Estados Unidos

Valter Pomar: a reboque dos monstros democratas

Dirigente da Articulação de Esquerda desenvolve a sua própria tese do "mal menor"

No texto O PCO e Trump, Valter Pomar, incapaz de responder à crítica de que ele estaria a reboque do Partido Democrata norte-americano, reclamou de que este Diário teria apresentado uma “interpretação mentirosa” de seu ponto de vista. Apresentemos, então, não uma “interpretação”, mas uma citação literal do que diz o dirigente da Articulação de Esquerda:

“O que eu disse e repito é que, do ponto de vista da política brasileira, a vitória de [Donald] Trump ajuda o bolsonarismo. O que não quer dizer que a vitória de Kamala Harris ajude a esquerda brasileira”.

Essa mesma ideia é apresentada em outro momentos, durante entrevistas suas À TV 247:

“Eu não acho que, se [Joe] Biden ganhasse as eleições, mudaria a nossa situação política e social substancialmente [grifo nosso]. O que realmente tem de relevante é que a extrema direita vai bater bumbo se Trump ganhar” (Contramola, com Valter Pomar: Atiraram no Trump, acertaram no Biden? (15.07.24)).

“Tanto Trump quanto Biden vão causar sérios problemas no Brasil, sendo que Trump causa um problema adicional [grifo nosso], que é reforçar dentro do Brasil as posições cavernícolas [pró-Jair Bolsonaro (PL)]” (Contramola, com Valter Pomar – Biden desistiu. E agora? 22.07.24).

A gente não deve baixar a guarda e esperar coisa boa de quem quer que ganhe. Claro que, para nós, brasileiros, por conta das ligações entre o cavernícola [Jair Bolsonaro] e Trump, é melhor que Trump perca [grifo nosso]. Mas isso não significa que a derrota do Trump seja a vitória da esquerda” [idem]

Não importa se Pomar não tem coragem de dizer abertamente se quer que Kamala Harris seja a próxima presidente dos Estados Unidos. Também dizer que os brasileiros não devem esperar “coisa boa” do Partido Democrata não é relevante. O que importa é se, diante da atual disputa no país mais importante da ordem mundial, Pomar é capaz de denunciar os maiores inimigos da classe operária e da humanidade de conjunto. Nisso, ele falha miseravelmente.

Dizer que “é melhor que Trump perca” é apenas uma forma envergonhada de Pomar admitir que a sua adversária, Kamala Harris, é o “mal menor” dessas eleições. É o mesmo que dizer aos brasileiros que a  vitória do Partido Democrata trará menos prejuízo que a vitória do Partido Republicano. Neste sentido, Pomar não precisa fazer como a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), que, achando que vivia nos Estados Unidos, prometeu “eleger” Kamala Harris. Na medida em que ele não apresenta o Partido Democrata como o que há de pior nas eleições norte-americanas, ele está, inevitavelmente, aderindo à campanha do Partido Democrata. Está capitulando diante da grotesca operação do imperialismo norte-americano que consiste em apresentar Kamala Harris como uma “aliada” dos oprimidos em todo o mundo. Ao não dizer claramente: “abaixo a farsa Kamala Harris, pois os maiores inimigos dos brasileiros estão por trás de sua candidatura”, Pomar está dando aos maiores genocidas do planeta a oportunidade de serem bem recebidos nas fileiras da esquerda. Está dando aval a todo oportunista que, diante do pretexto de que “é melhor que Trump perca”, convide para seu palanque os apoiadores da genocida de saias Kamala Harris.

Que Kamala Harris é a principal inimiga a ser combatida, ninguém que conheça a história do movimento operário deveria ter qualquer dúvida. Em 1899, depois de os partidos operários já terem passado por um conjunto de experiências desastrosas, na qual setores dirigentes partiram para uma aliança com a burguesia, o revolucionário alemão Wilhelm Liebknecht descreveu com precisão qual era a política a ser seguida diante de disputas como a que se vê hoje nos Estados Unidos. E ele não poderia ser mais claro: o falso amigo é sempre o pior inimigo. “O inimigo é mais perigoso quando ele vem como amigo à fortaleza, quando se esgueira sob a cobertura da amizade, e é reconhecido como amigo e camarada”. Ignorando a lição de Liebknecht, Pomar abre as portas para o Partido Democrata, lhe oferece uma taça de vinho e diz: bem-vindo seja, ó, tu, que não estás alinhado com o “cavernícula”.

Valter Pomar pode achar que seu apoio aos inimigos da humanidade ficaria menos vergonhoso por dizer que “a derrota de Trump não seja a vitória da esquerda”. Isso, no entanto, torna tudo ainda mais vergonhoso. Afinal, aqui Pomar reconhece que aquilo pelo que ele torce – a derrota de Trump – não fará a esquerda avançar. E se não fará a esquerda avançar, fará com que, necessariamente, outro setor avance. Para Pomar, portanto, a vitória da Chevron, da CIA e da AIPAC seria “o melhor para o Brasil”. Como um pequeno burguês histérico, com medo do trumpismo, Pomar está pronto para se agarrar ao imperialismo como um bote salva-vidas, ainda que, para isso, tenha de abrir mão de um programa que permita a esquerda avançar.

É por isso que, no texto O PCO e Trump, Valter Pomar recorre a um expediente infantil dos adversários do Partido da Causa Operária. Pomar acusa o PCO de “passar o pano em Trump”. Ou seja, acusa o PCO de, assim como Wilhelm Liebknecht, apresentar aos trabalhadores a candidatura de Kamala Harris como o que há de mais pernicioso no planeta. O expediente utilizado por Pomar apenas tem um único objetivo, o final das contas: rotular a política revolucionária como “trumpista” para que ele possa livremente “passar pano” para a candidatura de Kamala Harris.

Pomar, por exemplo, acusa a candidatura de Trump de ser “monstruosa”. E a de Harris, não é? E o governo Biden, não é?

A candidatura democrata, além de ser mais perigosa que a candidatura de Trump porque confunde os trabalhadores (com a ajuda de esquerdistas como Pomar), é também mais monstruosa. Os democratas são os representantes das petroleiras e do complexo industrial militar norte-americano. Isto é, da maior máquina de guerra que a humanidade já viu. Uma máquina que também é representada pelo Partido Republicano, como o foi durante o governo de George Bush, mas que tem uma série de contradições com a figura de Donald Trump, que representa um setor com maiores restrições aos danos causados pela política agressiva do imperialismo norte-americano. Não é à toa que Trump tenha se posicionado, em mais de uma oportunidade, contra a continuidade da guerra da Ucrânia e mesmo contra a continuidade da guerra na Faixa de Gaza.

Donald Trump e o setor que representa, por mais sanguinário que seja, por mais que possa se envolver em futuras guerras genocidas, não tem a mesma determinação política que os democratas. O assustado Valter Pomar, ao se preocupar apenas com a “monstruosidade” de Trump, e não com a do Partido Democrata, confunde ideologia com estrutura política. O dirigente da Articulação de Esquerda, assim, se alinha ao cinismo da imprensa capitalista, para quem mais importa o discurso de um burocrata do governo norte-americano do que as bombas que ele arremessa sobre as tendas em Rafá.

Essa concepção infantil da política, em que as palavras e as intenções são mais importantes que a ação e a estrutura política, faz com que Pomar também não consiga compreender o que acontece em seu próprio País. Apoiar Kamala Harris em nome de um enfraquecimento do bolsonarismo não apenas é criminoso, uma vez que coloca os trabalhadores a reboque do imperialismo, mas também parte de uma avaliação completamente equivocada.

Quem derrubou a presidenta Dilma Rousseff em 2016? Foi a CIA, as petroleiras e os mesmos setores que hoje apoiam Kamala Harris. Mais do que isso: foi um governo do Partido Democrata. Mais ainda: foi o governo no qual Joe Biden era vice-presidente, e no qual ele ocupava um papel importante em sua política externa. Esse mesmo governo, anos antes, havia se envolvido em um escândalo de espionagem, no qual Edward Snowden revelou que os Estados Unidos monitorava empresas brasileiras, como a Petrobrás, e o próprio governo brasileiro. Esse mesmo governo, em 2018, colocou o hoje presidente Lula na cadeia.

Só por esses dados, Pomar deveria concluir que, sem a intervenção dos amigos genocidas de Biden e Harris, não haveria bolsonarismo no Brasil. Mas há mais: esses mesmos senhores foram quem permitiram que Bolsonaro fosse eleito em 2018. E que, nos dias de hoje, mantêm o bolsonarismo vivo para que exerçam uma pressão para que o governo Lula não se choque com o programa neoliberal.

A aliança dos democratas com a extrema direita não está restrita ao bolsonarismo. Quem colocou Javier Milei na presidência da Argentina, se não os democratas? Quem colocou Daniel Noboa na presidência do Equador? Quem colocou Nayib Bukele na presidência de El Salvador? Não foi Donald Trump. E não há porque acreditar que Kamala Harris represente, em qualquer medida, um freio a essa política.

Não bastasse tudo isso, ainda há as monstruosidades na Faixa de Gaza. O Partido Democrata, que seria o “mal menor” para o sábio Valter Pomar, não parece ser um mal tão menor assim no Oriente Médio. Graças ao apoio do governo Biden, “Israel” já assassinou diretamente, por meio de bombardeios, 20 mil crianças! Pomar teria apenas que explicar por qual motivo ele acredita que o Partido Democrata não faria o mesmo no Brasil…

O fascismo é um recurso da burguesia imperialista que sempre será utilizado em momentos de crise. Foram os democratas, por exemplo, que montaram toda a estrutura fascista que hoje sustenta o regime ucraniano. Afinal, em toda a história, o fascismo só conseguiu se impor como um regime de força quando teve o apoio dos banqueiros, das petroleiras, da grande indústria – enfim, daqueles que hoje estão aplaudindo a “mulher negra” Kamala Harris. E que estão colocando a seu reboque trouxas como Valter Pomar.

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