Diante de um segundo turno recheado de candidatos direitistas, o papel de um partido revolucionário é convocar uma conferência entre seus militantes e decidir o que fazer diante de tal cenário, sob um ponto de vista revolucionário, marxista.
Este não foi o caso da Unidade Popular (UP) que somente editou uma nota em seu site informando seus militantes que, diante do segundo turno nas mais variadas cidades, as posições do partido “serão definidas levando em consideração os interesses da classe trabalhadora, e não as negociatas e acordos eleitoreiros”. Ou seja, os militantes da UP estão ao Deus-dará.
As críticas feitas pelo partido até esta conclusão são verdadeiras, ou seja, que nas eleições “os candidatos e partidos dos ricos tiveram todos os recursos necessários para defender os interesses e os privilégios da classe burguesa, como votar pela retirada dos direitos dos trabalhadores, pelo corte de verbas da educação, pelo desmonte do SUS e para manter o povo pobre confinado nas periferias das cidades, sem acesso a direitos fundamentais, sem água, coleta de lixo, transporte e energia elétrica”. E que todo o processo é antidemocrático, pois “os meios de comunicação não são democráticos e são controlados por algumas famílias, que receberam concessões e dinheiro público durante os governos da ditadura militar”. Ou seja, a caracterização das eleições feita pelo partido é, em linhas gerais, correta, mas a conclusão do que fazer diante do segundo turno é um desastre.
O parágrafo final da nota da executiva nacional da UP afirma que:
“Ainda há o segundo turno em várias cidades importantes e é necessário desmascarar os candidatos do fascismo, as oligarquias e os falsos amigos do povo. Nossas posições serão definidas levando em consideração os interesses da classe trabalhadora, e não as negociatas e acordos eleitoreiros. Nossa agitação e propaganda deve continuar e se ampliar no meio do povo para agradecer os votos, desenvolver as lutas e mostrar que a UP não é um partido somente de época de eleição, mas sim de luta por um país verdadeiramente livre e democrático”.
Embora não fale abertamente assim, o que está escrito neste trecho é que qualquer candidato ou diretório da UP em qualquer segundo turno e em qualquer município pode apoiar qualquer candidato. A diretriz de declarar apoio ou não considerando “os interesses da classe trabalhadora” não quer dizer absolutamente nada, e só serve para fazer demagogia.
Um partido revolucionário, que busca ser a vanguarda das massas trabalhadoras precisa se apresentar claramente, ou seja, ter uma proposta franca do que deve ser feito diante dos acontecimentos. E, diante do segundo turno, caso o partido não tenha seus candidatos em disputa, representantes da luta revolucionária, o regular é chamar o voto nulo, tal qual fez o PCO.
Alternativas como a da UP, ou mesmo como as do PSTU, que escolheu o “mal menor” em vários segundos turnos (como São Paulo e Porto Alegre), só servem para confundir a luta geral em defesa de um programa revolucionário, marxista, independente. Sem uma posição marxista, clara e combativa, ao contrário do que se pensa, a esquerda não vai crescer, pelo contrário, será engolida pelos acontecimentos, como o demonstra o próprio Partido dos Trabalhadores.
A UP ainda lança em seu texto um suposto combate ao fascismo: “apesar de toda essa desigualdade, nossa militância enfrentou o fascismo e a extrema-direita nas ruas com muita firmeza e determinação”. Essa é outra dica para a militância da UP, quer dizer, diante do segundo turno, não votar nos candidatos de Jair Bolsonaro, e votar no outro, qualquer que seja o outro, mesmo que de direita. No fundo é a mesma tese do PSTU.
A falta de uma política revolucionária, clara e decisiva sobre o que fazer diante de casos como o do segundo turno nos municípios, e mesmo durante a campanha do primeiro turno, é o que fez a esquerda sofrer uma gigantesca derrota nas eleições de 2024. A falta dessa clareza, de uma política decisiva para mobilizar as massas, é uma das principais causas da ascensão da direita, conforme pode ser visto na votação expressiva dos candidatos ligados a Jair Bolsonaro.
Um partido revolucionário deve utilizar as eleições como propaganda de seu programa de luta, especialmente diante da ditadura que é o processo eleitoral e que resulta invariavelmente na eleição dos bandoleiros já conhecidos do regime.
Para fazer demagogia com o “mal menor” ou com o “vote pelo bem do trabalhador” não precisa de outros partidos, basta o PT, que, pelo menos, desse ponto de vista, nunca se propôs a realizar nenhuma revolução.