Em coluna publicada no portal Brasil 247, o jornalista Paulo Henrique Arantes enaltece a suposta luta contra o fascismo. Intitulada “Xandão contra os Goebbels do século XXI” (17/1/2024), o teor é autoexplicativo. Em primeiro lugar e contrariando todas as experiências históricas sobre o tema, não é o levante da classe trabalhadora que derrotará a mobilização fascista, mas um burocrata fascista, oriundo da máquina de repressão do Estado de São Paulo, a serviço do imperialismo e atuando por meio de métodos fascistas:
“Alexandre de Moraes capricha no voluntarismo ao bater e rebater na tecla da necessidade de se criar uma legislação que coíba o uso da internet para disseminação de fake news”, escreve Arantes, em uma clara defesa da arbitrária medida que, uma vez aprovada, instaurará a censura total dos meios de comunicação digitais. O colunista, no entanto, vai além em sua fé no homem da cabeça lustrosa:
“Assim ele discursou na cerimônia rememorativa do 8 de Janeiro: ‘As democracias não podem mais ignorar o poder político das redes sociais como o mais novo e eficaz instrumento de comunicação de massa e a desinformação massiva nelas praticada por grupos extremistas, sem qualquer regulamentação concreta, com a proliferação de notícias fraudulentas e discursos de ódio e antidemocráticos, como instrumento de corrosão da democracia’”.
Claro, nada mais democrático do que erradicar direitos democráticos para impedir o que o togado chama de “corrosão da democracia”, certo? O autor, concorda:
“Esta coluna, mais de uma vez, alertou para a importância de o Congresso retomar a apreciação do Projeto de Lei 2.630, que trata do tema. O que a extrema-direita pratica no Brasil e no mundo, seguindo manual do nefando Steve Bannon, é a evolução tecnológica do marketing nazista, concebido pelo Bannon de Hitler, Joseph Goebbels.”
Embora não seja dito explicitamente, fica evidente que se ao longo da história foram os trabalhadores (e não os burocratas) que derrotaram os fascistas, para o jornalista pequeno-burguês, as coisas se inverteram. No século XXI, são os trabalhadores e suas liberdades democráticas a ameaça, ao passo que os togados, os combatentes. Não sabendo usar as redes sociais da maneira aprovada pela burguesia e pela pequena burguesia, os operários tornam-se um perigo, que deve ser combatido com leis repressivas, para assim, resguardar a estabilidade de um regime que nada lhes dá, exceto fome e repressão.
O que a total alienação de Arantes do mundo real ignora também é que mentiras como apresentar o golpe de 1964 como uma defesa da “democracia”, tratar um comício na praça da Sé contra a Ditadura Militar como uma festa de devotos católicos, falar que Dilma Rousseff cometeu “pedaladas fiscais” ou que Lula adquiriu imóveis ilegalmente continuarão sendo ditas aos montes pelas formas de comunicação completamente dominadas pelos monopólios. “Fake news” será quando o funcionário da Sabesp se expressar, seja sobre o que for.
Finalmente, os responsáveis por julgar o que é ou não “fake news” são os mesmos que condenaram o petista José Dirceu no caso do Mensalão por que “a literatura permite”, colocaram Lula atrás das grades com base em nenhuma prova e que agora, condenam o também petista (e judeu) Breno Altman por discurso de ódio e antissemitismo. É o monstruoso aparelho de repressão do Estado brasileiro que se fortalece com os poderes dados pelo PL defendido por Arantes.
O medo do fascismo é justificado, mas a histeria é um péssimo conselheiro. Como muitos pequeno-burgueses, é no segundo caso que se encontra o colunista de Brasil 247. Em seu estado histérico, Arantes ignora o fato de estar apoiando as condições básicas para que o verdadeiro terror fascista se instaure no País. Uma vez erradicada a liberdade de expressão, como denunciar o que quer que seja?
A verdadeira forma de enfrentar o avanço do fascismo, cuja eficiência foi atestada pela história, reside na mobilização operária. Seja na Itália de Mussolini, na França ocupada pelo nazismo, na ascensão do fascismo britânico e francês nos anos 1930, e nas ditaduras latino-americanas dos anos 1960, 1970 e 1980, os trabalhadores e estudantes são os verdadeiros responsáveis por esmagar intentonas fascistas e mesmo regimes fascistas estabelecidos. Os burocratas, por sua vez, jamais desempenharam nenhum papel positivo e não há razão para acreditar que o ex-secretário de Segurança do PSDB seja o primeiro da história.