, apresentando os destroços à imprensa internacional e alertando para a iminência de uma invasão.
No dia 17, a brigada desembarcou com o apoio de navios e aviões fornecidos pelos EUA. O plano previa que uma vez estabelecida a cabeça de praia, uma junta provisória exilada seria proclamada e os Estados Unidos reconheceriam oficialmente o novo governo, pressionando a Organização dos Estados Americanos (OEA) a respaldar a ação.
Entretanto, a resistência cubana foi imediata. As Forças Armadas Revolucionárias, com cerca de 20 mil efetivos, e dezenas de milhares de milícias operárias foram mobilizados a partir de 16 de abril, enfrentaram diretamente os invasores.
Os combates mais intensos ocorreram em Playa Larga e Playa Girón. Entre 17 e 19 de abril, tanques, artilharia e aviões T-33 e Sea Fury cubanos atacaram as posições da Brigada 2506. Os milicianos, organizados em batalhões populares, foram fundamentais para travar os avanços inimigos e proteger os acessos às cidades próximas.
Ao todo, cerca de 114 invasores morreram e mais de 1.100 foram capturados. As forças cubanas registraram 176 mortos e aproximadamente 300 feridos
No dia 19 de abril, Fidel Castro dirigiu pessoalmente as operações finais no campo de batalha. Os prisioneiros seriam posteriormente julgados e trocados, em dezembro de 1962, por remédios e alimentos enviados pelos Estados Unidos no valor de US$53 milhões.
A vitória contra a invasão malograda foi decisiva para consolidar o regime revolucionário em Cuba. Em 16 de abril, véspera do desembarque, Fidel Castro declarou o caráter socialista da Revolução Cubana em discurso na capital, diante de mais de um milhão de pessoas. A resposta popular à tentativa de invasão demonstrou a capacidade de mobilização das organizações revolucionárias e impôs uma derrota direta ao governo norte-americano do presidente John F. Kennedy, que havia assumido o cargo em janeiro de 1961 e autorizou pessoalmente a operação.
Após o fracasso da Baía dos Porcos, os Estados Unidos intensificaram o bloqueio econômico e deram início a outras tentativas de desestabilização. A derrota, no entanto, teve impacto duradouro: como proclamado por Che Guevara, a invasão derrotada pela mobilização popular teve o pendor de derrotar a contra-revolução definitivamente.
A invasão da Baía dos Porcos marcou a primeira grande intervenção armada dos Estados Unidos contra a Revolução Cubana. Seu fracasso mostrou os limites da ação militar direta contra o governo revolucionário de Cuba, que mesmo enfrentando o mais severo bloqueio econômico já visto, se mantém sólido, desfrutando de grande autoridade junto à população.