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América Latina

Venezuela: a união da esquerda golpista – parte 2

“Não é preciso defender Maduro e além disso ele é um ditador”, dois argumentos pseudo esquerdistas para defender o golpe de Estado

A tentativa de golpe de Estado na Venezuela contra Nicolás Maduro teve um impacto muito grande na esquerda. De um lado os tradicionais defensores de Maduro ficaram acuados, é o caso do presidente Lula. De outro, os que sempre foram contra Maduro que faziam a campanha do imperialismo antes mesmo da atual investida, voltaram a criticar o governo com afinco. É o caso do texto publicado no A Terra é Redonda “Venezuela — a divisão da esquerda”. Esta é a segunda parte da crítica a esse texto. A primeira pode ser lida neste Diário.

Já que os autores estão contra Maduro e supostamente contra o imperialismo eles têm de apresentar uma tese que estão ao lado dos trabalhadores. Então começam o texto: “a análise da situação da classe trabalhadora venezuelana como base da análise de esquerda é substituída, pelos pró-Maduro, pela moda da ‘geopolítica do petróleo’. Essa geopolítica binária só vê a contradição imperialismo versus estado venezuelano (sem dúvida uma contradição importante da realidade). Não tem dialética suficiente para levar em conta, num cenário de múltiplas contradições, a situação material e política das trabalhadoras e das camadas populares, suas aspirações e opções”.

Supostamente os defensores de Maduro não compreendem a luta de classes. De fato, alguns podem não compreender. Mas os autores do texto certamente a compreendem ainda menos se não estão defendendo o governo Maduro contra o golpe de Estado. A oposição imperialismo contra um governo de um país oprimido é importantíssima. Ela é, na verdade uma expressão de uma luta maior, que é a luta primordial, imperialismo contra a classe operária. Quando o imperialismo derruba um governo quem mais sofre é a classe operária, ela é, na verdade a vítima.

Vejamos o caso do Brasil. O imperialismo derrubou o governo do PT. Quem mais sofreu foi o PT como partido? Foram as pessoas que compunham o governo? Não, quem mais sofreu foi a classe operária que foi a grande vítima das políticas de Temer e Bolsonaro. O imperialismo quando avança sobre um país oprime mais a sua classe operária. No Brasil roubaram o petróleo, quem sofre as consequências? A classe operária. Aprovaram a reforma da previdência, quem sofre? a classe operária. O golpe é contra o governo, mas a vítima são os trabalhadores.

Quando colocado dessa forma fica ainda mais claro porque até governos de direita devem ser apoiados em caso de golpe de Estado. Na Ucrânia o golpe de 2014 levou a atual situação que é de catástrofe total para os trabalhadores. No Iraque a derrubada de Sadam Hussein destruiu completamente o país, até hoje o Iraque não se recuperou.

Esse é o principal ponto que a esquerda golpista não entende. Se é o imperialismo atuando de um lado, não importa quem seja seu alvo aparente, se é um governo, uma empresa, um direito democrático. Quem está sendo atacado é a classe operária. Levando isso em consideração os demais argumentos que atacam Maduro como direitista perdem totalmente seu valor.

Maduro, o repressor?

O texto então tenta provar que Maduro é um repressor, uma especie de ditador. É uma versão esquerdista do que diz a imprensa burguesa. Ele afirma: “pouco importa para esses ‘progressistas’ a repressão à organização sindical e política dos trabalhadores e do povo, nem que Nicolás Maduro tenha impedido qualquer setor à esquerda do PSUV de participar das últimas eleições do país — mesmo à custa de infiltrar, judicializar e agredir a liderança do Movimento Eleitoral Popular (MEP), do Partido Pátria para Todos (PPT), dos Tupamaros e do próprio Partido Comunista da Venezuela (PCV) para intervir nele!

Aqui existem duas questões. A primeira é que é questionável que o governo tenha reprimido esses partidos. O PCV por exemplo denuncia que houve intervenção judicial mas não fica claro se não foi um racha do partido que se ligou ao governo. Outra questão é que se os partidos estão fazendo uma campanha golpista contra Maduro durante o golpe. Isso abre margem para uma repressão.

De uma repressão questionável ele passa para outra: “os partidários de Nicolás Maduro omitem que o governo, após 28 de julho, intensificou a repressão, não mais sobre a classe média, mas fundamentalmente aos setores populares, enviando cerca de 2.500 jovens para a prisão com um discurso de reeducação, o que significa submetê-los a rituais públicos vexatórios de lavagem cerebral transmitidos pelas redes oficiais”.

As manifestações após a eleição foram organizada pela direita fascista. Se foram elas as reprimidas é preciso deixar claro que a repressão não foi grande. Não há vídeos ao estilo do que existe no Brasil de 2013 por exemplo. Segundo, não foram setores populares. Os estudantes muitas vezes são utilizados pela direita como base para uma política golpista. Em Bangladexe o movimento de estudantes apareceu com destaque durante o golpe.

Da repressão falsa então o texto chega a repressão ridícula: “passam ao largo da prisão de vários políticos da oposição e das ameaças diretas na televisão a outros — como o ministro do ‘martelo’, Diosdado Cabello, fez com o ex-prefeito de Caracas Juan Barreto, ou com Vladimir Villegas, irmão do ministro da Cultura e de uma presidenta de comissão parlamentar. Se a ameaça a figuras públicas é assim, ela é pior nos territórios de pessoas comuns que não são figuras da mídia”. Há um problema com a repressão à oposição fasicsta, ela é muito pequena. Os líderes fascistas financiados pelos EUA deveriam ter punições muito mais severas.

Os autores chegam no identitarismo: “vimos o envio de forças de segurança à paisana para ameaçar ativistas — como aconteceu em 10 de julho contra Koddy Campos e Leandro Villoria, líderes da comunidade LGBTQI em Caracas. Como vimos nos dias seguintes no tradicional reduto chavista de 23 de fevereiro, em Caracas, em que casas de ativistas foram marcadas, por gente do governo, com um X de Herodes, para amedrontar contra a possibilidade de manifestações”.

O primeiro argumento já começa a aparentar a propaganda do Partido Democrata dos EUA. Maduro seria agora um homofobico. É o tradicional identitarismo golpista. O segundo é ainda mais bizarro. No grande reduto chavista haveria uma repressão do governo. Qual é a lógica disso? Fica claro que essas denúncias de repressão são uma tentativa muito ruim de taxar Maduro de ditador, de cair na campanha da imprensa burguesa. Na América Latina há Milei, há o governo do golpe no Peru, há Bukele em El Salvador, há Noboa do Equador, isso sim são governos repressores. É ridículo comparar esses reais de governos repressivos com a Venezuela.

Juntando os dois tópicos discutidos fica claro que o texto tem uma posição a favor do golpe de Estado. Primeiro afirma que não é preciso defender Maduro contra o imperialismo. Depois afirma que Maduro é um ditador, ou seja, repercute a campanha do imperialismo. Colocando assim fica claro que a esquerda que assume essa posição age como linha auxiliar do Partido Democrata dos EUA.

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