Em análise exclusiva para a Diário Causa Operária, o dirigente do Partido da Causa Operária no Rio de Janeiro e apresentador do programa Plantão Palestina Vinícius Rodrigues, analisou os desdobramentos da recente derrubada do governo sírio liderado por Bashar al-Assad. Em sua análise, ele expôs como o evento configura um golpe de Estado clássico, organizado pelo imperialismo em conjunto com sionistas e o governo da Turquia.
Segundo Rodrigues, o episódio foi marcado por uma operação meticulosamente planejada, na qual o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), vinculado à Al-Qaeda, desempenhou papel central. Ele destacou que a ofensiva, embora inicialmente interpretada como uma campanha militar, revelou-se uma manobra política e estratégica. “Não era só uma campanha militar, era uma campanha golpista mesmo, política, já orquestrada”, afirmou o jornalista.
O golpe teve início com a tomada de Alepo, uma cidade de enorme importância estratégica e econômica, seguida de avanços em Hama, Homs e, finalmente, Damasco, culminando na renúncia de Assad, anunciada pelos próprios aliados russos. Para Rodrigues, o rápido avanço dos mercenários só foi possível devido à infiltração e corrupção de setores das forças armadas sírias, cooptados pelo imperialismo. Ele enfatizou que a resistência na Síria enfrentou, ao longo de mais de uma década, inúmeras investidas militares, mas nunca havia sofrido um golpe dessa magnitude.
Rodrigues apontou que a Síria, ao lado da Nicarágua, representa um elo mais vulnerável no conjunto de países que resistem ao imperialismo, principalmente por ser um país devastado pela guerra e economicamente enfraquecido. Ele classificou a queda de Assad como “uma das maiores vitórias do imperialismo no século 21”, destacando que nenhum dos principais líderes do eixo de resistência havia sido derrubado até então.
Entre os pontos mais polêmicos levantados pelo analista está o papel dos aliados tradicionais da Síria, como Rússia e Irã. Segundo ele, é necessário entender como essas potências permitiram que o golpe fosse consumado. “Como é que os russos deixaram isso acontecer? Como é que os iranianos deixaram isso acontecer?”, questionou. Além disso, levantou hipóteses sobre possíveis acordos de bastidores, como a ideia de que a Rússia teria negociado a entrega da Síria para fortalecer sua posição na Ucrânia.
Outro aspecto importante de sua análise é o impacto desse golpe no Oriente Médio. Rodrigues observou que o imperialismo, após meses de derrotas consecutivas, finalmente obteve uma vitória significativa na região, isolando a resistência síria de seus aliados mais próximos no Irã e no Iraque. Ele alertou para as consequências dessa reviravolta, que pode intensificar a instabilidade na região e demandar uma resposta robusta do eixo de resistência para conter os avanços imperialistas.
O programa Plantão Palestina trará detalhes sobre essa análise e as implicações geopolíticas do golpe na Síria. Rodrigues reforçará suas perspectivas sobre a necessidade de ações concretas para enfrentar as agressões imperialistas no Oriente Médio, apontando o papel da resistência na reorganização do cenário político global. Abaixo, a análise do jovem dirigente carioca:
O que está acontecendo na Síria é um golpe de estado tradicional, orquestrado pelo imperialismo, pelos sionistas ali do lado e com uma participação da Turquia, que é a organização que se liga diretamente com o HTS, Hayat Tahrir al-Sham, que é a al-Qaeda na Síria. Eles, logo após o cessar-fogo do Líbano, iniciaram uma campanha militar para invadir Alepo, mas, ao que tudo indica, o que estava acontecendo não era meramente uma campanha militar e, sim, um golpe de estado. Por quê? Porque a guerra na Síria levou aí coisa de seis anos para se estabilizar, e os confrontos militares foram extremamente grandes, conturbados e difíceis. Então, não tinha esse negócio de cair uma cidade, duas, três cidades em poucos dias. Ou seja, parece que havia um setor das forças armadas que já havia sido corrompido, comprado pelo imperialismo, e deixou que a al-Qaeda avançasse.
A al-Qaeda foi descendo, primeiro pegou Alepo, uma cidade superimportante, já desestabilizou completamente o país e, aí, foi descendo na linha norte-sul com as principais cidades. Então, você tem Alepo, depois Hama, depois Homs, depois Damasco, que é a capital, e tomou a capital Damasco. Os russos anunciaram que o Bashar al-Assad renunciou. Os russos, que são aliados próximos da Síria, então, fica claro que realmente isso aconteceu e, ao que tudo indica, não foi uma derrota militar, mas, sim, um golpe de estado que derrubou o governo Assad. Depois de muitos anos tentando derrubar o governo Assad, mais de uma década, desde 2011, o imperialismo finalmente conseguiu fazer aí uma das maiores vitórias do século 21. Não teve nenhum desses presidentes desse eixo do mal derrubado recentemente. Teve muitos golpes na América Latina, mas não teve golpe contra os presidentes mais firmes. Não teve golpe na Nicarágua, em Cuba, na Venezuela, na Rússia, na Bielorrússia, na Coreia do Norte. Esses países mais firmes nunca caíram. A Síria, nesse sentido, acho que, junto com a Nicarágua, é o setor mais vulnerável: país pobre e destruído pela guerra. Parece que conseguiram, finalmente, por meio dos políticos internos, derrubar o governo do Bashar al-Assad.
Interessante, né? Porque todos os analistas internacionais, ninguém estava esperando que isso fosse acontecer. Você pega aí, por exemplo, o Scott Ritter, publicou que ia ser mais uma campanha militar e que não ia dar certo militarmente. Inclusive, de princípio, parecia uma operação meio suicida, essa operação da al-Qaeda, porque, se fosse só uma campanha militar, eles iam acabar sendo esmagados. Mas não era só uma campanha militar, era uma campanha golpista mesmo, política, já orquestrada. Por isso que deu tanto certo e por isso que eles fizeram. Nesse momento, se levantam muitas questões sobre tudo que está acontecendo, né? Como é que os russos deixaram isso acontecer? Como é que os iranianos deixaram isso acontecer? Como é que ninguém percebeu que isso estava para acontecer? E o que vai acontecer agora com o eixo da resistência? Ficaram isolados do foco do Oeste da Resistência, que é o Irã e o Iraque, que faz fronteira com o Irã. E a questão é como eles vão reagir a esse ataque, a esse golpe. É uma reviravolta muito grande, não é uma coisa pequena. Tem que avaliar, de fato, o que vai acontecer com a posição dos russos e a posição dos iranianos.
Nesse momento, aparecem muitas teses. Os russos traíram não sei quem, os iranianos traíram não sei quem. Teve uma tese que eu vi falando assim: os russos venderam a Síria pra conseguir ganhar na Ucrânia. De fato, a verdade é que a gente não sabe o que aconteceu e vai demorar um pouco pra saber. Agora, que avanço grande do imperialismo é, e a resistência, incluindo os russos, vai ter que tomar uma iniciativa grande contra isso. Ou a situação vai ficar muito feia no Oriente Médio, muito feia mesmo. Até porque, agora, a gente já viu que os israelenses estão invadindo a Síria, e vamos ver até onde eles vão invadir. Quer dizer, é a primeira vitória real do imperialismo. Você teve ali alguns assassinatos que são vitórias, mas nenhuma grande vitória do imperialismo. Essa é a primeira maior, e é bem grande mesmo, no Oriente Médio, desde o Dilúvio de Al-Aqsa, que foi uma série de derrotas. Então foram aí 14 meses de derrotas do imperialismo seguidas, para eles conseguirem tirar essa da cartola, que foi um negócio bem importante.