O dia 16 de julho desse ano marcou os 50 anos da morte de um dos mais importantes nomes da arte política da história mais recente do Brasil. Oduvaldo Viana Filho, ou simplesmente Vianinha, morreu em 1974, com apenas 38 anos.
Filho do dramaturgo Oduvaldo Vianna, militante do Partido Comunista como tanto artistas nas décadas de 40 e 50, e da radionovelista Deocélia Vianna, Vianinha desde menino teve contato com o teatro e a militância político, tendo entrado na União da Juventude Comunista aos 14 anos.
Criador do Centro Popular de Cultura da UNE, em 1962, juntamente com outros artistas da época, Vianinha, em sua área, a dramaturgia, buscou colocar a arte a serviço das lutas do povo. O CPC da UNE, apesar de sua vida curta, graças ao golpe militar de 1964 que resultou no incêndio criminoso da sede da entidade estudantil, teve uma enorme importância para a arte e a cultura nacionais.
A arte criada durante o período do CPC faz eco até hoje, coincidindo com o momento mais criativo da cultura nacional desde então. É daquele movimento que saiu a canção de protesto da chamada MPB, o Cinema Novo e o teatro político.
E foi justamente o teatro, levado adiante por nomes como Vianinha, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, a ponta de lança da criação do CPC.
Em 1955, Vianinha estreia como ator. Pouco antes ele e Guarnieri haviam criado o Teatro Paulista do Estudante por iniciativa da União Paulista dos Estudantes Secundários e do PCB. Os dois jovens eram militantes do PCB e receberam como tarefa partidária o trabalho artístico.
O grupo ensaiava na sede do Teatro de Arena, em São Paulo. Foi lá que Vianinha e Guarnieri conheceram Augusto Boal. E foi lá que o grupo estreou a peça Eles não Usam Black-tie escrita por Guarnieri, que estreia em 1958. A peça é um marco na nova dramaturgia que os jovens estavam procurando. Um teatro que buscasse falar da vida das pessoas comuns, do povo brasileiro, do dia a dia da classe operária e de sua luta. Essa busca não estava apenas no conteúdo das peças. O grupo do Teatro de Arena queria de fato atingir um público proletário.
Foi com esse espírito que Vianinha escreve a sua primeira peça, Chapetuba Futebol Clube, em 1959. Através do futebol, retratando os conflitos num time de futebol de várzea, Vianinha procurou afirmar o caráter nacional que o grupo procurava.
É justamente o grupo do Teatro de Arena, com suas ideias e princípios sobre a dramaturgia, o principal núcleo que vai impulsionar a criação do CPC. Já no Rio de Janeiro, Vianinha se liga a outros artistas e intelectuais para a criação do movimento que buscava uma arte nacional, voltada ao povo e suas lutas.
Assim, em 1961, escreve a peça A mais-valia vai acabar, seu Edgar, com ajuda do sociólogo Carlos Estevam Martins, que também era parte do grupo que fundou o CPC. Na peça, Vianinha se propõe a explicar o conceito marxista da mais-valia por meio da encenação dramatúrgica.
Com a extinção do CPC, Vianinha vai participar, ainda, da elaboração e roteiro do show Opinião. O espetáculo reunia a cantora Nara Leão (substituída na edição de São Paulo por Maria Bethania), e os compositores Zé Keti e João do Vale. A ideia era, através da união de uma cantora popular de classe média, um compositor do morro carioca e um compositor nordestino, mostrar a diversidade da cultura popular nacional.
A partir daí, sempre filiado ao PCB, Vianinha continuará produzindo principalmente para o teatro, mas também para o cinema. Vianinha trabalho também como ator no teatro e no cinema.
Uma curiosidade: a série A grande família, de grande audiência na Rede Globo nas duas primeiras décadas dos anos 2000, é de autoria de Vianinha e Armando Costa. A série foi transmitida entre 1972 e 1975 e, apesar de boa audiência, foi tirada do ar, pois a Rede Globo alegou que o programa ia contra o “padrão Globo”, já que retratava a vida de personagens do subúrbio carioca.
Durante sua vida, Vianinha escreveu 13 peças, deixando um importante legado de uma dramaturgia subordinada ao povo e aos trabalhadores.