
Dia de hoje na história
12/3/1935: Aliança Nacional Libertadora é fundada
Surgida em um período de ascensão da extrema direita e de turbulência revolucionária mundial, a ANL reuniu comunistas, nacionalistas, militares, trabalhadores e intelectuais

- Ato da ANL reúne 10 mil pessoas na então capital federal, o Rio de Janeiro
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- Reprodução
Em 12 de março de 1935, há 90 anos, foi criada no Brasil a Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma organização que se destacou na história política nacional como uma coalizão voltada ao combate ao fascismo, ao imperialismo e às forças da burguesia latifundiária. Surgida em um período de ascensão da extrema direita e de turbulência revolucionária mundial, a ANL reuniu comunistas, nacionalistas, a baixa-oficialidade, trabalhadores e intelectuais em um esforço conjunto para enfrentar a burguesia imperialista e o governo de Getúlio Vargas, que servia aos interesses das classes dominantes e do capital internacional. Ao contrário do cenário atual, em que o imperialismo se vale de uma fachada “democrática” para preservar seu domínio, na década de 1930, sua tática consistia em promover regimes fascistas como barreira contra o avanço das lutas populares e a expansão do socialismo.
O nascimento da ANL foi formalizado em 12 de março de 1935, com sua apresentação pública realizada em 30 de março, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. A cerimônia atraiu uma multidão e posicionou a organização como uma reação direta ao fortalecimento da Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento fascista encabeçado por Plínio Salgado e tolerado por Vargas. As bases da ANL foram lançadas em encontros iniciados no segundo semestre de 1934, promovidos por figuras como Francisco Mangabeira, Manuel Venâncio Campos da Paz, Moésia Rolim, Carlos da Costa Leite, Gregório Lourenço Bezerra, Caio Prado Júnior, João Saldanha e Aparício Torelly. Esses intelectuais e oficiais militares, insatisfeitos com o rumo reacionário do governo após a Revolução de 1930, buscavam uma frente capaz de organizar as massas contra o fascismo e a submissão do País ao imperialismo.
O comando provisório da ANL contou com nomes como Herculino Cascardo (presidente), Amoreti Osório (vice-presidente), Roberto Sisson, Benjamim Soares Cabello e Francisco Mangabeira. No ato de fundação, o manifesto da organização foi apresentado pelo jovem Carlos Lacerda – que, curiosamente, mais tarde se tornaria um adversário ferrenho do comunismo. Luís Carlos Prestes, conhecido como “Cavaleiro da Esperança” e então vivendo na União Soviética, foi escolhido como presidente de honra. Em mensagens enviadas ao Brasil, Prestes defendeu que a ANL deveria atuar como “uma grande coalizão nacional” contra o fascismo e o imperialismo, mobilizando “todas as camadas exploradas” por um governo revolucionário popular.
A plataforma da ANL tinha objetivos definidos: lutar contra o fascismo, o imperialismo e o latifúndio, defendendo a reforma agrária, a expropriação de empresas estrangeiras e o fim do pagamento da dívida externa. Seu grito de guerra, “Pão, Terra e Liberdade”, refletia os anseios dos trabalhadores. Caio Prado Júnior, um dos articuladores do movimento, sustentava que a ANL era “a única força verdadeiramente representativa do povo”, capaz de congregar operários, camponeses e setores da burguesia não alinhados ao imperialismo. Prestes, seguindo as diretrizes da Internacional Comunista (Comintern), enxergava na ANL o ponto de partida para uma revolução que derrubasse Vargas e instaurasse um poder anti-imperialista.
A ANL expandiu-se rapidamente, conquistando dezenas de milhares de apoiadores – números estimados entre 70 e 100 mil em seu momento de maior força. Em cidades como Natal, Recife e Rio de Janeiro, a organização promovia atos públicos e confrontava os integralistas, que exibiam seus uniformes verdes e gestos fascistas nas ruas. Em Santa Catarina, trabalhadores como Álvaro Ventura, João Verzola e Manoel Alves Ribeiro criaram núcleos que mais tarde dariam origem ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) na região. A polarização política aumentava, e, em 5 de julho de 1935, Prestes publicou um manifesto inflamado, exigindo “todo o poder à ANL”, o que colocou o governo em alerta.
A reação de Vargas foi imediata e brutal. Em 11 de julho, valendo-se da Lei de Segurança Nacional – chamada de “Lei Monstro” pelos opositores –, a ANL foi proibida. Seus locais de reunião foram interditados, e a repressão ganhou força. Forçada à clandestinidade, a organização perdeu sua conexão com as massas, enquanto os comunistas mais radicais, como Prestes, que chegara ao Brasil em abril com Olga Benário e outros militantes internacionais, ganhavam influência. A decisão por uma revolta armada levou à Intentona Comunista, em novembro de 1935. Rebeliões eclodiram em Natal, Recife e Rio de Janeiro, mas, descoordenadas e sem apoio popular suficiente, foram logo esmagadas. Prestes e outros dirigentes foram capturados, e Olga Benário, enviada à Alemanha nazista, acabou assassinada em um campo de concentração.
A dissolução da ANL representou um revés significativo para a esquerda no Brasil. A onda repressiva que veio em seguida pavimentou o caminho para o golpe do Estado Novo, em 1937, quando Vargas instaurou uma ditadura, usando o “perigo comunista” como pretexto para concentrar o poder. Apesar de seu desfecho, a ANL deixou como herança uma luta corajosa contra o fascismo e o imperialismo, provando que, em momentos de crise, a união das forças populares pode ameaçar os interesses da burguesia e seus aliados externos. Em tempos atuais, com a extrema direita novamente em evidência, a história da ANL destaca a importância de alianças amplas e decididas para enfrentar os adversários da classe trabalhadora.