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América Latina

Venezuela recolhe embaixador no Brasil

Após veto brasileiro ao ingresso da Venezuela nos BRICS, países passam por uma deterioração de relações que pode chegar à ruptura

Na última quarta-feira (30), o governo da Venezuela convocou seu embaixador, Manuel Vadell, em Brasília, de volta a Caracas para consultas. O feito é, na diplomacia, sinal de deterioração grave na relação entre os países. Em nota, a Venezuela também informou que o encarregado de negócios da Embaixada do Brasil na Venezuela, Breno Hermann, foi chamado (a embaixadora brasileira, Glivânia Maria de Oliveira, está de férias, fora do país):

“Para manifestar a mais firme rejeição às recorrentes declarações de ingerência e grosseiras de porta-vozes autorizados pelo governo brasileiro, em particular do assessor especial para Assuntos Externos, Celso Amorim, que, comportando-se como mais um mensageiro do imperialismo norte-americano, dedicou-se de forma impertinente a emitir julgamentos de valor sobre processos que cabem apenas aos venezuelanos e venezuelanas e suas instituições democráticas, o que constitui uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem ambos os países.”

“Da mesma forma, manifestamos o nosso total repúdio pela atitude antilatino-americana, contra os princípios fundamentais da integração regional, expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), bem como na longa história de unidade da nossa região, consumada no veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos BRICS em Kazan, com o qual a Venezuela foi excluída da lista de membros associados convidados dessa organização.”

A Venezuela ainda denunciou “o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariamente à aprovação dos outros membros do Brics, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva de todo o povo venezuelano”.

“Foi expresso que a Venezuela reserva, no âmbito da sua política externa, as ações necessárias em resposta a esta atitude, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto que até agora tinha sido desenvolvido em todos os espaços multilaterais.”

O agravamento das tensões entre os países pode resultar em uma ruptura. Um passo seguinte à convocação do embaixador venezuelano em Brasília seria decidir o não retorno de Vadell ao Brasil e, por último, a expulsão do corpo diplomático brasileiro do país. Neste caso, ambos os países romperiam, oficialmente, relações diplomática. O mesmo aconteceu recentemente entre Venezuela e vários vizinhos latino-americanos, em especial aqueles sob ingerência do imperialismo, entre eles Chile, Argentina, Peru, Panamá, Uruguai, Equador e Paraguai.

Diplomacia brasileira à beira do golpismo

A iniciativa de Caracas, contudo, é resposta a uma ofensiva por parte da diplomacia brasileira. Na última terça-feira (29), o principal assessor do presidente Lula, Celso Amorim, admitiu um “mal-estar” entre os dois países, um eufemismo considerável.

Segundo Amorim, em audiência na comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados: “a reação à não entrada da Venezuela no BRICS é totalmente desproporcional”.

Como é de conhecimento da diplomacia brasileira como um todo e a Celso Amorim e a Lula em particular, a Venezuela enfrenta constantemente uma ofensiva golpista pelo imperialismo, algo que se intensificou após as eleições recentes no país sul-americano. O bloqueio à entrada venezuelana nos BRICS é, nesse sentido, um ataque ainda maior do que seria em condições naturais. De acordo com Maduro, que vem poupando Lula de críticas diretas:

“O Itamaraty tem sido um poder dentro do poder do Brasil há muitos anos. Sempre conspirou contra a Venezuela.”

Conforme Celso Amorim, o motivo do bloqueio foi que “o Brasil achou que neste momento a Venezuela não contribui para um melhor funcionamento do BRICS”. Para o diplomata, a decisão não teria sido ideológica, porque para o Brasil referendar o ingresso de um país no bloco, ele precisaria ter influência e ajudar a representar a região:

“E a Venezuela de hoje não preenche essas condições, na nossa opinião. Isso não foi um veto, foi expresso. Lá, as decisões são por consenso.”

Logo depois, Celso Amorim entregou o jogo: “o Brasil concordou com Cuba e não concordou com a Venezuela”. Uma demonstração de que o problema para o imperialismo é a importância econômica da Venezuela e de suas gigantescas reservas de petróleo. “Porque existe esse mal-estar — que eu mesmo estou dizendo aqui e estou repetindo —, que eu espero que possa se dissolver à medida que as coisas se normalizem”, disse, ainda, o diplomata brasileiro.

Essa normalização, segundo ele, está ligada ao processo eleitoral. Amorim deixou claro que o Brasil não reconhece a eleição venezuelana. Ou seja, conforme escala a agressão imperialista, escalam as exigências da diplomacia brasileira contra o governo alvejado. Amorim deu ainda uma declaração para desviar de sua responsabilidade e postura de tipo golpista:

“O Brasil não reconhece governos. O Brasil reconhece Estados. Se o país quiser ter uma influência positiva é (preciso) manter uma interlocução. Nós estamos mantendo uma interlocução.”

A interlocução do Brasil, no caso, seria uma ofensiva diplomática e econômica, situação levada à frente na cúpula dos BRICS.

Declarações cada vez mais agressivas

A posição da diplomacia brasileira abriu caminho para uma ofensiva da imprensa pró-imperialista, o que levou Celso Amorim a uma série de declarações contra Caracas:

“Se a Venezuela é uma ditadura, eu acho que hoje em dia nós somos muito críticos da Venezuela, mas não acho que seja um esporte rentável ficar classificando os países.”

“Se romper com todo mundo, não vai falar com ninguém. Não estou defendendo o governo da Venezuela, não estou falando que é democracia ou não é.”

“O mal-estar existe, mas se quisermos alguma influência num processo de democratização, precisaremos de interlocução”, disse na Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Justificando a injustificável posição brasileira, ao bloquear a Venezuela nos BRICS, afirmou Amorim:

“Houve uma quebra de confiança nele [Nicolás Maduro] no processo eleitoral, porque nós apostamos muito em determinada coisa. Algo nos foi dito e não foi cumprido […] Perguntei: ‘E as atas, presidente’? E ele disse: ‘As atas serão publicadas como sempre ocorre’. E não ocorreu.”

Vale lembrar que o argumento das atas é uma justificativa que, em si, se constitui numa ingerência do governo brasileiro sobre a Venezuela, já que se trata de um processo interno do país. É uma medida que segue a política do imperialismo para o país latino-americano.

Confirmando essa tendência, sobre a guerra da Rússia contra a OTAN na Ucrânia, o diplomata disse que: “não há preferência, de maneira alguma, pela Rússia. O Brasil votou pelas resoluções que condenaram a invasão da Rússia”. Além disso, sobre o genocídio cometido por “Israel” na Faixa de Gaza, disse que “não há sintomas de antissemitismo” do governo brasileiro. Segundo ele, há críticas pontuais a governos.

Contenção

Demonstrativo da deterioração das relações bilaterais, ainda no início de setembro, Lula havia declarado:

“Eu acho que o comportamento do Maduro é um comportamento que deixa a desejar. Eu acho que, aqui no Brasil, a gente aprendeu a fazer democracia, sabe, com muito sofrimento. E você veja que quando o cara é extremista, ele não aceita.”

O governo venezuelano classificou em 24 de outubro o veto brasileiro como uma “agressão”. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano disse que o governo Lula manteve “o pior” de Jair Bolsonaro (PL). Segundo documento de Caracas, a decisão brasileira “contradiz a natureza e a postura” do bloco e nenhuma “artimanha” será capaz de mudar o curso da Venezuela, um país “livre e sem hegemonismos”, ou seja, soberano.

Maduro, na última segunda-feira, 28 de outubro, disse esperar que o presidente brasileiro se pronuncie sobre o veto do Brasil à entrada venezuelana no BRICS:

“Prefiro esperar que Lula observe, esteja bem informado sobre os acontecimentos, e que ele, como chefe de Estado, em seu momento, diga o que tem de dizer”, declarou em entrevista transmitida pela TV pública da Venezuela.

Ainda na última quarta-feira, em meio ao imbróglio diplomático, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, afirmou que seria apresentada uma moção para declarar o diplomata Celso Amorim como “persona non grata” no país.

“Ou ele [Amorim] nos respeita ou faremos com que nos respeite. Pediremos ao plenário da Assembleia Nacional que o declare persona non grata e não nos importamos com os compromissos ou conciliações que alcançou com os seus mestres do norte.”

Rodríguez também disse que, em recente visita de Amorim a Caracas, “parecia mais um enviado do conselheiro dos Estados Unidos [Sullivan] do que de Lula”.

“Em todas estas conversas, curiosamente, nós notamos uma frase que se repetia como uma ladainha, como um bordão: ‘Jake (Sullivan) pensa isto’, ‘Jake pergunta aquilo’, ‘Jake mandou dizer tal coisa’, ‘antes de vir falar com vocês eu falei com o Jake’. Tantas vezes que nós nos perguntamos se ele estava fazendo aquilo como enviado do presidente Lula ou do conselheiro da Casa Branca”, relatou.

Jorge Rodríguez destacou que as críticas são específicas à pessoa do diplomata Celso Amorim e que “a Venezuela respeita as instituições do Estado da República Federativa do Brasil”.

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