Nesta segunda-feira (1), a indústria de armamentos Avibras noticiou o avanço nas negociações com a empresa australiana DefendTex, argumentando que a venda é “crucial” para sanar a dívida de 600 milhões da indústria brasileira. A empresa que já tem seis décadas de história está prestes a se juntar ao complexo bélico australiano.
A Avibrás produz drones, aeronaves e outros veículos espaciais com fins civis e militares. Assim sendo um ativo estratégico para o Brasil. O professor Ronaldo Carmona, especialista em Geopolítica da Escola Superior de Guerra, em entrevista à Carta Capital, classificou como “muito grave” a venda da empresa, alegando que a aquisição dos australianos da Avibrás colocaria o Brasil em contramão do mundo, ao não proteger seu complexo militar e tecnológico.
“O mundo inteiro coíbe, por um lado, a desnacionalização de empresas tecnológicas e da base de defesa e, por outro lado, busca apoiá-las, sobretudo com o seu poder de compra, para que se mantenham saudáveis”, explica. “Os produtos de defesa não são vendidos no mercado privado, são vendidos aos governos.” – afirmou Carmona
Carmona também destaca a posição política da Austrália que, recentemente, se aliou aos Estados Unidos, Áustria e Inglaterra, firmando a aliança AUKUS, que prevê a transferência de tecnologia para a construção de um submarino de propulsão nuclear na Austrália. Além de combater a China na atual crise política na região Ásia-Pacífico, onde está sendo disputado o Mar do Sul da China. O acordo firmando entre os três países é o maior desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
“Confirmada a compra, a empresa australiana já teria, de cara, acesso à tecnologia do chamado NPC, o principal míssil desenvolvido no Brasil, com alcance de 300 km/h, e que poderia ser convertido para equipar esses submarinos”, destaca.
Essa tecnologia, destaca, não é algo que se adquira facilmente no mercado global; geralmente, é resultado de desenvolvimento próprio, como o Brasil fez. Carmona, afirma que a crise da Avibras reflete a insuficiência sistêmica dos investimentos em defesa no Brasil, com um orçamento insuficiente para um país da estatura do Brasil:
“O orçamento de investimento das Forças Armadas em 2023 foi de 6 bilhões de reais, uma posição bastante baixa”.
Os generais entreguistas não defendem a Avibrás
O Brasil, um país de proporções continentais, em sua história foi capaz de produzir computadores, celulares e até mesmo carros 100% nacionais (veja-se o caso Gurgel), fabricados inteiramente em solo nacional. Porém, todos os projetos foram sabotados pelo imperialismo, que visa obstaculizar o desenvolvimento dos países de capitalismo atrasado, sobretudo, aqueles que não foram fragmentados, ou seja, que oferecem um maior risco ao julgo imperialista. O caso da Avibrás, pioneira na indústria bélica brasileira, ilustra a enorme capacidade dos brasileiros em produzir tecnologias de ponta, estas, almejadas por países ricos. A venda, ou melhor, a entrega dessas empresas, além de impedir o desenvolvimento nacional, representa o quão drenado é o Brasil pelo imperialismo.
Os autodeclarados militares “nacionalistas”, responsáveis por parte do processo de venda da Avibrás, estão entregando mais uma indústria do complexo industrial bélico brasileiro para os estrangeiros. Os mesmos, entregaram a Base de Alcântara aos norte-americanos na Amazônia. É necessário denunciar incansavelmente a entrega das riquezas nacionais ao imperialismo. Todas as indústrias brasileiras devem ser estatizadas e reestatizadas, em prol do desenvolvimento nacional do país. Os trabalhadores devem defender a estatização para não ficar sobre o julgo dos capitalistas internacionais, que visando o lucro, pagam salários de fome aos operários.
A classe operária é o caminho da soberania
Enquanto os militares, que naturalmente seria os defensores da soberania nacional da indústria bélica, nada fazem, apenas um setor da sociedade defende a política correta para a Avibrás, a classe operária. Os trabalhadores da indústria estão em uma mobilização permanente pelos seus direitos há meses. E mesmo tendo como primeiro interesse os seus interesses de classe, a sua conclusão política é a melhor para a nação brasileira. Eles defendem a estatização da Avibrás.
Os cerca de 1.200 trabalhadores da Avibrás estão em greve desde setembro de 2022. Já foram 11 salários atrasados. Em março de 2022 houve a demissão em massa de 420 operários, 30% do efetivo. A luta sindical conquistou uma vitória e esses trabalhadores foram transferidos para o chamado regime layoff, mesmo assim nada foi resolvido, pois todos os salários estão atrasados.
O presidente do sindicato Weller Gonçalves afirmou durante um protesto que ocupou a fábrica: “o protesto de ocupação também ocorre para chamar a atenção das autoridades, principalmente do governo federal, que tem responsabilidade nessa situação. Estamos diante de uma crise na principal empresa do setor de Defesa do Brasil, com importância estratégica para a soberania nacional. O governo não pode fechar os olhos para isso”.
Por fim, um comentário sobre a importância da classe operária assumir o controle da empresa. Como citado acima, está claro que o imperialismo irá usar a tecnologia desenvolvida pelo Brasil para atacar a China. É o método tradicional imperialismo, dominar um país e usá-lo para atacar outro que deseja dominar. O controle operário da indústria bélica é necessário para que ela nunca seja usada a favor do imperialismo, seja contra a própria classe operária do Brasil, seja contra nações amigas.