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Carnaval

Uma justa homenagem ao herói João Cândido

Saga do líder da Revolta das Chibatas é mostrada na Marquês de Sapucaí

Um dos destaques do segundo dia de desfiles das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, a Paraíso do Tuiuti, homenageou o líder da Revolta das Chibatas (1910), João Cândido Felisberto, com o enredo “Glória ao Almirante Negro”.

Em quase 70 minutos do desfile da Marquês de Sapucaí, a escola, com muita empolgação, cantou e contou a história da revolta comandada a partir do navio Minas Gerais que colocou a República Velha de joelhos, obrigando o governo e o congresso a acabarem com o martírio dos marinheiros, em sua maioria negros, que eram condenados a duros castigos corporais pela oficialidade escravocrata, que mandava chicotear os marujos diante de toda a tropa pelo que consideravam como indisciplina, insubordinação etc.

Veja imagens do desfile do Paraíso do Tuiuti no Carnaval 2024 - 13/02/2024 - Cotidiano - Fotografia - Folha de S.PauloAlém da epopeia da revolta em que o “almirante negro” comandou em um levante espetacular a marinha de guerra brasileira, rendendo e jogando no mar oficiais que não se renderam e apontando seus canhões para a Capital Federal e a sede do governo, o Palácio do Catete, a escola contou a traição (tradicional) da burguesia “nacional” que, depois de conceder anistia aos revoltosos, desferiu uma operação de perseguição que levou à morte de quase todos os líderes da Revolta.

Tratou também da história de sofrimento e desnorteamento político de João Cândido (que chegou a participar do movimento integralista), um dos poucos sobreviventes da vingança do regime contra os revoltosos, que até sua morte, aos 89 anos (1969), enfrentará enormes dificuldades e sobreviverá como pescador.

A Tuiuti também homenageou a magnífica música de João Bosco e Aldir Branc, “Mestre Sala dos Mares”, que imortalizou a revolta e seu líder, mesmo com a censura que, por exemplo, impediu que fosse usado, à época, o termo almirante para se referir a João Cândido.

Em um Carnaval marcado pela repressão direitista à festa popular e pelo identitarismo que procura desviar a atenção do povo trabalhador para questões secundárias e reacionárias, evitando o confronto com a decadente e reacionária burguesia e suas instituições, o show da Tuiuti se destacou, ainda que possa ser prejudicada na apuração pelas tecnicalidades e esquemas milionários que privilegiam as “super escolas de samba S.A” e seus enredos encomendados e patrocinados por empresas, governos etc.

 

Reproduzimos abaixo, na íntegra, a letra do samba de autoria dos compositores Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W. Correia:

Samba-Enredo 2024 – Glória ao Almirante Negro
G.R.E.S Paraíso do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de araras
Nascia um herói libertador
O mar, com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador

Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés

Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais

Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão
Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais
Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão

Meu nego
A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Vem ao porto em saudação
Ah, nego
A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição

O luto dos tumbeiros, a dor de antigas naus
Um novo cativeiro, mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Iemanjá com suas flores
E o cais da luta ancestral

Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba-enredo
Imortal

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de araras
Nascia um herói libertador
O mar, com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador

Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés

Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais

Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão
Ô, a casa grande não sustenta temporais
Ô, veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais
Lerê, lerê, mais um preto lutando pelo irmão
Lerê, lerê, e dizer: Nunca mais escravidão

Meu nego
A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Vem ao porto em saudação
Ah, nego
A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição

O luto dos tumbeiros
A dor de antigas naus
Um novo cativeiro
Mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Iemanjá com suas flores
E o cais da luta ancestral

Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba-enredo
Imortal

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

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